Existe uma série de notícias sobre Blockchain na mídia. Elas geralmente falam sobre a sua capacidade disruptiva e sua aplicação para empresas de diversos setores, em especial para o financeiro. A comparação com bitcoin e criptomoedas alimenta a alta expectativa sobre essa tecnologia.

É notório que todos os grandes bancos estão experimentando o conceito já há alguns anos. Alguns até se tornaram grandes contribuidores das comunidades de seu desenvolvimento e passaram a ser os principais interessados no seu avanço.

Isso significa que a chance de Blockchain ser disruptivo já passou.

Fora do setor financeiro as aplicações de Blockchain estão divididas entre proveniência (rastreamento), logística (rastreamento), manufatura (várias áreas, incluindo inteligência artificial e controle de garantia), manutenção de registros (rastreamento), legal (proveniência e rastreamento) e saúde (principalmente manutenção e rastreamento de registros).

O uso no setor financeiros parece mais ligado a substituir sistemas atuais e não em romper com modelos de negócio existentes. Já nos demais setores, a tecnologia oferece uma alternativa nova para registro e acompanhamento. Vejamos alguns casos que servem como exemplos:

  • BRF e o varejista Carrefour se uniram à IBM para o projeto “Food Tracking”, que visa rastrear produtos por meio de Blockchain;
  • A Maersk implantou uma solução da IBM na divisão de rastreamento de contêineres e outra na perfuração offshore;
  • A Icons, fornecedora de lembranças de futebol, implantou uma solução da Cognizant para rastreamento e garantia de proveniência (garante que uma camiseta assinada pelo Neymar é original);
  • A Boeing, Airbus e Bombardier têm projetos pilotos no rastreamento de log de proveniência de peças e manutenção.

No estudo Digital Business Transformation Brazil, publicado pela empresa de pesquisa e consultoria em tecnologia, ISG, em fevereiro deste ano, foram avaliados 29 provedores que atendem grandes empresas no País. Deste número, 14 foram identificados como capazes de entregar soluções de Blockchain. E este é um bom resultado. O problema, porém, é que o faturamento dessas empresas com essa tecnologia ainda é pequeno, o que indica a dificuldade em se materializar o conceito nos clientes.

Nos nossos levantamentos, identificamos muitos fornecedores pequenos produzindo soluções interessantes e inovadoras, que devido à sua customização não escalam. Essas pequenas empresas são assediadas pelas grandes nos modelos de aceleração de startups, tanto no financiamento de seus projetos quanto na contratação de seus profissionais.

Há ainda uma disputa pelo profissional qualificado em Blockchain, o que eleva o custo de contratação e impõe um risco de não retenção desses funcionários. Questão que acaba deixando o cliente assustado.

Diante desses fatos a nossa conclusão é de que Blockchain terá uma adoção gradual e consistente com o avanço da transformação digital, mas infelizmente, não será tão rápido e abrupto a ponto de transformar a vida do cidadão comum.