Tecnologia no seu olho: saiba o que lentes de contato inteligente podem fazer

A tecnologia vista em 'Black Mirror' ganhou algumas variações ao longo dos anos e promete cumprir múltiplas funções, mas ainda não chegaram ao mercado
Renato Santino31/07/2019 22h19, atualizada em 01/08/2019 11h00

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“Black Mirror” ganhou a atenção do mundo nos últimos anos trazendo atenção para um lado obscuro de tecnologias que, muitas vezes, não estão muito distantes de se tornarem uma realidade. É o caso do capítulo “The Entire History of You”, no qual lentes de contato permitem que uma pessoa grave toda a história da sua vida para relembrar os momentos mais importantes de sua vida.

No entanto, o que muitos não percebem é o quão perto da realidade a tecnologia apresentada neste capítulo de “Black Mirror” está. Nos últimos anos, não faltaram tentativas de criar lentes de contato inteligentes, embora cada uma delas tenha funções diferentes, não necessariamente relacionadas ao que vemos no seriado.

O curioso é que os projetos aparecem em várias etapas do desenvolvimento: às vezes apenas como patente, às vezes como pesquisa, às vezes como protótipo. No entanto, as empresas ainda hesitam em colocar esses produtos por várias questões.

Lente contra diabetes

Reprodução

As lentes de contato do Google foram reveladas no início de 2014, mais como uma ideia do que como um produto. O objetivo da tecnologia era simples: ajudar pessoas com diabetes a manter o controle de seus níveis de glicose fazendo um monitoramento em tempo real. Com a reorganização do Google em Alphabet em 2015, o projeto ficou sob responsabilidade da Verily, empresa do conglomerado responsável por tecnologia ligada à saúde.

Por alguns anos, a empresa se manteve razoavelmente calada sobre o projeto, que permaneceu em fase experimental. No entanto, em 2018, foi confirmado que os planos para a lente foram engavetados por tempo indeterminado.

Segundo Brian Otis, diretor técnico da Verily, a justificativa na interrupção do projeto é uma falta de consistência entre nas medidas de correlações entre a glicose encontrada na lágrima e nas concentrações de glicose no sangue; o comunicado no blog da empresa diz que a consistência não foi o bastante para “sustentar os requisitos de um dispositivo médico”.

Tire fotos com uma piscadinha (da Samsung)

A Samsung também chegou a projetar suas próprias lentes, embora nunca tenha chegado a revelá-las de forma oficial. O plano foi descoberto por meio de uma patente registrada em 2014; o documento detalha lentes de contato inteligentes, que seriam como um Google Glass muito mais discreto, projetando imagens diretamente no olho do usuário.

Mais do que ser apenas uma tela para exibir informações relevantes, a patente também revelava que o projeto inclui uma câmera e sensores de movimento que permitiriam tirar fotos com apenas uma piscadinha.

Uma patente, no entanto, não quer dizer que a empresa tem planos de lançar esse produto no mercado, mas que resolveu explorar a proposta, ainda que apenas internamente. É uma forma de proteger juridicamente uma ideia, que não necessariamente se converterá em algo concreto.

Mais piscadinhas (da Sony)

A Samsung não foi a única empresa a ter a ideia de lentes de contato que permitem fotografar com uma piscadinha. A Sony também registrou uma patente similar, descoberta em 2016, que colocaria uma câmera fotográfica nos seus olhos.

A câmera seria controlada por meio de uma piscadinha voluntária. A empresa diz que é possível distinguir uma piscadela proposital de uma involuntária, tornando o movimento viável para ativação do obturador.

A patente fala também em um sistema de foco automático para o registro das imagens, ajuste automático do tempo de exposição e um zoom ajustável. Só não é muito claro como fazer para ajustar o zoom em um dispositivo como este.

Como no caso da Samsung, até hoje a patente não se converteu em um produto.

Zoom com uma piscada dupla

Essa é recente: trata-se de uma invenção de cientistas da Universidade da Califórnia, em San Diego. As lentes de contato podem ‘dar zoom’ na imagem, bastando que o usuário pisque duas vezes seguidamente para que isso aconteça.

Os cientistas mediram os sinais eletro-oculográficos gerados quando os olhos fazem movimentos específicos (para cima, para baixo, para a esquerda, para a direita, piscam, piscam duas vezes) e criaram uma lente que responde diretamente a esses impulsos elétricos. Ela é capaz de mudar de forma, alterando sua distância focal, dependendo dos sinais gerados. Os polímeros que formam as lentes se “esticam” quando a corrente elétrica é aplicada, tornando-a mais ou menos convexa, o que permite o ajuste do zoom.

Os criadores acreditam que a inovação pode ser usada em ‘próteses visuais, óculos ajustáveis e robótica operada remotamente, no futuro’. Até o momento, também não há previsão de quando a tecnologia será aplicada no mundo real.

Olhar laser

Calma, ainda não estamos falando de trazer à realidade o personagem Cíclope dos X-Men. Uma equipe de pesquisadores da Universidade de Saint Andrews revelou em 2018 uma maneira de colocar emissores de laser em filmes extremamente finos e flexíveis, que seriam aplicados em lentes de contato. A ideia é que a tecnologia pudesse ser usada como um equipamento de segurança.

Renato Santino é editor(a) no Olhar Digital