Se você usa Android há algum tempo ou acompanha o mercado de tecnologia, sabe que cada atualização do sistema é seguida de milhões de usuários frustrados com o fato de não receber o novo software. Isso é problemático: além de não terem acesso aos novos recursos, também ficam expostos a falhas de segurança oriundas de um software desatualizado.
Mas afinal de contas, de quem é a culpa? Do Google? Da fabricante do seu celular? Da sua operadora de celular? Ou de quem produz seus componentes? Acontece que todos tem responsabilidade nesta situação.
Vamos tomar como exemplo a situação atual do recém-lançado Android Nougat. Poucas empresas divulgaram a lista completa de aparelhos a serem atualizados; as únicas foram a Sony e a HTC, e ambas deixaram muito claro um ponto: aparelhos com mais de 2 anos não serão atualizados. Não parece ser coincidência.
Como analisou e investigou o Ars Technica, uma parte da culpa tem a ver com a Qualcomm, a empresa que colocou seus processadores na maior parte dos aparelhos Android nos últimos anos. A empresa não deve fazer as adaptações necessárias para tornar viável o update para aparelhos com chips Snapdragon 800 ou 801, que estavam em quase todos os tops de linha desde o fim de 2013 (o Nexus 5, por exemplo, com o 800), até mais ou menos a metade de 2014 (Moto X2, por exemplo, com 801).
Como funciona o update do Android, afinal de contas? No início de processo de distribuição do novo software, as fabricantes dos chips quais de seus produtos receberão suporte para a atualização. Eles ganham novos drivers para que o novo Android funcione corretamente com o processador, com a GPU, com o modem, com o Bluetooth… enfim, deu para entender. Estes novos drivers são repassados para fabricantes de celulares, que fazem a mistura com o código do novo Android, jogam por cima suas próprias modificações do sistema e aplicativos e só então liberam para o usuário, desde que o sistema passe nos requisitos de compatibilidade do Google. Se o celular for adquirido com vínculo a uma operadora, ele ainda passa por mais uma etapa antes de chegar ao cliente.
O problema é que se alguma destas partes no parágrafo acima não funcionar, a atualização não sai, pura e simplesmente. Não há como o sistema continuar operando se uma das engrenagens não estiver de acordo com as outras.
E aí voltamos ao Android 7.0. Por que os chips Snapdragon 800 e 801 não recebem os novos drivers? A explicação da própria Qualcomm, concedida ao Ars Technica segue abaixo:
“A Qualcomm trabalha em conjunto com nossos clientes para determinar os dispositivos suportados por várias versões do Android em nossos chipsets Snapdragon. A quantidade de tempo pelo qual um chipset é suportado e as versões de um sistema operacional disponíveis para um chipset em particular é determinado em colaboração com nossos clientes. Recomendamos que você contate sua fabricante para informação sobre o suporte para o Android 7.0 Nougat”.
A declaração não nega que a Qualcomm não oferece suporte ao Android 7.0 em seus chips de 2013 e 2014 e abre a interpretação de que a empresa está passando a responsabilidade a seus clientes, os fabricantes de celulares. Neste caso, a empresa até poderia oferecer o suporte, mas o interesse das fabricantes foi tão pouco que não valia a pena.
A questão é problemática porque cria um ciclo vicioso no qual se torna impossível atualizar um aparelho com mais de dois anos de idade:
- As fabricantes de celulares (Samsung, LG, Motorola, Sony…) não se interessam em lançar updates para modelos antigos porque eles não são muito rentáveis, e vale mais a pena incentivar o consumidor a comprar um celular novo;
- as fabricantes de chips (Qualcomm, MediaTek…) não produzem os drivers por falta de interesse das fabricantes de celulares;
- Fabricantes de celulares que quiserem atualizar aparelhos mais antigos não podem por falta destes drivers.
Assim, quando você quiser culpar alguém, você sabe que a responsabilidade não é só de uma empresa, normalmente. É necessário cobrar todas as partes nesta situação, porque…
- A empresa que fez seu celular não tem interesse em atualizá-lo por um longo tempo;
- A fabricante do chip do seu celular, que, vendo a falta de demanda das montadoras não oferece o suporte adequado;
- O Google aumenta os requisitos de desempenho para os aparelhos, fazendo com que celulares mais antigos não passem nos testes de compatibilidade. Isso além de criar essa bagunça que são as atualizações do Android.