Amazon rastreia produtividade dos trabalhadores. E os dispensa por isso

Sistema da empresa avalia todos os indicadores de cada profissional. Muitas vezes, nem o supervisor é consultado antes de a dispensa ser definida
Roseli Andrion26/04/2019 23h17, atualizada em 26/04/2019 23h30

20190227085155

Compartilhe esta matéria

Ícone Whatsapp Ícone Whatsapp Ícone X (Tweeter) Ícone Facebook Ícone Linkedin Ícone Telegram Ícone Email

Muita gente gosta de comprar da Amazon. Afinal, ela oferece variedade de produtos, entrega rápida e atendimento de qualidade nos diferentes países em que atual. Só falta dizer que as condições de trabalho por lá não são as melhores do mercado: a pressão por produtividade é constante nas atividades de preparação de encomendas para envio aos clientes.

relatos de que os trabalhadores enfrentam 60 horas de trabalho semanais e embalam mais de cem caixas por hora. Quando não conseguem manter o ritmo, perdem o emprego — e a companhia, em geral, alega que os profissionais são ineficientes.

Só na América do Norte, a Amazon tem mais de 75 centros de atendimento. O tamanho das unidades varia, mas a quantidade total de profissionais empregados nesses locais chega a 125 mil. Documentos indicam que mais de 10% deles são dispensados anualmente por não moverem encomendas na velocidade desejada. Ou seja, são milhares de trabalhadores.

Todo o processo é altamente automatizado: a empresa tem todas as informações de produtividade de cada indivíduo. A partir delas, o próprio sistema é capaz de emitir alertas ou mesmo preparar a carta de demissão sem nem mesmo pedir a opinião dos supervisores — para tranquilidade geral, a companhia informa que a chefia pode reverter o processo.

Apenas números

Já há algum tempo os indivíduos são vistos na sociedade apenas como números — e isso em diferentes instâncias de suas vidas: já parou para pensar o quanto se sabe sobre você só pela consulta do seu CPF? No caso do sistema de rastreamento da Amazon, parece que isso foi levado às últimas consequências. Qualquer fração de tempo passada fora do esquema de produção é computada e pode levar à dispensa.

Em países em que a população muçulmana é numerosa, por exemplo, os profissionais se queixam dos requerimentos de produtividade. Isso porque, segundo a religião deles, é necessário que façam orações em diferentes momentos do dia — e a constante pressão imposta pela companhia impede que eles cumpram essa obrigação.

Em sua defesa, a organização diz que o retreinamento dos profissionais é constante para garantir que eles atuem sempre dentro dos padrões exigidos. Assim, quando mais de 75% dos trabalhadores estão atingindo os objetivos, os 5% com desempenho inferior são enviados para um programa de treinamento. Aparentemente, entretanto, os que não se encaixam são simples e sumariamente dispensados. E aí, continua sendo fã da Amazon?

Colaboração para o Olhar Digital

Roseli Andrion é colaboração para o olhar digital no Olhar Digital