Poucos lançamentos de smartphone fizeram tanto barulho na imprensa e no mercado de tecnologia quanto o do Galaxy S8, mais novo top de linha da Samsung. Trata-se do primeiro grande anúncio da coreana após o fracasso do Galaxy Note 7 no ano passado, e, como era de se esperar, gerou muita expectativa e até certa desconfiança.
Fato é que o S8 já está à venda em muitos países e, contrariando os pessimistas, ele não explode espontaneamente (ou, pelo menos, não de forma generalizada, como era com o Note 7). Mas outras características do aparelho chamaram a atenção, começando pelo seu design inédito.
Ao contrário da maioria dos smartphones que vêm com uma proporção de tela de 16:9, o Galaxy S8 possui uma de 18,5:9. Isso significa que a Samsung conseguiu colocar uma tela muito maior do que o tradicional (5,8 polegadas) num corpo pequeno e que cabe na mão do usuário.
Mas, por outro lado, o smartphone chega ao Brasil custando nada menos do que R$ 3.999 – mais caro que o iPhone 7 de 4,7 polegadas, seu principal rival no mercado e conhecido pelos preços altos. Será que tudo o que o Galaxy S8 promete vale essa etiqueta tão extravagante? Confira na nossa análise completa pelos parágrafos e no vídeo abaixo.
Design
Começando pelo que mais chama a atenção no Galaxy S8: o visual. É claro que o valor estético de um celular pode mudar de pessoa para pessoa, mas, ainda que você não ache o S8 bonito, é preciso admitir que ele tem uma identidade visual muito característica.
As bordas curvas da tela, que já existem desde o Galaxy S6, neste ano têm um propósito muito mais claro. Como sugere a campanha de marketing da Samsung, o S8 não parece um celular normal, de modo que a tela grande e as bordas curvas realmente passam uma sensação de estar navegando pelo “infinito”.
No S6 e no S7, as bordas curvas até serviam para dar um aspecto premium aos smartphones. Mas, no S8, elas realmente acabam com a sensação de “prisão” que os telefones tradicionais carregam. Segurar e olhar para o S8 é uma experiência diferente da de qualquer outro smartphone.
Toda essa beleza não vem sem uma boa usabilidade – pelo contrário. Justamente por ser tão pequeno (em relação à tela tão grande), o S8 cabe perfeitamente bem na mão, passando muito mais segurança no manuseio do que um iPhone 7 Plus, por exemplo – que é bem maior no geral, mas tem uma tela menor.
Por outro lado, há um toque de fragilidade no S8 que é difícil ignorar. O aparelho é coberto quase que inteiramente por vidro, o que significa que, na ocasião de uma queda feia, rachaduras são praticamente inevitáveis. Isso sem falar nas marcas de dedo, que se multiplicam com o uso diário do smartphone.
Mas esses são apenas detalhes. O único smartphone vendido no Brasil que é comprovadamente à prova de quedas é o Moto X Force, da Motorola, e ele já está um pouco ultrapassado em termos de especificações. Mesmo celulares de metal ou plástico podem sofrer em caso de descuido, porque, afinal, a tela é de vidro em qualquer um deles.
A minha impressão, porém, é de que é mais fácil deixar cair um iPhone 7 Plus (ou mesmo um Galaxy S7 ou S7 Edge) do que um S8, especialmente por conta da ergonomia e da facilidade com que é possível utilizar o celular com uma mão só. Vale a pena tomar cuidado com o S8 tanto quanto com qualquer outro celular.
A Samsung merece palmas, também, por ter finalmente removido o logotipo da marca que ficava exposto na parte da frente do celular em gerações anteriores. O visual do S8, com a tela grande e bordas curvas, fala por si só, de modo que o usuário não precisa ficar encarando o nome “SAMSUNG” o tempo todo para se lembrar de quem fez o aparelho.
Por outro lado, um deslize feio no design do aparelho é o sensor de impressões digitais. Para dar espaço à nova tela, a fabricante transformou o botão Home físico (que também vinha com leitor de biometria) em um botão virtual – que, aliás, também responde a pressão fazendo uma pequena vibração, como o “falso” botão Home do iPhone 7.
