Ao mesmo tempo em que é uma rede social, o Twitter não compete com Facebook, Instagram e outros serviços semelhantes. Isso quem garante é o diretor de estratégias de expansão do Twitter no Brasil, Phillip Klien. Entusiasmado com o crescimento da rede no país na última década, o executivo afirma que a empresa observa com atenção o mercado Brasil para criar soluções que agradem os internautas brasileiros.
Em entrevista ao Olhar Digital, Klien fala sobre os acertos e erros da plataforma que completa 10 anos no dia 21/03, da inevitável migração para os smartphones, da concorrência com outros aplicativos e redes e também antecipa os focos da empresa para a próxima década. Confira a entrevista completa abaixo:
Olhar Digital: Em dez anos de Twitter no Brasil, quais foram os grandes acertos?
Phillip Klien: Caramba, 10 anos! É quase uma adolescência. É difícil avaliar os acertos. Nascemos de uma plataforma de SMS e hoje nosso foco mudou para os smartphones. Acredito que o maior acerto tenha sido manter nossa arquitetura aberta e em tempo real. O usuário do Twitter não precisa ter uma conta para interagir com a plataforma, basta acessar o site.
OD: E quais foram os erros?
Klien: Estamos sempre em constante mudança, sempre tentando nos adaptar ao sistema. Sobre um erro específico, acho que no passado não priorizamos a questão da usabilidade do usuário novo como deveríamos. O Jack (Dorsey, fundador da plataforma) costuma dizer que usar o Twitter é como andar de bicicleta. Na primeira vez é muito difícil, mas depois se torna uma experiência extremamente prazerosa. Queremos ajudar os novos usuários a embarcarem no Twitter. Queremos dar “rodinhas” para eles.
OD: Como você enxerga o crescimento do Twitter no Brasil?
Klien: Temos uma boa penetração aqui e a audiência brasileira é diferente de qualquer lugar do mundo. Aqui a maioria dos usuários são jovens, então nossas estratégias são pensadas para interagir com esse público que é um dos mais engajados do mundo.
OD: É possível que o Twitter cresça no Brasil da mesma forma que cresceu nos Estados Unidos?
Klien: Vários indícios apontam o crescimento. É preciso lembrar que nos Estados Unidos a integração da plataforma com a televisão, por exemplo, é muito maior. Aqui ainda estamos começando a utilizar hashtags e exibir comentários em programas de televisão, como no Master Chef (reality show gastronômico da Band). O acesso à internet e a posse de smartphones lá também é maior, mas nossa presença no Brasil tem obtido crescimento.
OD: Pela possibilidade de não precisar criar uma conta para usar o Twitter, você teme que a rede social possa perder usuários?
Klien: Eu acho que é justamente o contrário. Antes você era obrigado a criar um usuário de acesso ao site no computador para interagir. Essa não é a melhor forma de engajar usuários. O Twitter tem o elemento da portabilidade. O conteúdo pode ser compartilhado em outras redes sociais, sites e até em transmissões televisivas. Acreditamos que a vontade dos usuários de responder algum tweet ou compartilhá-lo irá crescer naturalmente e isso fará com que ele se torne um futuro heavy user.
OD: Por falar em heavy user, como você vê a questão de que o Twitter é visto como uma rede social secundária e dominada por esse tipo de usuários?
Klien: Eu o classifico como uma rede de interesse. Ele tem arquitetura própria. Mais do que competir, ele complementa o uso das redes sociais. Você não precisa abrir mão de uma rede social A ou B para usar o Twitter.
OD: Então você diria que o Twitter não se sente ameaçado pelo crescimento de outras redes sociais?
Klien: Hoje nossa maior preocupação não são as redes sociais, mas os aplicativos de smartphones. Quanto mais tempo o usuário gasta com jogos e vendo sites pelo celular, menos será gasto no Twitter.
OD: Então o foco está nos smartphones?
Klien: São os dispositivos nos quais temos mais força. Apesar de estarmos nos adaptados às novas mídias, o telefone celular está sempre com o usuário e sempre conectado. Isso é imprescindível quando falamos em instantaneidade.
OD: Quais são os planos do Twitter para a próxima década?
Klien: Difícil pensar. Será que os smartphones sobrevivem até lá? O que podemos garantir é que o Twitter continuará com seu DNA próprio. A arquitetura digital não irá mudar, mas abraçará novas funções. O live streaming, por exemplo, é algo que estamos implementando desde a compra do Periscope e nossos usuários serão mais incentivados a interagirem com essa nova ferramenta.
OD: E na relação com o Brasil, como o Twitter pretende evoluir nos próximos anos?
Klien: Eu fico muito feliz em falar disso porque tenho percebido que as reuniões em San Francisco (sede da empresa) consideram cada vez mais o público brasileiro nas mudanças da plataforma. Cada recurso pensado, cada novidade implementada vem com um “temperinho brasileiro” para agradar nossos usuários daqui.