O episódio desta semana de “Mr. Robot”, exibido na quarta-feira nos Estados Unidos e nesta quinta, 25, no Brasil, é uma aula de roteiro. Mais do que isso, os acontecimentos ainda se aprofundam no lado negativo e na tensão que percorre os hackers do mundo real.

A segunda temporada se aproxima de sua reta final elevando e tensão e deixando o espectador cada vez mais ansioso. Confira nossa análise abaixo, mas tome cuidado com os spoilers se você ainda não viu o episódio. Aproveite também para recapitular a trama até aqui com nosso review do restante da temporada.

O capítulo da semana, intitulado “eps2.6_succ3ss0r.p12”, começa com um charmoso elemento recorrente nesta temporada: os flashbacks. O recurso dos roteiristas é interessante porque mostrar o passado dos personagens, antes da primeira temporada, ajuda a expandir o universo da série e ainda enche a trama com detalhes fascinantes.

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Na cena que abre o episódio, vemos Mobley conhecendo Trenton em uma unidade da cafeteria Ron’s Coffe – a mesma que Elliot invade e vaza dados sobre o dono, um suposto pedófilo, na primeira cena do primeiro episódio da série. Uma grata lembrança àquele memorável diálogo entre os dois.

O encontro de Mobley e Trenton, que estão ali pelo mesmo motivo, sem saber (conhecer Elliot e filiar-se à fsociety), é recheado de referências aos fãs de tecnologia. O primeiro, usuário de Android, debate com a segunda, fã de iOS, sobre qual sistema operacional é o melhor, com direito a chavões do tipo “menos RAM, porém mais rápido” que os fãs do iPhone gostam de repetir.

Mobley acaba facilmente enganado por Trenton, que como toda hacker curiosa o leva a instalar um malware no smartphone após visitar um site nitidamente suspeito, disfarçado como uma página de benchmarking. Fica a dúvida: se Mobley é mesmo um hacker tão talentoso, como ele caiu num golpe tão previsível?

Darlene chega em seguida e evidencia a inocência do futuro parceiro de fsociety, antes de começar a ler um texto redigido por Elliot para os dois. Quem prestou atenção deve ter notado que o texto em questão é basicamente o monólogo inicial de Elliot na série, as primeiras palavras que o personagem diz a seu “amigo imaginário” (o espectador), sobre uma conspiração envolvendo o “1% do 1%”. Outra grata referência.

Reprodução

Isso, porém, é tudo o que temos de Elliot no episódio. Depois da inesperada revelação do último capítulo, quando descobrimos que nosso herói está na cadeia desde o início da temporada, vamos ter de esperar pelo menos mais uma semana até descobrir o que essa revelação tem para adicionar à trama.

Mesmo sem Elliot, isso não quer dizer que o episódio é ruim ou monótono. Muito pelo contrário. A trama neste oitavo capítulo se concentra nos coadjuvantes mais próximos do protagonista, Darlene, Angela e o restante do fsociety, numa espécie de subtrama paralela à trama principal extremamente cativante.

A dona da casa onde a trupe montou seu quartel-general finalmente volta e os hackers precisam lidar com a situação. Mas é interessante como o roteiro nos mostra a preocupação dos personagens quanto às consequências de seus atos. Apesar de saberem que são criminosos, que invadiram uma propriedade privada e roubaram dados sigilosos de empresas, eles ainda têm dificuldade para tratar com o componente físico de suas ações.

Isso porque hackers são piratas digitais. Eles lidam com dados, bits e informações numa tela de computador, o que é bem diferente do ato físico de colocar a mão na mochila de alguém e tirar sua carteira. Ou mesmo o de apontar uma arma para alguém. Por isso a presença de Susan, a dona da casa, naquele local é tão impactante, para os personagens e para o espectador. Susan é a personificação da culpa e das consequências dos atos dos outros personagens.

Tem início então uma excelente sequência de hacking, embalada por cortes de Angela em um karaokê cantando “Everybody Wants to Rule the World”. A personagem, confrontada pela contradição que é trabalhar (e ganhar rios de dinheiro, como ela faz questão de salientar) para seus maiores inimigos, canta com uma melancolia digna de seu conflito interno.

A canção, que diz “esta é a sua vida / não há como voltar atrás / todo mundo quer dominar o mundo”, dá o ritmo para a busca de Darlene e companheiros por um ponto fraco no mundo digital de Susan, amarrada e mantida como refém na própria casa enquanto os hackers pensam no que fazer. Matar a testemunha, é claro, nem passa por suas cabeças. Estamos falando de invasores de redes virtuais, e não assassinos.

Ou será que estamos? A morte de Susan, que cai eletrocutada na piscina, evidencia um lado que ainda não conhecíamos de Darlene, a nova líder do fsociety. Como um roteiro digno de prêmios, “Mr. Robot” explora a personagem até seus limites, forçando-a a tomar decisões que mostram quem ela realmente é e do que é capaz de fazer para proteger sua revolução.

O que torna a cena toda ainda mais interessante é a postura dúbia de Darlene: afinal, ela matou Susan de propósito ou não? O roteiro não deixa claro. Trata-se de um desenvolvimento inesperado e, ao mesmo tempo, extremamente cativamente. Em “eps2.6_succ3ss0r.p12”, Darlene é a verdadeira personagem principal, no lugar do seu ausente irmão Elliot.

Neste ponto, o episódio volta a se concentrar na relação entre os coadjuvantes mais próximos, os membros flagelados do fsociety. Uma sequência de dar calafrios no espectador coloca Mobley e Trenton para encarar a tensão e o medo de serem descobertos a qualquer instante, em que cada som fora do normal pode ser de um agente do FBI ou do Dark Army à espreita. Um suspense digno de Alfred Hitchcock e uma sensação bem conhecida entre os hackers mais ousados no mundo real.

O que nos leva às perguntas deixadas pelo fim do capítulo. O que Cisco quer com Darlene e quais são os planos do Dark Army? Afinal, quão perto está Dominique e o FBI de encontrarem os responsáveis pelo ataque de 9 de maio? O que aconteceu com Mobley, que desapareceu a caminho do encontro com Trenton? A segunda temporada chega perto do fim deixando os fãs cada vez mais ansiosos pela sua conclusão.

“Mr. Robot” é exibido no Brasil pelo canal Space, toda quinta-feira, às 23h20.