Afinal, o que é o DxOMark e por que ele define qual é a melhor câmera de celular?

Entenda também o motivo pelo qual precisamos de um pé atrás na hora de usá-lo numa decisão de compra
Renato Santino16/08/2019 00h18, atualizada em 16/08/2019 11h00

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Sempre que há um lançamento de peso no mercado de celulares, algumas coisas já são esperadas. Uma delas é a aguardadíssima nota do smartphone no DxOMark, que é a principal referência em comparação de equipamento fotográfico. Mas afinal de contas, o que é o DxOMark e por que ele serve de referência?

DxOMark é uma publicação que já existe desde 2008 que se notabilizou pela análise de sensores fotográficos e lentes, mirando principalmente um público mais especializado na área. Desde 2011, no entanto, percebendo a mudança do mercado, a empresa passou a dedicar seu tempo também à análise de câmeras de smartphones.

As análises do DxOMark têm uma vantagem sobre quaisquer outras feitas por veículos que se propõem a analisar smartphones como um todo. Elas são focadas exclusivamente na câmera, claro, o que dá a liberdade de se aprofundar sem qualquer restrição nessa área, analisando pormenores que seriam ignorados por quaisquer outras publicações.

Ao contrário do que faz com câmeras profissionais, o foco da análise do DxOMark sobre câmeras de celular é o modo de uso do consumidor comum. Por isso, não são analisadas imagens RAW, mas sim o arquivo JPG gerado pelo clique. Além disso, a empresa se preocupa especificamente com o modo de fotografia automático, que é o método fotográfico mais comum.

Não há qualquer outro teste na indústria que seja tão extensivo. A empresa utiliza uma metodologia rigorosa, uma abordagem científica e equipamentos de ponta para realizar suas medições, e clica mais de 1.500 fotos e gravas mais de 2 horas de vídeo por análise na hora de chegar às suas conclusões.

Após a coleta das imagens, no quesito fotografia, são analisados os seguintes critérios, segundo a própria empresa:

  • Exposição e contraste, incluindo o alcance dinâmico, repetibilidade da exposição, e contraste;
  • Cor, incluindo saturação, matiz, balanço de branco, repetibilidade de balanço de branco e sombreamento de cor;
  • Textura e ruído;
  • Autofoco, incluindo velocidade e repetibilidade;
  • Artefatos que interfiram na qualidade da imagem;
  • Flash;
  • Zoom em múltiplas distâncias;
  • Bokeh

Cada um desses critérios recebe uma pontuação específica de acordo com os resultados observados nos testes. No entanto, a pontuação final não é necessariamente uma média das notas para cada um dos pontos analisados. O DxOMark explica que o resultado final é um cálculo proprietário e sigiloso, que dá maior peso para determinados itens que a empresa julga ser mais relevantes para o usuário. A empresa, no entanto, não revela qual é o peso dado para cada um dos critérios.

A composição das notas é complexa, já que cada um dos critérios analisados possui outros sub-itens, que são analisados tanto por uma perspectiva objetiva quanto por uma avaliação perceptiva, o que indica que há algum nível de subjetividade na decisão da pontuação final.

Reprodução

Problemas éticos?

Não há dúvidas de que os testes do DxOMark são, de fato, os mais extensivos da indústria, mas isso não quer dizer que não haja alguns problemas. Eles existem e deveriam, no mínimo, servir para que haja mais cautela sobre o uso da análise como grande critério de definição de qualidade de câmeras de celular.

Primeiro, é importante notar que o DxOMark sofre de uma questão de conflito de interesses. Isso porque a empresa não vive unicamente de analisar câmeras; ela também fornece equipamentos para que fabricantes testem e aprimorem as suas próprias câmeras.

O produto da DxOMark se chama Analyzer. Segundo a própria definição da empresa, o “Analyzer é um sistema completo de testes que inclui software, hardware e protocolos de teste que garante resultados repetíveis e independentes do operador. Ele consiste em 9 módulos, todos eles capazes de funcionar independentemente e cada um focado em um atributo diferente de qualidade de imagem”. Em outras palavras, a empresa fornece para fabricantes de celular o Analyzer, que também é a ferramenta que a própria DxOMark usa em seus testes. Isso faz com que os celulares fiquem cada vez melhores em responder aos critérios de avaliação da publicação.

Isso acarreta algumas questões éticas, porque a DxOMark não informa, ao analisar um celular, qual empresa usou e qual não usou sua solução de testes para aprimorar o dispositivo. Ou seja: se, por exemplo, a Samsung é um cliente, a informação não fica explícita em momento algum quando um aparelho como o Galaxy S10 é analisado.

Uma outra questão é o quanto essa relação com as empresas afeta os próprios produtos. Afinal de contas, ao fornecer sua solução de testes de câmera para fabricantes, as empresas asseguram que seus aparelhos terão um desempenho melhor no próprio DxOMark. Que fique bem claro, no entanto: isso não significa que a câmera é melhor, apenas que ela atende melhor aos critérios do DxOMark.

A polêmica das notas

Como mencionado acima, ao final das análises, cada critério ganha uma nota própria e todos esses números são calculados de uma forma completamente misteriosa, que dá resultado à nota final que estampa a capa do site e é contabilizado como parte do ranking de câmeras da empresa.

A questão neste caso é simples: a escala da DxOMark é completamente arbitrária. Até um tempo atrás, todas as notas ficavam abaixo de 100, o que levava o público a crer que a escala iria de 0 a 100. No entanto, os últimos testes com celulares tops de linha estouraram a marca dos 100 pontos, o que faz com que não haja, neste momento, qualquer sinal que indique qual é a nota máxima para um aparelho.

Afinal de contas, vamos supor que um celular hipotético ganhe uma nota 83 no teste. Esse 83 significa o quê, exatamente? Claro, um aparelho 83 é inferior a um 94 e superior a um 72, mas qual é a nota máxima? Qual é a nota mínima? Um 83 não significa uma nota muito boa se a escala for de 0 a 1.000, por exemplo.

Renato Santino é editor(a) no Olhar Digital