Quando eu trabalhava em uma grande multinacional da área de bens de consumo, conheci um colega que atuava como gerente de vendas, muito bem-sucedido, mas que, curiosamente, era formado em medicina veterinária. Quando descobri tal fato fiquei intrigado, imaginando vários caminhos possíveis que ele possivelmente tivesse percorrido para ter mudado tanto.
Estamos iniciando um novo ano, e este é um ótimo momento de repensar seu trabalho, sua carreira. Mas por que em 2019, mais do que nunca, isso deve ser feito? Porque com a onda de automação, muita coisa vai mudar. A cada ano que passa, a formação técnica ou universitária, exceto em profissões regulamentadas, importa menos para exercer uma atividade profissional, pois o conhecimento está muito acessível.
Essa onda, que vem mostrando ser um verdadeiro tsunami, vai causar, sim, substituição de emprego por tecnologia, gerando a perda de milhares de empregos. Mas também tem um fator social positivo: mais automação reduz o custo dos produtos e serviços e, devido à existência de concorrência, impacta no preço final dos mesmos. Dessa forma, vamos gastar menos dinheiro com o mesmo consumo, aumentando a poupança ou o consumo de outras coisas. O resultado? A parte dessa sobra de recurso que se tornar poupança, ajuda no aumento da produtividade e a parte que vira consumo, aumenta demanda por produtos e serviços.
Mas o que isso tem a ver com você e com bots, o tema principal deste artigo? Tudo! Você, com ou sem conhecimento de tecnologia, por exemplo, já pensou que poderia ser um excelente criador de bot? Sim, em vez de se apavorar com essas transformações em curso, você pode aproveitar as oportunidades que elas representam.
Dado esses fatos, gostaria de discorrer sobre quatro cenários e sugestões de como é possível se posicionar diante da nova realidade que já chegou. Para isso, vamos considerar duas variáveis: se você gosta do que faz e se sua função automatizável, ou seja, é uma função mais operacional, com regras de negócio rígida, processos bem definidos, que não demandam criatividade ou alto nível de percepção.
Cenário 1: você não gosta do que faz e sua função é automatizável: É o momento de olhar pra outro trabalho, ou ainda um hobby. Busque novas atividades, porque vai aumentar a demanda por entretenimento, já que as pessoas terão mais dinheiro disponível.
Cenário 2: você não gosta do que faz e sua função não é automatizável: Mesmo não correndo risco de perder o emprego para uma máquina, você pode perder para outra pessoa que faça o que faz com mais vontade, logo melhor. Jogar a vida fora fazendo algo que não gosta é inaceitável. Aproveite esse momento de mudança e vá tentar ser feliz de qualquer maneira!
Cenário 3: você gosta do que faz e sua função não é automatizável: Continue nesse caminho e seja feliz, com muita tranquilidade, pelo menos por enquanto!
Cenário 4: você gosta do que faz e sua função é automatizável: Siga o caminho do meu ex-colega veterinário que se tornou um vendedor de sucesso, use todo seu conhecimento, vontade e habilidade para automatizar sua função.
Para a surpresa de muitos, no desenvolvimento de um robô é de extrema importância a participação de uma pessoa com uma visão mais ampla sobre o negócio da empresa e que tenha entendimento das necessidades e expectativas do cliente, ou seja, que entende a fundo como consumidores demandam as coisas. É preciso que se entenda o problema que o cliente tem, ou até mesmo ainda possa vir a ter no futuro, e que foque na solução daquele problema. Nesse sentido, não existe a necessidade de conhecimento profundo da parte técnica do trabalho. O importante é pensar no negócio como um todo e “com a cabeça do cliente”. Olhar pra fora. Não pra dentro.
O mundo dos bots foi invadido por desenvolvedores empolgados, mas faltam pessoas que não necessariamente tenham experiência em tecnologia, mas saibam muito de algum setor. Quer um exemplo? Empresas de desenvolvimento que queiram automatizar o processo contábil são diversas, mas muitas delas não têm um especialista. Por isso temos vários projetos frustrados na área.
Sua resistência a essa nova realidade, além de não ajudar em nada, pode te atrapalhar muito. Vai chegar o momento em que terá que decidir em que lado vai estar: no daqueles que correm o risco de perder o emprego ao serem substituídos por robôs em sua função, ou no dos que vão aproveitar o começo do ano para iniciar também uma nova etapa em sua vida profissional.
Quase me esqueci que, no fim das contas, o gerente de vendas não teve nenhuma trajetória fabulosa. Trabalhou inicialmente como técnico em uma empresa de rações e, por conhecer bem o produto e ser extrovertido, foi para venda. Recebeu então uma proposta para vender outros itens. As oportunidades estão aí, acessíveis para você e para todos os seus potenciais concorrentes. Você vai escolher surfar essa nova onda ou prefere ser varrido do mapa por ela?
Se o começo de um novo ano é a hora de repensar a vida profissional, este ano de 2019 é crucial nesse sentido. Se você não fizer isso, alguém vai fazer por você, com certeza!