Com o crescimento do Prime Video e produções como ‘The Boys’, ‘American Gods’ e, mais recentemente, ‘Gangs of London’ tomando as manchetes, a Amazon está armando todas as frentes para encarar a pirataria de seus serviços.
Uma nova patente registrada pela empresa pode virar a batalha a seu favor, ao permitir que informações identificáveis sejam encodadas em gravações e streamings ilegais de seus produtos e, consequentemente, levando a empresa à fonte da transmissão irregular.
A documentação enuncia a tecnologia como “Encodando Identificadores em Dados Manifestos Customizáveis”. O texto é extremamente técnico, já que tal tecnologia pode ser usada para uma série de finalidades, mas é na proteção ao conteúdo privado que a coisa se torna mais interessante, conforme o gráfico abaixo:
Gráfico mostra funcionamento prático de nova patente antipirataria da Amazon. Imagem: Amazon/Divulgação
Em miúdos: um assinante do Amazon Prime Video faz uma gravação ilegal da série ‘The Tick’. Esse assinante tem uma identificação exclusiva (ID:1011) que, quando começa a reproduzir legalmente, a série tem atribuída a esta ação um “dado manifesto customizado” (126). Essas informações são lidas por um Amazon FireTV (124), que faz a requisição dos dados de vídeo e decodifica fragmentos dele diretamente do servidor (122). Até aqui, tudo normal.
Quando o assinante faz uma gravação, digamos, com uma câmera apontada para a TV, isso inclui um código ou marca que faz o apontamento para o dado manifesto no parágrafo acima. “Sem que ‘102’ perceba, porém, um padrão da informação 110 é encodado em pelo menos algumas partes dos fragmentos de conteúdo (ex.: 112-118), identificado pelo dado manifesto 126 e recuperável como uma versão (132) que pode identificar o usuário102 como a fonte do episódio gravado”, diz a Amazon.
De forma mais simples, a empresa está criando uma espécie de “marca d’água”, que é, ao mesmo tempo, visível (para ela) e invisível (para o “pirateiro”). Essa identificação se sobrepõe mesmo em gravações caseiras, permitindo que a Amazon não impeça o streaming pirata, mas encontre a sua fonte e, a partir disso, tome as medidas cabíveis.
“É preferível que, em algumas implementações, essa sobreposição representativa da informação de versão [dos dados] seja imperceptível ao olho humano”, explica a Amazon. “Não somente isso dificulta para que pirateiros de conteúdo a detectem, alterem, removam ou a derrotem de qualquer forma, ela também assegura a qualidade do conteúdo de vídeo sendo marcada com um identificador de versão que não esteja significativamente degradado”.
‘The Boys’, uma das séries mais populares do Amazon Prime Video, pode ganhar medida antipirataria bastante consistente. Imagem: Amazon/Divulgação
A marca d’água que mencionamos não ficaria na tela, ou no arquivo de vídeo, necessariamente, mas sim na coleção de dados dele dentro do servidor da Amazon. Desta forma, a sua aplicabilidade torna-se mais individualizada. Segundo a Amazon, isso deve proteger seus conteúdos próprios, mas também pode ser licenciado ou oferecido a outras empresas do setor, como Netflix, Disney+ e similares.
Apresentações ao vivo
Mais além, a medida também vale para apresentações ao vivo: a NFL, liga de futebol americano mundialmente famosa pelo Superbowl, é uma das maiores lutadores da pirataria de seus eventos. Pela legislação de alguns estados dos EUA, nem mesmo bares esportivos podem exibir seus jogos normalmente, sendo obrigados a adquirirem pacotes pay per view específicos. No Brasil, o Premiere (futebol) e as lutas de MMA (Canal Combate, da Globosat) também sofrem com isso.
Neste caso, além dos identificadores mencionados acima, as exibições piratas podem também acabar marcando outros detalhes, como a localização do usuário irregular: “É importante ressaltar que o termo ‘dado manifesto customizado’ não é limitado ao nível de especificidade correspondente aos indivíduos descritos no contexto antipirataria. Por exemplo, em um cenário de transmissão [de um jogo] da NFL, o dado manifesto customizável pode ser implementado dentro de uma geografia específica”, diz trecho da patente.
Por ora, essa patente não é muito mais do que isso: uma patente. Normalmente, registros do tipo levam anos até se tornarem produtos específicos – e, em alguns casos, nunca se tornam. Entretanto, com a pandemia nos forçando a ficar cada vez mais em casa e o público mais dependente do streaming e eventos em pay-per-view, não seria surpresa nenhuma se a Amazon tornasse a veiculação dessa tecnologia uma prioridade.
Fonte: TorrentFreak