Desde a década de 1850, sabe-se que alguns animais possuem a habilidade de pausar a gravidez até o momento adequado de ter os filhotes. Entretanto, apenas nos dias atuais os cientistas começam a entender mais sobre a chamada “diapausa embrionária”. Compreendê-la pode trazer benefícios no tratamento do câncer.

A diapausa embrionária está presente em mais de 130 espécies de mamíferos. A pausa pode durar entre alguns dias e 11 meses. À exceção de alguns morcegos, a maioria delas passa por essa fase quando o embrião é uma massa de apenas 80 células, antes que ele se prenda ao útero.

Isso também não é restrito a apenas um grupo de mamíferos. Diversas espécies desenvolveram esta habilidade, conforme necessitavam de uma reprodução mais eficiente. A maioria dos carnívoros é capaz de suspender sua gravidez, incluindo todos os ursos e a maioria das focas, além de vários roedores, tatus, tamanduás e cervos.

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Mais de um terço das espécies que passam pela diapausa embrionária são originárias da Austrália, incluindo alguns gambás e praticamente todas as espécies de cangurus. Uma delas chega a pausar seus embriões por até 11 meses. 

Para os mamíferos, a diapausa embrionária tem uma grande vantagem: ela separa o acasalamento do nascimento. Isso é feito de duas formas pelos animais. A primeira delas é acasalando logo após dar à luz, para ter uma gravidez de “backup“, caso algo aconteça com o filhote recém-nascido. O estresse causado pela lactação ativa uma pausa, que dura até a cria parar de mamar. A segunda forma é pausar a gestação todas as vezes, até que seja o momento correto (geralmente depende da estação). 

O que podemos aprender com a diapausa?

Esse fenômeno foi descoberto em 1854, após caçadores europeus perceberem que a gravidez de uma espécie de cervo parecia durar mais que o normal. Desde então, cientistas estudam o processo, entendendo mais sobre a reprodução nos mamíferos. Porém, o conhecimento necessário para provar a teoria chegou apenas em 1950. 

No entanto, seu funcionamento a nível molecular ainda é um mistério. Até recentemente, não parecia haver qualquer conexão entre quais espécies possuem essa habilidade, assim como não se conhecia um mecanismo que fizesse a pausa na gestação. Até mesmo os hormônios que controlam a diapausa são diferentes entre os mamíferos.

Contudo, uma nova pesquisa sugere que, independentemente dos hormônios atuantes, a sinalização molecular entre o útero e o embrião é a mesma, ao menos entre camundongos e furões. Além disso, pesquisadores da Polônia pausaram embriões de ovelhas ao transferí-los para o útero de camundongos e depois de volta, sem efeitos negativos. Isso indica que a diapausa pode ser uma característica de todos os mamíferos, inclusive humanos.

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Pausar a gestação, porém, não deve ser a norma para nós. Primeiramente porque seria necessário detectar a gravidez cinco dias após a concepção (o momento em que a maioria dos animais começa a diapausa). Entretanto, aprender como isso funciona tem um impacto significativo para o entendimento de como fazer embriões saudáveis. 

O momento em que o embrião entra em suspensão é o mesmo em que ele é transferido para o útero, nas fertilizações in vitro. A diapausa pode ajudar no cultivo de embriões ou no reconhecimento de qual terá mais sucesso. Ela também pode auxiliar na criação de melhores células tronco e a encontrar novos tratamentos contra o câncer. A primeira célula tronco isolada por cientistas saiu de um embrião de rato em diapausa e esses tipos de células são muito similares.

Portanto, o entendimento a nível molecular de como ocorre a diapausa pode levar a novas terapias para impedir a divisão celular ou identificar marcadores de células tronco cancerosas, as suspeitas de serem responsáveis pela metástase do câncer.

Via: The Next Web