Acredita-se que a Samsung queria ter deixado o leitor de impressões digitais diretamente na tela, mas não conseguiu por falta de recursos e tempo hábil. Com isso, o sensor foi parar na parte de trás, onde fica extremamente mal posicionado. É difícil encontrá-lo apenas pelo tato (você vai precisar virar o smartphone diversas vezes para achá-lo), o que acaba prejudicando também a câmera, que fica do lado do sensor e cheia de marcas de dedo por culpa dele.
Mesmo com esse pequeno (grave) erro, podemos classificar o design do S8 como “quase impecável”. Pela primeira vez, a Samsung fez um smartphone com uma identidade visual totalmente única e diferente de tudo o que já se viu no mercado de smartphones até hoje.
Tela
A tela do S8 merece um “capítulo” à parte neste review. O display de 5,8 polegadas não é apenas muito bem desenhado: ele é eficiente. Nas configurações, é possível escolher a resolução da tela, que vai desde HD+ (1.480 x 720), passa por Full HD+ (2.220 x 1.080) e vai até o WQHQ+ (2.960 x 1.440). Ou seja, melhor é quase impossível.
O celular também vem com um filtro de luz azul que pesa menos no olhar durante a noite, semelhante ao modo noturno do Windows 10. E, por incrível que pareça, até o sensor de brilho automático no S8 merece elogios. Ao contrário da maioria dos smartphones, que quase nunca conseguem regular o brilho da tela corretamente de acordo com o ambiente, o S8 faz isso melhor do que qualquer rival. Faz tão bem que eu até me esqueci de que o recurso estava ativado durante meu período de testes com ele.
Mas, como veremos mais vezes neste review, nem mesmo a impressionante tela do S8 é perfeita. As bordas curvas acabam atrapalhando um pouco na navegação com uma mão, especialmente quando tocamos a tela na lateral e acabamos acionando algum recurso sem querer. Nesses casos, a falta de uma borda mais grossa acaba prejudicando a “segurança” do touchscreen.
Vale destacar também que nem todo app está preparado para essa nova proporção de tela. O Spotify, por exemplo, roda com duas faixas pretas, uma em cima e outra embaixo, para compensar o espaço extra de display que celulares “normais” não têm. O mesmo acontece em alguns jogos, como “Super Mario Run”.
Na reprodução de vídeos, porém, o S8 é quase irrepreensível. Quando o conteúdo preenche a tela toda, surge um atalho que permite a você ajustar o formato para a proporção ideal. O próprio celular seleciona qual formato é melhor de acordo com o vídeo automaticamente, mas, se você quiser mudar manualmente, também pode.
A conclusão é de que o Galaxy S8 tem uma tela impressionante, muito bem desenhada e eficiente na reprodução de todo tipo de conteúdo. Mas não é perfeita, e nem todo mundo vai conseguir se acostumar ao formato diferente num primeiro momento. Com o tempo, porém, é difícil não gostar de navegar num display “infinito”.
Performance e hardware
Como de costume, a Samsung fez duas versões do Galaxy S8. Uma delas usa um processador Snapdragon 835, o mais potente da Qualcomm no momento, mas essa versão é vendida exclusivamente nos EUA. Por aqui, os brasileiros ficaram com um Exynos, montado pela própria Samsung, com especificações parecidas.
Somando a isso os 4 GB de RAM, temos em mãos um smartphone incrivelmente potente. O Galaxy S8 aguenta jogos pesados, abre aplicativos e permite a troca entre eles muito rapidamente, e ainda tem uma excelente performance em multitarefa. Em todos os meus dias usando o Galaxy S8, não o vi travar ou engasgar uma vez sequer.
Isso pode ser constatado também em apps de análise de desempenho. No AnTuTu, o celular fez 172.114 pontos, resultado bem próximo ao de um iPhone 7, mas ligeiramente abaixo dele e do iPhone 7 Plus (pelo menos na unidade a que nós tivemos acesso). Mas como você certamente não vai usar um celular para rodar games de PC de última geração, essa suposta “desvantagem” em relação à Apple é praticamente impossível de sentir no dia a dia.
