Testamos: Zenfone 3 é o melhor intermediário do momento

Renato Santino12/12/2016 21h23, atualizada em 12/12/2016 23h00

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A Asus já está percorrendo o caminho dos smartphones há algum tempo no Brasil, com alguns acertos e erros. Na área de aparelhos de entrada, a empresa acertou em cheio com o Zenfone 5 em preço e qualidade, embora o processador Intel fosse um empecilho em compatibilidade e consumo de energia, mas errou feio com seu sucessor, o Zenfone Go, que era pior que o antecessor.

Já na área intermediária, a empresa se destacou com o Zenfone 2, que tinha um preço altamente competitivo por ser o primeiro celular a ser lançado com 4 GB de memória RAM. A promessa era que ele seria capaz de enfrentar os tops de linha muito mais caros, mas não foi exatamente isso o que aconteceu. Seu design era pouco inspirado, a câmera não chega no mesmo nível dos concorrentes e o desempenho só era comparável aos tops de linha da geração anterior, além da bateria fraca.

O que é possível extrair disso tudo é que houve erros e acertos em termos de preço e qualidade ao longo da trajetória da Asus até chegarmos ao Zenfone 3. A empresa parece ter tirado grandes lições do que foi feito no passado.

Design

Reprodução

Talvez seja a diferença mais gritante entre tudo o que a companhia fez no passado. O Zenfone 3 aposta em uma estética mais próxima do Galaxy S6 e S7, que usa um revestimento em vidro que torna a traseira reluzente e elegante. A comparação com o plástico tosco usado no Zenfone 2 faz parecer com que os dois aparelhos nem são feitos pela mesma empresa.

Outra alteração que fez muito bem ao celular foi a remoção das bordas nas partes superior e inferior, tornando o smartphone mais enxuto. Para isso, a Asus tirou o logo da parte da frente do aparelho (todas as fabricantes deveriam fazer isso) e jogou para trás; além disso, a barrinha dos círculos concêntricos, tão característica da marca, também foi removida, já que não tinha utilidade alguma. No lugar, agora os botões de volume e liga/desliga agora trazem a textura que é típica da empresa.

Isso dito, nem tudo é perfeito no aparelho. A escolha pelo vidro como material de acabamento sempre é criticada por nós do Olhar Digital por dois motivos: a traseira fica com marcas de mão, gordura e impressões digitais com facilidade e passa sensação de fragilidade, de que tudo vai se desmanchar com qualquer impacto, o que impede que ele seja usado com naturalidade.

Apesar dessa sensação, durante nossos testes foi possível perceber que ele não é tão frágil quanto parece, já que o nosso aparelho acabou caindo de uma altura considerável (cerca de 1,5 metro) e ainda assim saiu sem arranhões. Ponto para a Asus, mas também é importante notar que a opção pela traseira de vidro faz com que o celular se torne escorregadio e, portanto, mais propenso a quedas. O Zenfone 3 escorrega na mesa que é uma beleza, então cuidado ao operá-lo sobre uma superfície plana.

Outro detalhe que era incômodo no Zenfone 2 e que não foi mudado na versão 3 são os botões de navegação do Android, que não emitem nenhuma luz, o que dificulta um pouco o uso do celular no escuro. Um corte de custos desnecessário.

Mas, de um modo geral, o Zenfone 3 é um acerto em estética e uma evolução enorme em relação ao modelo do ano passado.

Reprodução

Desempenho

Antes de mergulharmos em termos de desempenho, precisamos deixar claro qual foi o modelo do Zenfone 3 que nós testamos, porque existem três variações do aparelho que carregam exatamente o mesmo nome.

O celular que experimentamos foi a versão mais avançada e cara, que tem 4 GB de memória RAM e 64 GB de armazenamento interno, com tela de 5,5 polegadas, que custa R$ 1.900. Existem versões mais baratas, com 2 GB ou 3 GB de RAM, mas a tela é de 5,2 polegadas (pra que tanta confusão, Asus?), com preço variando entre R$ 1.500 e R$ 1.700, mas não podemos falar sobre elas.

O modelo que nós testamos é um intermediário de altíssima qualidade, capaz de combater de frente o Moto Z Play e a linha Galaxy A da Samsung, sem deixar nada a desejar em desempenho, e com preço inferior. Seu chipset Snapdragon 625 o coloca no mesmo patamar de celulares tops de linha lançados no ano passado, ficando muito perto da velocidade alcançada pelo Snapdragon 810, de acordo com testes de benchmark como o AnTuTu.

