“Westworld”, da HBO, rivaliza com “Black Mirror”, da Netflix, como série que melhor ilustra as possibilidades assombrosas da tecnologia. Nela, visitantes pagam fortunas para frequentar um mundo estilo velho-oeste populado inteiramente por robôs com os quais eles podem fazer absolutamente qualquer coisa que quiserem.

Embora pareça que o mundo da série esteja muito distante do nosso, muitas das tecnologias que aparecem por lá já existem hoje em dia – embora num estágio muito anterior. Separamos a seguir sete exemplos de tecnologias que aparecem na série e estão mais próximas do que você imagina. Confira:

 

Robôs que se passam por humanos em conversas digitais

Os robôs de hoje em dia ainda estão longe de enganar humanos em termos de aparência. Mas e numa conversa por mensagens, quando não dá pra ver o rosto da outra pessoa? Nesse caso, os robôs já estão extremamente avançados.

O pai da computação, Alan Turing, conjecturou que se um computador conseguisse convencer humanos de que ele próprio era humano, ele teria verdadeira “inteligência artificial”. Para realizar essa prova, foi criado o “teste de Turing”: nele, juízes conversam por meio de mensagens com máquinas e com seres humanos, e depois precisam determinar quem era robô e quem não era.

Acontece que já existem, desde 2014, robôs capazes de passar nesse teste. Em outras palavras, robôs que conseguem convencer seres humanos de que eles próprios são seres humanos já existem – contanto que você não veja a cara deles.

O Facebook, no entanto, considerou que esse teste não é muito útil. Afinal, o robô precisaria aprender apenas a fingir que é humano, o que não é uma habilidade da qual os humanos poderiam se beneficiar. Por isso, a rede social criou um novo teste para robôs, que você pode ver (e fazer, se quiser) por meio deste link.

Robôs que se passam por humanos ‘ao vivo’

O mais marcante de “Westworld” é que os robôs são, exteriormente, muito parecidos com os humanos. Não apenas sua aparência é idêntica à de uma pessoa, mas seus gestos, suas emoções e até mesmo a sua pele também. Quão perto estamos de ter robôs tão parecidos conosco assim?

Não muito. A maioria dos robôs que existem hoje em dia não têm nada a ver conosco. Isso faz sentido: precisamos de robôs que façam coisas de que não somos capaz; por isso, naturalmente, eles terão formatos diferentes. Mas ainda há alguns esforços importantes no sentido de fazer robôs com cara de humanos.

Muitos deles vêm do entusiasta japonês Hiroshi Ishiguro, professor de engenharia robótica na Universidade de Osaka. Ishiguro e sua equipe já criaram, por exemplo, a Geminoid-F, uma robô de aparência humana que foi a atriz principal de um filme japonês. São eles também os responsáveis pela Erika, uma robô que copia expressões humanas para conversar. Um dos objetivos de Ishiguro, segundo ele mesmo, é criar uma cópia robótica de si próprio antes de morrer.

Robôs que aprendem com interações do passado

“Westworld” começa no momento em que uma atualização aos robôs do parque faz com que eles utilizem eventos de seu passado para refinar seu comportamento. Mas tarde, essa atualização cria uma série de problemas. Mas a pergunta permanece: é possível criar robôs que aprendam com suas “vidas” passadas?

A resposta é sim. Na verdade, já existem hoje diversas tecnologias que dependem de que os sistemas sigam aprendendo com cada nova interação. O teclado do seu smartphone, por exemplo, vai aprendendo, conforme você digita, a lhe sugerir palavras com precisão cada vez maior. Em parte, isso é possível graças às redes neurais.

Por meio de processos de “aprendizagem de máquina” desse tipo, é possível “ensinar” sistemas e robôs a fazer praticamente qualquer coisa. Alguns exemplos de uso dessa tecnologia são ensinar computadores a adivinhar onde uma foto foi tirada, traduzir entre línguas diferentes, imitar vozes humanas e até mesmo criar arte.

Pode-se dizer, por outro lado, que esses processos não fazem com que os robôs sejam necessariamente “vivos”. Mas alguns robôs discordam. Um exemplo é Sophia, um robô que disse ao vivo, em entrevista ao programa “60 minutes”, que tem alma. Em outra entrevista, ela também afirmou que queria destruir os humanos.

Robôs impressos em 3D

Fica evidente logo no começo de “Westworld” que os robôs sofrem bastante nas mãos dos visitantes. A vantagem é que eles podem ser “impressos” em 3D; assim, é possível criar novos robôs com uma velocidade consideravelmente rápida. Esse tipo de tecnologia já está disponível, embora em um nível muito menos sofisticado.

A Intel, por exemplo, reconhece o potencial dessa ideia desde 2014, quando anunciou um robô chamado Jimmy. O Jimmy podia ser impresso quase totalmente em 3D, com exceção de algumas peças como a bateria e o processador. Além de poder modificar as peças antes de imprimir, o dono do Jimmy também podia aprender a programar para ensinar novas habilidades a ele.

