A era da vigilância pode estar com os dias contados. Será?

Recentes manifestações em oposição a grandes potências mundiais alimentam a esperança de uma luta contra o poder vigilante
Igor Shimabukuro07/08/2020 22h44, atualizada em 10/08/2020 10h00

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Você já realizou alguma busca na internet e horas depois deparou-se com anúncios da pesquisa em sua rede social, como se seu smartphone estivesse vigiando ou escutando? É bem possível que alguém esteja espionando, mas as ameaças não se limitam a hackers e cibercriminosos.

Os avanços da tecnologia transformaram os tempos atuais em uma era de vigilância. O ouro, petróleo e as pedras preciosas deram lugar aos dados, uma das commodities mais valiosas nos dias de hoje. Por meio deles, é possível que governos, empresas e cibercriminosos saibam de seus históricos de busca, das suas mensagens enviadas, dos conteúdos nas trocas de e-mails e diversas outras informações.

O tema é de extrema relevância, já que envolve a privacidade de todos os usuários conectados. A internet é — ou pelo menos deveria ser — um ambiente livre, com trocas e compartilhamentos de informações consentidos pelos emissores.

A problemática, no entanto, vai muito além da violação contra os direitos humanos. Não há como saber o limite da vigilância, qual o padrão dos “alvos” ou as finalidades. Também não há punição. As multas indenizatórias, como no caso do Facebook, além de não cobrirem o dano causado, não asseguram que a companhia cesse as práticas criminosas.

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Em 2017, a Agência Espanhola de Proteção de Dados multou a rede social em R$ 4,5 milhões por coletas de dados de usuários. Foto: Rawpixel

Caso Snowden

Em 2013, o mundo ficou abismado quando Edward Snowden, ex-NSA e CIA, revelou que o “Five Eyes” — conjunto formado por órgãos de segurança dos Estados Unidos, Reino Unido, Austrália, Nova Zelândia e Canadá — conspirava para o enfraquecimento das leis contra espionagem.

No episódio, ele apresentou documentos confidenciais que relatavam os esforços dos países, junto às gigantes de telecomunicações, para permitir o acesso clandestino às redes dos usuários. Basicamente, foi dado uma carta branca para que os órgãos governamentais dos países pudessem vigiar qualquer indivíduo, sem que ele ao menos soubesse disso.

Nem os brasileiros escaparam dessa. Documentos coletados por Snowden concluem que em 2012, o Brasil teve pouco menos de 2,3 bilhões de telefonemas e mensagens espionadas pela NSA (Agência de Segurança Nacional norte-americana).

Os ocorridos ferem qualquer constituição baseada em democracia. Há uma linha tênue entre vigilância e segurança, e a partir do momento que os órgãos protetivos das maiores potencias mundiais se tornam a principal ameaça, o cidadão comum tende a se encontrar desolado.

O curioso é perceber a continuidade das práticas e como a espionagem tem sido normalizada pelos cidadãos. É claro que o fato de confrontar pessoas e órgãos tão poderosos intimida qualquer um. Mas as recentes manifestações em prol de George Floyd, além dos protestos na China contra a Lei da Extradição, evidenciam o poder que a sociedade tem nas mãos e alimentam a luta pela liberdade — mesmo que de forma virtual.

Via: Wired


Colaboração para o Olhar Digital

Igor Shimabukuro é colaboração para o olhar digital no Olhar Digital