A Amazon está desistindo dos planos de estabelecer uma nova sede em Nova York. A gigante norte-americana alegou, em seu blog, que a construção foi abandonada em decorrência de uma forte resistência política. Autoridades locais se opunham a conferir bilhões de dólares em incentivos fiscais a uma das empresas mais valiosas do mercado global, além de discordarem com a posição contrária da empresa à sindicalização dos trabalhadores, algo comum na cidade.

“Enquanto as pesquisas mostram que 70% dos nova-iorquinos apoiam nossos planos e investimentos, vários políticos estaduais e locais deixaram claro que se opõem à nossa presença e não vão colaborar para construir os tipos de acordos necessários para seguir adiante com o projeto que nós e muitos outros desejamos em Long Island City”, afirma a Amazon.

A decisão da gigante do e-commerce de abortar o projeto representa um revés impressionante. A Amazon passou um ano realizando consultas públicas por uma segunda sede, e centenas de localidades disputavam para conquistá-la. A empresa prometia levar 50 mil empregos e US$ 5 bilhões em investimentos à cidade vencedora.

Em novembro, a Amazon anunciou que dividiria as operações da sua segunda matriz entre Virginia e Nova York, em parte para garantir “talento tecnológico” suficiente. Segundo a companhia, a busca por uma nova sede não será aberta, e contratações vão continuar rolando nos seus demais escritórios espalhados pelo país. A empresa relatou, por exemplo, que tem mais de cinco mil pessoas em Nova York e que seguirá aumentando esse quadro.

Os bastidores da desistência

A reportagem do Wall Street Journal relata que nada, na reunião desta manhã de quinta-feira envolvendo executivos da Amazon e a comunidade do Queens, indicava para um rompimento brutal como o que aconteceria horas depois.

Em entrevista ao WSJ, John Boyd, diretor da Boyd Co., aponta como principais erros da Amazon a revelação da divisão da sede (e, consequentemente, dos investimentos) em dois e o aparente desrespeito com o ritmo de se fazer política na cidade. “Tudo o que acontece em Nova York tende a causar um grande alvoroço”, disse ele.

Algumas desavenças começaram a aparecer ainda na semana passada, quando a Amazon resolveu reavaliar o campus planejado em Nova York. Na ocasião, autoridades locais elevaram sua preocupação com um possível abandono do projeto por parte da empresa.

Desde o início do processo, a Amazon enfrenta duras críticas de representantes políticos, que questionam não só a concessão de US$ 3 bilhões em incentivos fiscais municipais e estaduais, como também a posição contrária da empresa à sindicalização e os impactos urbanísticos de sua instalação em Nova York. Executivos da Amazon já haviam participado de duas audiências públicas, em que foram questionados sobre o pacote de subsídios e a posição antissindical. A primeira foi marcada por protestos e discussões inflamadas com vereadores da cidade.

Em comunicado emitido na tarde desta quinta-feira, o prefeito de Nova York, Bill de Blasio, declara: “Nós demos à Amazon a oportunidade de ser um bom vizinho e fazer negócios na maior cidade do mundo. Em vez de trabalhar com a comunidade, a Amazon descartou essa oportunidade”. Ele conduziu, junto ao governador Andrew Cuomo, os acordos para atrair a empresa e era um dos principais apoiadores do negócio.

Agora, o namoro acabou – ironicamente, no dia em que se comemora o Dia dos Namorados nos Estados Unidos.