Testamos o 5G na Coreia do Sul: saiba como é a nova geração da internet móvel

O 5G tem muitas promessas para o futuro, mas como é o seu presente? Conheça a realidade atual da tecnologia
Renato Santino08/07/2019 00h41, atualizada em 08/07/2019 12h00

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Seul, Coreia do Sul* – Pode parecer que foi ontem que o 4G começou a chegar aos usuários brasileiros, e para alguns, o acesso à internet de quarta geração realmente pode ter se tornado realidade apenas na semana passada, visto que muitas áreas do país ainda não são devidamente cobertas. No entanto, em alguns lugares do mundo, o 5G já é real, embora esteja ainda em seus primeiros meses de operação comercial. A Coreia do Sul é uma dessas regiões, e foi para lá que o Olhar Digital foi para saber do que a tecnologia já é capaz.

Antes de tudo, é preciso entender qual é o propósito do 5G. Desde o princípio, os pesquisadores batem na tecla de que velocidade é apenas um objetivo menor dentro do grande salto tecnológico que a internet móvel de quinta geração proporcionará. Mais do que permitir que você acesse jogos, veja vídeos por streaming e faça downloads com maior qualidade, a ideia do 5G é habilitar uma nova leva de tecnologias que simplesmente não podem sair do papel devido às limitações do 4G. Além da velocidade, bate-se muito na tecla da latência mínima e um aumento do número de dispositivos conectados por área, sintoma de uma nova internet que integrará objetos que nunca antes precisaram estar conectados.

Entre as tecnologias que têm sido levantadas como as maiores revoluções permitidas com o 5G estão os veículos autônomos, que dependem de um tempo mínimo de resposta para qualquer ação, já que qualquer atraso pode causar um acidente com consequências potencialmente fatais. A telemedicina também pode dar saltos incríveis, permitindo que um médico possa fazer uma cirurgia remotamente, controlando um braço robótico do outro lado do mundo com um tempo desprezível de atraso entre suas ações e a resposta do robô.

No entanto, apesar de a velocidade não ser a única vantagem do 5G, ela ainda é uma grande vantagem. O primeiro contato com a internet móvel sul-coreana já impressiona, mesmo quando estamos conectados a uma rede 4G+. Ao pisar no país, colocar o chip no celular e rodar o teste de conexão do site fast.com, desenvolvido pela Netflix, o impacto foi imediato: taxas de transferência superando consistentemente os 60 Mbps e batendo ocasionalmente nos 80 Mbps, o que deixa os nossos 20 Mbps de média de velocidade do 4G no chinelo.

A verdadeira surpresa ficaria para alguns dias no futuro, quando a Samsung nos emprestaria por algumas horas o Galaxy S10 5G, uma variante do S10 que só chegou a países como Coreia e EUA, equipado com um chip da SK Telecom, a principal operadora do país. Foi quando foi possível experimentar o que é o 5G na realidade, em seus pontos fortes e fracos.

O ponto forte, obviamente, é a qualidade da conexão. Nossos testes no site fast.com chegou a superar velocidades de 650 Mbps. Outras pessoas que me acompanhavam conseguiram superar os 800 Mbps em uma conexão móvel, o que assusta, mas ainda não chega ao limite prometido pelas empresas de telecomunicações. A própria Samsung afirma que os consumidores coreanos regularmente alcançam taxas de transferência acima de 1 Gbps. Jornalistas estrangeiros também obtiveram conexões que superam o gigabit por segundo, então essa promessa não é nenhum exagero.

Fica até difícil imaginar o que é uma taxa de transferência tão alta para muitos brasileiros, que regularmente sofrem com conexões fixas com menos de 10 Mbps em suas residências, então uma velocidade desse tipo no bolso da calça parece coisa de outro planeta. Vamos exemplificar com uma situação de uso real: aproveitando o retorno de “Stranger Things”, eu resolvi baixar o primeiro episódio da terceira temporada em altíssima qualidade no aplicativo da Netflix, e o 5G não me decepcionou. Em menos de 20 segundos, o vídeo de quase 1 GB de tamanho estava baixado e pronto para ser reproduzido.

Algumas áreas de Seul me trouxeram um resultado melhor do que outras. Quando recebi o S10 5G, eu estava no Palácio de Gyeongbokgung, um monumento histórico da Coreia do Sul, que é um pouco afastada do centro da cidade. Nesta situação, foi difícil encontrar um ponto que me retornasse velocidades superiores a 300 Mbps, e quanto mais eu me aprofundava pelo castelo, mais difícil era sustentar uma conexão 5G, e o celular acabava caindo na conexão 4G convencional. Ao sair da área e voltar para uma região mais movimentada da cidade, o 5G se mostrou mais consistente, o que permitiu alcançar a velocidade de 650 Mbps mencionada previamente.

E isso nos leva à parte negativa do 5G neste primeiro momento da tecnologia. O sonho da indústria de tecnologia e telecomunicações é ir atrás das “ondas milimétricas”, no espectro superior a 24 GHz, para cobertura do 5G, que são frequências muito altas do espectro de radiodifusão e que são praticamente “terra de ninguém”, por serem ocupadas por pouquíssimas aplicações, proporcionando mínima interferência. No entanto, o desafio aqui é que essas ondas são direcionais, têm um alcance curto e possuem dificuldades de penetrar paredes, fazendo com que a cobertura do 5G utilizando essa tecnologia seja particularmente desafiadora. Por este motivo, ela deve ser limitada a algumas áreas de alta concentração de pessoas.

Na Coreia do Sul, as operadoras têm apostado tanto nas ondas milimétricas inicialmente quanto nas ondas “sub-6”, que são frequências mais baixas, abaixo dos 6 GHz (mais especificamente de 3,5 GHz), mas o que foi possível perceber é que ainda assim, a cobertura ainda é frágil. Enquanto eu visitava o castelo, às vezes a diferença entre estar conectado no 4G ou no 5G era apenas uma questão de dar uns três passos para frente ou para o lado, o que indica que a cobertura é bastante pontual. A tendência é que a cobertura melhore com o tempo, mas por uma questão técnica, é bastante possível que sejam necessárias bem mais antenas para manter uma cobertura consistente de 5G do que foi para o 4G.

Já no que tange a latência, o que pudemos observar foi que ela esteve abaixo do esperado pela indústria, que fala frequentemente na promessa de um atraso ínfimo de 1 milissegundo, mas ao rodarmos o aplicativo SpeedTest, a latência esteve bem acima disso. Quando conectado a um servidor em Seul, o resultado consistentemente ficava acima dos 10 milissegundos, chegando até a 15 milissegundos. Já quando rodamos o teste do fast.com, a latência foi muito pior, mas isso tem uma explicação: o site faz o teste conectando-se a um servidor no Vale do Silício, nos Estados Unidos, e isso gera distorções importantes.

*O jornalista viajou para Seul a convite da Samsung

Renato Santino é editor(a) no Olhar Digital