No último sábado, a Rosatom (empresa estatal russa de energia nuclear) lançou ao mar a primeira usina nuclear flutuante do mundo. Chamada de “Academik Lomonosov”, a usina marítima foi construída em São Petersburgo, mas operará na cidade de Pevek, no extremo oriente russo, fornecendo 70 megawatts de energia para cerca de 200 mil pessoas.
Como a usina não tem nenhum mecanismo de propulsão próprio, ela está sendo rebocada por dois outros barcos. Eles a levarão até a cidade de Murmansk, onde ela será abastecida e ligada (o que deve acontecer ainda neste ano). Em seguida, ela seguirá até Pevek. De acordo com o jornal alemão Deutsche Welle, a expectativa é que ela comece a funcionar em 2019, oferecendo energia para os 100 mil habitantes da cidade e para uma usina de dessalinização de água e usinas de extração de petróleo.
Em Pevek, a “Academik Lomonosov” substituirá duas outras usinas que atualmente geram energia para a cidade: uma termoelétrica com mais de 70 anos de idade e outra usina nuclear, que oferecia apenas 48 megawatts de energia. Quando estiver em operação, ela será a usina nuclear ativa localizada mais ao norte do mundo.
Enquanto ela não chega lá, as cidades de Pevek e Murmansk estão realizando obras para permitir que a usina fique estacionada em segurança em seus portos. Segundo o Ars Technica, a ideia de criar uma “usina barco” provavelmente foi motivada pelo fato de que Pevek fica numa região muito distante. Sendo assim, transportar o equipamento necessário até lá custaria ainda mais caro.
Problemas
A construção da “Academik Lomonosov” sofreu os atrasos que poderia se esperar de uma usina nuclear. Em 2015, um noticiário norueguês chegou a afirmar que ela iniciaria seus testes até o final do ano – o que não aconteceu. Em parte, esses atrasos estão relacionados a preocupações ambientais relacionadas à ideia de ter uma usina nuclear boiando por aí.
Segundo o Greenpeace, a ideia inicial da estatal russa era testar a usina flutuante já em São Petersburgo. No entanto, em julho de 2017, graças a uma petição da ONG e a pressão política dos países bálticos, a empresa mudou de plano. “Testar um reator nuclear em uma área densamente povoada como o centro de São Petersburgo é irresponsável para dizer o mínimo”, considera o Greenpeace.
Mas a mudança não significa que a ideia agora é segura. “Reatores nucleares vagando pelo oceano Ártico serão uma ameaça terrivelmente óbvia a um ambiente frágil que já se encontra sob enorme pressão por conta da mudança climática”, disse a ONG. O Greenpeace chegou a chamar o “Academik Lomonosov” de “Chernobyl flutuante”, em referência à usina russa que em 1986 entrou em colapso, provocando a evacuação de diversos centros urbanos e criando uma região até hoje inabitável.
Mais problemas
Para a Russia, segundo o Engadget, a saúde do oceano Ártico não parece ser uma preocupação. Afinal, o derretimento das calotas polares acaba abrindo novas rotas comerciais na região norte do país. Além disso, segundo o Greenpeace, a Rosatom estaria planejando uma “linha de produção” de usinas nucleares flutuantes, e quinze países já teriam demonstrado interesse.
A empresa russa garante que tais usinas são perfeitamente seguras e resistentes a qualquer tipo de incidente marítimo. No entanto, segundo o especialista em energia nuclear do Greenpeace Jan Haverkamp, “a falta de propulsão autônoma e o casco plano da usina flutuante a tornam particularmente vulnerável a tsunamis e ciclones, ao contrário das alegações da empresa”.