Já no Geekbench, outro popular programa de análise de performance, o Galaxy S8 fez 1.192 pontos em single-core, que avalia o desempenho de um só núcleo do processador; e 6.724 em multi-core, que avalia o desempenho de todos os oito núcleos do chip Exynos realizando cálculos em conjunto. Todos esses números mostram um smartphone bem mais potente que o seu antecessor e no mesmo nível que os concorrentes.
Bateria
Outro fator que contribui para a performance de um celular é o desempenho da bateria. O Galaxy S8 tem uma de 3.000 mAh, que não é a melhor do mercado, mas também não é tão ruim. Nos nossos testes, conseguimos manter o smartphone longe da tomada por quase 10 horas, usando apps de redes sociais, streaming de áudio e vídeo e alguns jogos ao longo do dia.
Isso significa que, se você for do tipo que usa muito o celular, vai precisar colocá-lo para carregar pelo menos uma vez por dia (às vezes mais). A velocidade de carregamento também é razoável: levamos pouco mais de uma hora para ir de 10% a 100% de carga com o celular na tomada. Tudo isso para dizermos que há opções melhores no mercado, como o Moto Z Play, o Galaxy A9 e o Zenfone 3 Max, mas o Galaxy S8 não chega a ser uma decepção.
Software
A Samsung é conhecida por ter desenvolvido uma das interfaces mais pesadas e exageradas que o Android já recebeu, a chamada TouchWiz. Felizmente, essa customização está longe do Galaxy S8, que vem com uma versão muito mais bem polida e minimalista do sistema operacional. Os ícones e animações são menos extravagantes e mais elegantes do que nunca no novo celular.
O que não quer dizer que a Samsung acertou em cheio dessa vez. O smartphone ainda vem repleto de aplicativos pré-instalados, muitos dos quais são quase totalmente inúteis, inclusive jogos pré-carregados que ainda exigem um pesado download assim que o aparelho é conectado ao Wi-Fi pela primeira vez.
A unidade que recebemos para teste ainda veio com aplicativos, plano de fundo e uma página inteira na tela inicial dedicada à Oi. Imaginamos que isso aconteça com quem comprar o Galaxy S8 por alguma operadora, assim como ocorre nos EUA. O que, diga-se, é mais um erro grave, porque os 64 GB de memória interna prometidos na embalagem não chegam livres às mãos dos usuários.
Além disso, o smartphone não é exatamente fácil de usar à primeira vista. O Galaxy S8 tem muitos recursos interessantes e funções que diversos Androids não têm, mas a maioria deles fica escondida, enterrada em alguma seção no app de configurações, obrigando o usuário a garimpar o sistema para encontrá-las. E, convenhamos, não faz sentido deixar de chamar a atenção para funções tão úteis.
A lista delas, inclusive, vai longe: sensor de gestos no leitor de biometria, filtros de realidade aumentada na câmera, apps na lateral (tela Edge), customização das barras de status e de navegação, modo de alto desempenho para games, tela sempre ligada em baixo consumo de energia (“always-on display”), motor de vibração sob o botão Home virtual e muito mais.
O problema de um software não tão bem otimizado é que isso obriga o usuário a customizá-lo para deixar o celular mais prático. Um bom exemplo disso é o teclado nativo da Samsung, que, de tão ruim, lento e falho, obriga o usuário a instalar um outro (Gboard ou SwiftKey). Em outras palavras, você paga R$ 4.000 em um smartphone e, quando ele sai da caixa, ainda não está 100% pronto para o uso.
Ainda em termos de software, o sistema de segurança também não é perfeito. Há um leitor de íris que desbloqueia o celular apenas com os olhos do usuário, mas ele não chega a ser tão rápido e prático quanto a boa e velha impressão digital. Vale a pena destacar também que o sensor de digitais é um pouco mais lento do que o de alguns concorrentes (e mais lento também do que o do S7).
Outra decepção no software do S8 é a Bixby, assistente virtual criada pela Samsung exclusivamente para o novo celular. O aparelho vem até com um botão dedicado somente a ela. No entanto, o sistema ainda não aceita comandos de voz, e acaba se limitando a te lembrar de compromissos na agenda e alertas sobre o clima.
Mas, assim como todos os outros apps pré-instalados da Samsung, a Bixby passa praticamente despercebida. Especialmente porque ela não faz nada que o Google Now, outro assistente pessoal (mas este criado pelo Google), já não faça. O mesmo acontece com os outros aplicativos da Samsung no aparelho: são redundantes, porque fazem o mesmo que os apps do Google já fazem e aos quais os usuários já estão acostumados.
