‘Achava que era normal’, diz pesquisador que coletou dados do Facebook

Equipe de Criação Olhar Digital21/03/2018 12h40

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O professor de psicologia que está no centro do escândalo envolvendo o vazamento de dados do Facebook para a empresa de consultoria política Cambridge Analytica não acredita ter feito nada de errado. Aleksandr Kogan, um pesquisador da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, diz que está sendo usado como bode expiatório tanto pelas duas companhias.

Em 2014, Kogan criou um aplicativo no Facebook para uso em uma de suas pesquisas acadêmicas. Ele conseguiu 270 mil participantes para o estudo, e, com a permissão deles ao instalar o aplicativo, também coletou dados de mais dezenas de milhões de usuários. Essas informações foram depois repassadas para a Cambridge Analytica, que diz ter usado os dados durante a campanha presidencial de Donald Trump nos Estados Unidos.

Em entrevista à rádio britânica BBC Radio 4, Kogan deu o seu lado da história, após ver seu nome ser jogado no meio do escândalo. “Pensava estar agindo de maneira perfeitamente apropriada”, explicou o acadêmico. “Pensei que estava fazendo algo realmente normal”, continuou, descrevendo um ambiente permissivo para a coleta massiva dos dados. Ele disse que a Cambridge Analytica garantiu que milhares de outros apps faziam a mesma coisa, e que a entrega de dados coletados do Facebook era algo bastante comum.

O acadêmico também questiona o potencial que a Cambridge Analytica tem de moldar pensamentos durante campanha eleitoral. “A precisão desses dados está sendo bastante exagerada”, explicou. “Na prática minha aposta é que temos seis vezes mais chances de entender tudo errado de uma pessoa do que conseguir informações corretas sobre elas.”

De acordo com o Facebook, Kogan violou as políticas da empresa ao usar os dados coletados para fins comerciais. A coleta em si não foi irregular – na época em que ocorreu, o Facebook permitia que desenvolvedores acessassem informações não apenas sobre o usuário em si, mas também de amigos deles.

Apesar de ter ficado sabendo do repasse dos dados em 2015, o Facebook só pediu para a Cambridge Analytica destruir as informações, mas em momento algum conferiu se isso de fato tinha acontecido. O Facebook também não avisou aos usuários que suas informações pessoais podiam ter sido comprometidas.

Desde que foi revelado no fim de semana, o caso vem dando bastante dor de cabeça para o Facebook, que perdeu mais de 60 bilhões em valor de mercado e agora enfrenta uma campanha para usuários apagarem a conta da rede social.