Isso significa que usar o Zenfone 3 é uma experiência lisa de um modo geral. Meu celular é um Nexus 5x, do qual eu gosto bastante, mas reconheço suas limitações. Sua memória RAM de apenas 2 GB faz com que o multitarefa capengue em alguns momentos, o que eu não senti com o Zenfone 3, que tem o dobro de memória e um processador basicamente tão potente quanto. Jogos que eu não consigo rodar de forma satisfatória no meu celular funcionaram no Zenfone 3.

O bom desempenho vem aliado de uma bateria de boa duração, resultado do abandono dos processadores Intel da geração passada, que ofereciam velocidade acima da média, mas com o custo de consumir energia demais. O Zenfone 3 equilibra bem as duas coisas.

Nos nossos testes, o celular da Asus ofereceu duração de mais de um dia de uso sem precisar de uma recarga, normalmente chegando às 36 horas de uso sem interrupções. Isso é resultado de uma bateria de boa capacidade (3.000 mAh) e boas escolhas de componentes internos.

Tela

A tela do Zenfone 3 não é exatamente um destaque do aparelho. A versão que testamos tinha um painel de 5,5 polegadas com resolução 1920×1080, o que é uma boa resolução, mas nada acima da média; na verdade, está precisamente na média do mercado.

A opção por não avançar para os displays de 2560×1440, vistos em celulares mais caros como o Galaxy S7 e o Moto Z, é ótima por dois motivos. Primeiro: os painéis Full HD são mais baratos que os de 2K, contribuindo para um produto mais econômico. Segundo: menos pixels concentrados na tela também contribuem para menos consumo de energia, o que faz a bateria render mais.

A Asus optou por restringir o display Super AMOLED ao Zenfone 3 Deluxe, que é uma versão muito mais parruda e cara do celular, o que é uma pena, já que a tecnologia traria maior brilho, mais contraste e economia de energia em comparação com o Super IPS+ aplicado no painel do celular.

Nos nossos testes, o Zenfone 3 até teve bons resultados de visibilidade, possibilitando a visualização da tela em ângulos próximos aos 180 graus, mas sob a luz do Sol não foi tão fácil assim ver o que estava na tela. Isso é algo que a Samsung domina com maestria, mesmo em celulares mais baratos do que o da Asus, como é o caso do Galaxy J5.

Câmera

Reprodução

Eu fiquei honestamente e positivamente impressionado com a qualidade da câmera do Zenfone 3, e admito que não vi nada parecido na faixa de preço a que ele pertence, nem um pouco mais caro (o S7 é melhor, mas muito mais caro).

Vamos começar pelo que mais me impressionou: a capacidade de fotografar com pouca luz. Todo mundo já tentou tirar uma foto à noite, ou dentro de um bar meio escuro e quando foi olhar para a foto ela estava toda cheia de ruído, um efeito granulado que distorceu a imagem original. Eu tive a curiosidade de experimentar fazer uma foto exatamente em uma mesa de bar, e o resultado foi ótimo, sem qualquer granulado. Isso é um ponto muito forte, afinal de contas, com boa luz, qualquer câmera é ótima. É quando está escuro que é possível notar a diferença de qualidade.

A câmera traseira, de 16 megapixels, tem ao seu favor uma boa abertura de lentes de f/2.0, que não chega a ser a melhor do mercado, mas ainda é uma abertura grande quando o assunto são câmeras de celular. Isso faz uma boa diferença nas fotos, já que permite maior entrada de luz, o que melhora muito as fotos em locais escuros porque não é necessário apostar tão pesadamente em software para retocar a imagem capturada pelas lentes, o que acaba causando distorções e ruídos.

A abertura de lente também acaba afetando positivamente outro aspecto da fotografia que é a profundidade de campo, obtendo uma separação interessante entre o objeto da foto e o que está em segundo plano. Você pode perceber como o bonequinho do Mario está destacado na foto enquanto o monitor do plano de fundo está borrado na imagem abaixo. Esse é um efeito difícil de alcançar com lentes de celular, e geralmente só funciona bem em câmeras de aparelhos mais caros, como o Galaxy S7 ou o iPhone 7 Plus.