A Samsung prometeu liberar suporte a comandos de voz para a Bixby até o fim deste ano, e só quando isso acontecer poderemos dar um veredito a respeito do produto. Por enquanto, podemos dizer que, embora não seja impecável, o Galaxy S8 é o melhor da Samsung em muitos anos em termos de software. A interface do Android é simples e elegante, embora não seja muito didática. Por outro lado, os bloatwares (aplicativos pré-instalados que não podem ser apagados) continuam sendo um defeito bem chato de encarar.
Câmera
As câmeras de smartphones evoluíram tanto com o passar dos anos que, hoje, é difícil apontar uma que seja exatamente “ruim”. Entre celulares top de linha, aliás, a diferença de um iPhone 7 para um Galaxy S8 não chega a ser de qualidade, mas sim de preferência e gosto pessoal do usuário.
Dito isso, é fácil afirmar que a câmera do Galaxy S8 é certamente uma das melhores (senão a melhor) de todos os smartphones Android vendidos no Brasil. O sensor traseiro tem resolução de 12 MP e abertura de f/1.7, além de estabilização óptica de imagem e pixels maiores para registrar mais detalhes.
O resultado são fotos com cores saturadas o bastante para ficarem com um visual mais “cheio de vida”, mas não de forma exagerada, o que poderia deixar as imagens com cara de montagens. O filtro HDR corrige bem o contraste de cenas em baixa iluminação, mas não funciona tão bem em ambientes mais claros, deixando as cores um pouco “lavadas”.
A câmera frontal tem apenas 8 MP e abertura de f/1.7. As selfies tiradas com o S8 pecam um pouco nos detalhes e às vezes exageram na saturação das cores, mas, como quase sempre o objetivo da câmera frontal é produzir imagens para redes sociais, um pouco de artificialidade para deixar o rosto do usuário mais bonito não faz tão mal assim.
Há ainda filtros de realidade aumentada que deixam os rostos das pessoas fotografadas enfeitados com animais ou outras brincadeiras “estilo Snapchat”. Para os mais ávidos por redes sociais, vale a pena. Resumindo: a câmera do Galaxy S8 tira fotos muito bonitas e, na maioria dos casos, fiéis à realidade. Quando esse não é o caso, pelo menos uma boa imagem para postar no Instagram você certamente terá.
Conclusão
Nenhuma análise de smartphone está pronta enquanto não entrar no balanço final um fator determinante: o preço do produto. Fica claro, lendo os parágrafos acima, que o Galaxy S8 é um dos melhores smartphones do mercado. Mas ele vale R$ 4.000? Na minha avaliação, não.
E o motivo é simples: nenhum smartphone do mundo vale R$ 4.000. Não importa a marca. Por melhores que Galaxy S8, LG G6 e um iPhone 7 Plus sejam, eles ainda são celulares. Telefones móveis que, ainda que tenham processadores de última geração e até 4 GB de RAM, não são tão potentes quanto um notebook vendido pela metade desse preço.
Mas será que podemos dizer que, apesar de caro, o Galaxy S8 é o melhor smartphone Android do momento? Difícil responder. Ele certamente é o mais bonito, tem a melhor câmera e as mais diversas funcionalidades. Mas não tem o software mais bem otimizado e nem a bateria mais potente – pontos em que aparelhos mais baratos, como o já citado Moto Z Play, se saem melhor.
O caso é que os pontos fracos do Galaxy S8 podem ser encarados de maneiras diferentes por pessoas diferentes. Para algumas, uma bateria razoável está de bom tamanho, mas para outras é inaceitável. Há quem não se importe com o bloatware da Samsung, mas há quem faça questão de um software tão limpo quanto possível.
Em outras palavras, o Galaxy S8 é um smartphone excelente, muito acima da maioria dos modelos que temos hoje no Brasil em qualquer marca. É facilmente um dos melhores produtos já feitos pela Samsung em todos os tempos, talvez até um dos melhores smartphones já produzidos no mundo. Mas não é perfeito. E, custando R$ 4.000, ele deveria ser.