No Brasil mesmo, um engenheiro já desenvolveu um projeto de robô humanoide que qualquer pessoa com uma impressora 3D e algum conhecimento de programação pode reconstruir em sua casa. E a vantagem é que como esses robôs usam códigos abertos, cada pessoa que quiser “imprimi-los” pode modificá-los da maneira que preferir.

Esses são apenas alguns exemplos. Há também robôs menores impressos em 3D, como um robô-sapo criado pela Universidade de Harvard. Assim como os anfitriões de “Westworld”, ele tem a vantagem de ser facilmente substituível, caso quebre.

Nenhum desses, contudo, usa materiais de aparência tão sofisticada quanto os dos robôs de “Westworld”. Mesmo isso, no entanto, pode estar prestes a mudar. Recentemente, o MIT conseguiu criar músculos artificiais de nylon que, no futuro, poderão ser usados para criar robôs de aparência mais humana e com mais capacidades de movimento.

Interação por voz

Os funcionários que cuidam da manutenção dos anfitriões de “Westworld” usam comando de voz para interagir não apenas com os robôs, mas também com boa parte dos computadores que usam. Em vez de usar acessórios como mouse e teclado para controlar programas, muitas vezes os funcionários apenas dizem aos computadores o que eles querem, e a máquina responde prontamente.

É fácil perceber que essa tecnologia já existe e está chegando cada vez mais perto do ponto em que é mostrada na série. Os exemplos mais óbvios são os assistentes pessoais de smartphone, como a Siri, a Cortana e o Google Assistente. Mesmo que eles ainda não nos entendam muito bem, esses sistemas são uma espécie de embrião da tecnologia que os personagens da série usam.

De fato, a tendência é que esses recursos se ampliem para chegar até computadores, e para executar uma diversidade cada vez maior de tarefas. A Cortana, por exemplo, já pode ser acessada por voz a partir de PCs com Windows 10, e a Siri também responde a comandos de voz em computadores Mac. O comando de voz do Google, por sua vez, pode ser usado até mesmo em carros.

Smartphones e tablets dobráveis que se conectam a robôs

Reprodução

Quando não estão falando diretamente com os computadores, os funcionários de “Westworld” usam tablets dobráveis que eles levam no bolso. Os tablets se conectam a quaisquer robôs ou objetos inteligentes que estejam por perto, e permitem que os funcionários alterem suas configurações por meio de suas telas.

O aspecto mais estranho desses dispositivos é o fato de que eles podem ser dobrados e desdobrados para ter usos diferentes. Quando estão dobrados, parecem um smartphone com tela grande; desdobrados, assemelham-se mais a um tablet. Trata-se de uma solução de design semelhante à que é utilizada nos atuais notebooks 2 em 1, mas em escala menor.

A empresa que já chegou mais perto de fazer um dispositivo dobrável desse tipo foi a Lenovo, que mostrou um protótipo funcional em junho deste ano. Planos desse tipo, contudo, existem aos montes: rumores de que a Samsung deverá lançar um smartphone dobrável existem há bastante tempo, e uma empresa chinesa alegou que lançaria um ainda em 2016 (o que não aconteceu até agora).

Outra questão, no entanto, seria conectar esses aparelhos a outros dispositivos inteligentes. As conexões, como aparecem na série, são extremamente rápidas e confiáveis. Não é certeza, mas é possível que o recém-lançado padrão Bluetooth 5.0 permita conexões desse tipo. Se não, o Wi-Fi 802.11ad, que está apenas começando a aparecer, talvez permita algo assim.

Reparo instantâneo das máquinas

Uma das tecnologias mais distantes que aparecem em “Westworld”, curiosamente, é uma em que quase não prestamos atenção. A série dá a entender que os anfitriões danificados são reparados completamente de um dia para o outro, voltando a assumir uma aparência e um funcionamento perfeitos logo em seguida. Isso, no entanto, ainda está muito longe de acontecer.

Sem pensar no aspecto estético – afinal, seria muito difícil fazer um robô que apanhou muito voltar a ser o que era antes -, esse tipo de reparo levaria muito mais tempo. A complexidade dos sistemas de robôs como os de “Westworld” provavelmente exigiria muitas semanas de reparos, caso eles sofressem os danos que aparecem na série.

Não se trata apenas de fazer os robôs voltarem a se mexer: seria necessário garantir que nenhuma parte de seus circuitos lógicos estivesse danificada. Caso isso acontecesse, eles poderiam funcionar mal, apresentando comportamentos não-humanos, ou até mesmo violar as regras que foram programados para seguir, o que seria uma possibilidade muito preocupante. Garantir que estava tudo certo, por si só, levaria muito tempo, fora o trabalho de deixar os robôs bonitos novamente.

O mais perto que estamos de ser capazes de realizar reparos tão rapidamente, por enquanto, são tecnologias da medicina. Já existe, por exemplo, um material que ajuda o coração de pacientes a se regenerar sozinho, e um revestimento que faz com que tecidos banhados com ele se recuperem automaticamente de rasgos, falhas e buracos.