Teoria de Alan Turing explica círculos misteriosos no deserto

Quase 70 anos depois da sua formulação, o conceito do 'padrão de Turing' ajudou ecologistas a entenderem por que certas pastagens desérticas formam naturalmente os chamados 'círculos de fadas'
Renato Mota24/09/2020 17h22

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Alan Turing era realmente um sujeito diferenciado. O matemático inglês estabeleceu as bases teóricas para o desenvolvimento dos computadores modernos, foi um dos pioneiros na pesquisa sobre inteligência artificial e um herói na Segunda Guerra Mundial. E agora, 66 após sua morte, ajudou a resolver um mistério da biologia.

Os chamados “círculos de fadas” são trechos de solo sem plantas que surgem periodicamente em ambientes áridos da Namíbia e no noroeste da Austrália Ocidental. O povo himba, nativo da região, diz que eles são pegadas dos deuses. Sua existência já foi atribuída a cupins sob o solo africano. Mais recentemente, cientistas propuseram que os círculos são o resultado da grama se organizando para aproveitar ao máximo os recursos hídricos.

É nessa última explicação que o trabalho de Turing se aplica. Em um artigo publicado em 1952, o matemático introduziu o que ficou conhecido como “padrão de Turing”: a noção de que certos padrões na natureza, como listras e manchas, podem surgir natural e autonomamente de um estado homogêneo e uniforme se perturbado.  Essas formas podem ser vistas nos sistemas climáticos, em constelações de galáxias e na distribuição da vegetação nas paisagens.

Stephan Getzin/University of Göttingen

Pesquisadores utilizaram o quadricóptero Microdrone md4-1000 e a câmera multiespectral Tetracam Mini MCA-6 para analisar a vitalidade da pastagem. Imagem: Stephan Getzin/University of Göttingen

Para descobrir se há alguma relação entre os círculos de fadas e o padrão de Turing, uma equipe de ecologistas liderada por Stephan Getzin, da Universidade de Göttingen, na Alemanha, usaram drones para examinar pastagens na Austrália Ocidental. De acordo com uma das hipóteses dos pesquisadores, o arranjo dos círculos seria mais forte onde a grama depende mais da umidade.

“O intrigante é que as gramíneas estão ativamente projetando seu próprio ambiente, formando padrões de lacunas simetricamente espaçadas”, explica Getzin, que publicou seus achados no Journal of Ecology. “A vegetação se beneficia do escoamento adicional de água fornecido pelos grandes círculos de fadas e, assim, mantém o ecossistema árido funcional, mesmo em condições muito secas. Sem a auto-organização das gramíneas, esta área provavelmente se tornaria um deserto, dominado por solo”, completa.

As plantas que formam círculos de fadas crescem juntas e de forma cooperativa, moldando o ambiente para melhor lidar com a falta de umidade do ecossistema. “Ao formar padrões de lacunas periódicas, a vegetação se beneficia do recurso hídrico adicional fornecido pelos círculos de fadas”, escreveram os autores no artigo.

Via: ScienceAlert

Editor(a)

Renato Mota é editor(a) no Olhar Digital