A plataforma de videoconferências, Zoom, está sendo processada por um grupo de defesa do consumidor por mentir para os seus usuários sobre seu sistema de proteção com base em criptografia de ponta a ponta.
A acusação veio do grupo sem fins lucrativos, Consumer Watchdog, que abriu um processo no tribunal superior do estado de Washington, nos Estados Unidos. A ação está amparada em uma lei do estado americano que autoriza organizações sem fins lucrativos abrirem processos em nome dos consumidores.
O grupo descreve que algumas ligações entre americanos foram roteadas por servidores na China em março, o que aumenta o perigo de Pequim roubar ou exigir acesso ao conteúdo dessas transmissões.
De acordo com o jornal The Washington Post, a ONG pede uma indenização de até US$ 1.500 para cada instância em que um residente de Washington tenha usado o programa para fins não comerciais. O montante pode acarretar em uma indenização milionária por parte da empresa.
“A Zoom é uma empresa predominante em muitas residências e escritórios, e é supreendente e frustante para muitos usuários que a empresa não seja sincera com eles”, disse Ari Scharg, advogado representante do Consumer Watchdog.
Nos últimos meses, o Zoom se tornou um dos serviços de videoconferências mais populares no mundo todo. Em abril deste ano, atingiu a marca de 300 milhões de usuários diários, que representou um volume 30 vezes maior que o registrado em dezembro de 2019.
CEO do Zoom, Eric Yuan; Serviço de videoconferências atingiu marca de 300 milhões de usuários diários em todo o mundo . Créditos: Kena Betancur/Getty Images.
Riscos à privacidade de dados
Um estudo com inteligência artificial da Universidade Ben-Gurion, em Israel, apontou ser relativamente fácil extrair informações pessoais de usuários como rosto, nome, idade e gênero por meio de captura de telas públicas.
Para a Consumer Watchdog, se não houver punição, outras empresas podem se sentir incentivadas a prometer falsos sistemas de segurança e privacidade de dados a fim de atrair usuários.
A empresa já havia reconhecido anteriormente que usou equivocadamente a terminologia para descrever suas proteção. Ela também confirmou o roteamento incorreto de videoconferências por meio de servidores da China, alegando ter ocorrido em razão do aumento repentino de usuários durante os primeiros dias da pandemia de Covid-19.
Mas o que é criptografia?
A criptografia de ponta a ponta é um sistema de proteção que embaralha qualquer conteúdo enviado a partir da máquina do remetente até o seu destinatário, um procedimento tão forte que a própria empresa não consegue ter acesso ao conteúdo da mensagem.
De acordo com o Zoom, a forma de proteção de suas videoconferências é menos rigorosa, chamada “segurança da camada de transporte”, ou TLS. Essa forma de proteção abre espaço para a empresa que hospeda a comunicação descriptografar a mensagem.
Diante das críticas, o CEO do Zoom, Eric Yuan, afirmou em junho que a empresa se compromete a aplicar a criptografia de ponta a ponta para usuários pagos, com exceção de usuários ligados a instituições de ensino. O Zoom também se comprometeu a limitar seus laços com a China.