 Reprodução

Outro ponto em que eu fiquei impressionado com a câmera do Zenfone 3 é o nível de controle oferecido ao usuário mais experiente. Na minha análise do iPhone 7 Plus, eu apontei que a câmera era ótima, mas pecava em não dar alternativas ao fotógrafo mais avançado. O celular da Asus, muito mais barato, oferece um bom modo automático para quem não quer ter essas preocupações, mas também não poupa ajustes finos, permitindo aumentar radicalmente o tempo de exposição para vários segundos (ótimo para quem quer desenhar com luz) ou reduzi-lo para milésimos de segundo, que é bom para aquela fotografia instantânea, mas depende de uma iluminação muito forte. As opções também incluem controle de foco e ISO.

Há de ser destacado também que, na faixa de preço, o Zenfone 3 é o único a oferecer estabilização óptica de imagem (OIS), que ajuda a compensar possíveis tremores nas mãos na hora de fotografar e gravar vídeos. Nos nossos testes, o aparelho pecou em suavizar totalmente o impacto de passos na hora de gravar um vídeo andando, o que causou um efeito gelatina nas imagens, mas o resultado ainda é muito melhor do que qualquer aparelho sem OIS. O iPhone 7 Plus foi muito mais capaz de suavizar o efeito dos passos, mas é um aparelho que também custa muito mais caro, então a comparação é injusta.

Você pode ver outras imagens capturadas com a câmera do Zenfone 3 abaixo. Clique nelas para vê-las em tamanho cheio.

Reprodução

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Software

Se há algum ponto em que o Zenfone não evoluiu muito foi em software. A Asus ainda não conseguiu acertar a mão com a ZenUI, que ainda é carregada e exagerada demais, descaracterizando bastante o Android.

A empresa ao menos teve o bom senso de diminuir o número de aplicativos pré-instalados que vêm com o aparelho. Ao usar o Zenfone 2, o primeiro passo era gastar uma hora inteira desinstalando 40 apps inúteis e desativando outros que não podem ser removidos totalmente, o que está longe de ser uma experiência ideal. O Zenfone 3 não tem tantos apps pré-instalados, mas ele inova em um aspecto: ao conectar o aparelho na internet pela primeira vez, ele baixa aplicativos que o usuário não solicitou, mas pelo menos é possível cancelar o download.

Para tirar proveito máximo do Zenfone 3, é necessário algum tempo de uso para domar o excesso de recursos da ZenUI. São muitas notificações desnecessárias chegando a todo instante, são muitos recursos supérfluos que podem ser confusos para o usuário menos experiente.

Se há alguma coisa que o Zenfone faz bem em termos de software são as opções de personalização. Afinal de contas, um dos grandes atrativos do Android em comparação com o iOS é a capacidade de dominar mais profundamente o sistema, e a ZenUI leva este conceito a sério, com opções estéticas, criação de atalhos, modificações de ícones e tudo mais que um fanático por customização gostaria.

Para ficar atento: o Zenfone 3 carrega o Android 6.0.1 (Marshmallow), que não é a versão mais recente do Android. A Asus não tem um bom histórico de atualização de seus celulares, com o Zenfone 2 recebendo a atualização da versão 5.0 para a 6.0 um ano depois do lançamento e três meses após o prazo prometido inicialmente.

Conclusão

O Zenfone 3 é o melhor intermediário premium do mercado no momento. Nenhum celular nessa faixa tem um equilíbrio tão bom entre desempenho, câmera, bateria e preço. O Moto Z Play é hoje o principal competidor ao celular da Asus, e até chega a ser melhor em termos de bateria, mas é um pouco mais caro (comparando preços, encontramos o Zenfone por R$ 1.700 à vista, contra um R$ 1.800 do Moto Z). Ainda assim, o Zenfone 3 testado ainda tem 4 GB de RAM contra 3 GB do Moto Z.

Isso não significa que o aparelho da Asus seja perfeito. A tela dele poderia ser melhor, a ZenUI ainda é algo que precisa ser profundamente repensada, com menos apps pré-instalados, menos bagunça, e menos notificações desnecessárias. A escolha do vidro torna o celular radicalmente mais bonito que o Zenfone 2, mas também passa a sensação de fragilidade, além de se transformar em ímã de impressões digitais e marcas de mão.

Porém, mesmo com todos esses defeitos, o aparelho ainda se destaca na faixa de preço mais concorrida do momento e é a melhor opção para quem procura pagar até R$ 2.000 em um celular.

Renato Santino é editor(a) no Olhar Digital