O YouTube deve permitir que vídeos sobre tragédias ganhem dinheiro com publicidade? E se o dinheiro que eles gerarem for dedicado a ajudar as vítimas da tragédia? Foi esse o dilema que a empresa precisou enfrentar recentemente: o YouTube impediu que um vídeo postado pelo youtuber Casey Neistat sobre o tiroteio em Las Vegas gerasse renda.
No entanto, o intuito do vídeo era justamente ajudar as vítimas do tiroteio, que matou mais de 50 pessoas e deixou cerca de 500 feridos, segundo o Guardian. Nele, Neistat fala sobre uma campanha de arrecadação de fundos que ele montou para ajudar as famílias das vítimas, e pede que os inscritos em seu canal façam doações. Ele também ressalta que o dinheiro que o vídeo gerar em publicidade será encaminhado às famílias das vítimas. O vídeo pode ser visto abaixo:
Como é possível perceber, o vídeo não traz imagens chocantes ou explícitas, só o rosto do youtuber. Mesmo assim, o YouTube impediu que a criação gerasse receita por meio de propagandas. Neistat, naturalmente, ficou indignado com o comportamento da plataforma, e se manifestou por meio do Twitter sobre a situação. Em seu tweet, é possível ver que o YouTube marcou o vídeo como “não apropriado para anunciantes”:
literally a video about charity.. where i state all Adsense is going to that charity.. youtube says NOT SUITABLE FOR ADVERTISERS pic.twitter.com/PBvHFNNuGy
— Casey Neistat (@CaseyNeistat) 5 de outubro de 2017
Neistat tem 1,47 milhões de seguidores no Twitter, e seu canal do YouTube tem 7,9 milhões de inscritos. Por esse motivo, a declaração do youtuber se espalhou rapidamente, o que levou a plataforma a responder. “Nós <3 o que você está fazendo, mas independentemente da intenção, nossa política é de não mostrar anúncios em vídeos sobre tragédias”. A resposta da empresa, também pelo Twitter, pode ser vista abaixo:
We â¤ï¸ what you’re doing to help, but no matter the intent, our policy is to not run ads on videos about tragedies.
— Team YouTube (@TeamYouTube) 5 de outubro de 2017
Dilema
Por mais que a situação seja triste, a situação faz sentido. Como o YouTube não tem controle de quais propagandas passarão antes de cada vídeo, ele pode acabar associando determinadas empresas à tragédia. E para as empresas, não vale a pena investir em anúncios na plataforma se existe o risco de que seu anúncio apareça antes de um vídeo sobre algo tão triste.
Ainda assim, como o The Next Web ressalta, a resposta do YouTube tem um problema sério. Isso porque a plataforma demonstra, em diversas ocasiões, que é capaz de ser mais leniente na aplicação de suas políticas em casos específicos.
Um exemplo disso foi apontado por outro youtuber, chamado Philip Trevor. Trevor tweetou em resposta à plataforma mostrando um vídeo do apresentador estadunidense Jimmy Kimmel falando sobre a tragédia. O vídeo de Kimmel tinha propagandas antes de começar, o que mostra que a empresa é, sim, capaz de monetizar vídeos sobre tragédias. A resposta de Trevor pode ser vista abaixo:
Dear @YouTube @TeamYouTube,
Your response is bullshit. It’s not true. People are tired this. Be better. pic.twitter.com/XWh6eMVQWG
— Philip DeFranco (@PhillyD) 6 de outubro de 2017
Pelo menos a discussão parece não ter afetado significativamente o sucesso da campanha de arrecadação de fundos criada por Neistat. Desde que ela foi iniciada, ela já arrecadou mais de US$ 280 mil (mais de R$ 880 mil) para as famílias das vítimas. Desse total, segundo o youtuber, mais de US$ 250 mil chegou em 48 horas após o início da campanha.