Testamos o iPhone 7: a união de excelência e inconveniência

Renato Santino10/11/2016 19h28, atualizada em 11/11/2016 02h01

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O iPhone 7 e o iPhone 7 Plus são a quebra de um paradigma que já durava quase 10 anos para a Apple. Pela primeira vez, a empresa ignorou sua sequência que previa o lançamento de um aparelho com estética nova em um ano (iPhone 4, 5, 6), e no ano seguinte um refinamento da tecnologia, com o ciclo S (4s, 5s, 6s). O iPhone 7 fura essa sequência, mantendo o mesmo design dos dois aparelhos anteriores.

Então, não é possível afirmar que o iPhone 7 tem um design inovador, muito pelo contrário. Ele parece uma tentativa de a empresa ganhar tempo enquanto prepara algo maior para o décimo aniversário do celular. A menos que você considere a modificação da posição das linhas de antena como um grande avanço estético.

Isso não significa necessariamente algo ruim, apenas quer dizer que não há inovação neste aspecto. O iPhone 7, portanto, compartilha as mesmas qualidades que fizeram seus antecessores serem um sucesso, que é um visual elegante e sóbrio com materiais refinados e que tornam o toque agradável.

Isso dito, a principal novidade do iPhone 7 e do 7 Plus é uma polêmica. Sob a justificativa de ter a “coragem” de mudar, a empresa optou por remover o conector de 3,5 milímetros usado pelos fones de ouvido. Esta coragem divide opiniões. Alguns veem como uma decisão de design que ativamente atrapalha a vida do usuário em vez de simplificá-la, forçando a adquirir fones novos ou a conviver com adaptadores; outros dizem que o conector já era uma tecnologia ultrapassada, como um leitor de disquetes, e que alguém precisa dar o primeiro passo para substituí-la. Eu me vejo entre o primeiro grupo.

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Qualquer que seja sua posição sobre a extinção da entrada de fones, para usar o iPhone 7 você precisa estar de acordo com a visão da Apple para o futuro. E essa visão de futuro inclui este obstáculo inicial dos fones, porque a empresa pretende forçar o avanço da tecnologia sem fio, com fones Bluetooth, deixando uma entrada física apenas para carregar o celular (pelo menos até que a recarga sem fio chegue a um patamar aceitável). Se você não concorda com esta visão, sinto informar, talvez seja melhor procurar um Galaxy S7 ou algum outro smartphone Android top de linha de sua preferência, exceto o Moto Z, que tem a mesma decisão de design do iPhone 7.

Portanto, para usar o iPhone 7 você precisa estar disposto a gastar dinheiro com novos fones ou abraçar uma vida de adaptadores, que felizmente são disponibilizados na caixa junto com um par de fones compatíveis com a entrada Lightning. A empresa poderia suavizar esta transição incluindo os AirPods na embalagem para os compradores, mas provavelmente julgou que isso acabaria por encarecer ainda mais o celular. Afinal de contas, os fones custarão R$ 1,4 mil no Brasil.

A remoção da porta de fones, no entanto, permitiu à Apple adicionar outras coisas no celular. O iPhone ganhou mais espaço interno para componentes, o que acabou se refletindo em outras melhorias, sendo a mais notável o fato de que agora o iPhone é resistente a água. Ele não é à prova d’água, apenas resistente. Isso significa que não foi feito para você mergulhar com o smartphone em mãos, mas que vai sobreviver se por um acaso for derrubado em uma banheira ou no vaso sanitário. A questão é que outros aparelhos conseguiram fazer isso antes da Apple sem remover a porta P2.

Além disso, se ficou mais difícil usar fones no iPhone, pelo menos ouvir música sem eles ficou melhor. A Apple conseguiu instalar um sistema de som estéreo que melhora demais a reprodução de áudio no celular. Já era hora de alguma mudança, porque estava ficando feio um smartphone top de linha, o mais vendido no mundo, ainda preso a um sistema de som em mono.

O botão Home foi outro que recebeu mudanças aproveitando o espaço vago internamente no iPhone 7. Curiosamente, o botão não é mais um botão no sentido literal da palavra, mas é algo que talvez muitos usuários não percebam. A Apple aplicou uma tecnologia chamada Taptic Engine que simula a sensação de um clique quando reconhece que o usuário aplicou pressão na área redonda abaixo da tela. Na prática, a tecla não se move e apenas vibra quando pressionada. Isso traz uma grande vantagem: o Home não vai mais quebrar, o que era o defeito mais comum em iPhones. Contudo, há a desvantagem de que o botão não reconhece toques com luvas, o que pode ser péssimo em dias frios no sul do Brasil; em países onde faz frio de verdade, a situação é ainda pior.

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Um ponto em que a Apple manteve sua tradição, no entanto, foi com o processador, que teve sua numeração aumentada, saltando do A9 para o A10, agora com quatro núcleos de processamento. A empresa também acrescentou um sobrenome ao chip, cuja alcunha completa passou a ser A10 Fusion. O nome extra pode ser irrelevante, mas o bônus em desempenho que ele trouxe ao celular certamente não é. Segundo o teste AnTuTu, o iPhone 7 Plus é o celular mais rápido do mercado, e isso inclui também os aparelhos Android, com o iPhone 7 ocupando a segunda colocação. A diferença entre o resultado dos dois se deve ao fato de que o aparelho maior tem 3 GB de memória RAM contra apenas 2 GB do irmão menor.

A vantagem se reflete em usabilidade. Todos os aplicativos rodam de forma lisa, o que se deve em muito à forma como a Apple lida com software e hardware. A partir do momento em que só há dois iPhones por ano e um tipo de iOS, todos os aplicativos podem ser otimizados para rodar da forma mais perfeita possível, reduzindo bugs e travamentos aleatórios, trazendo um grande ganho de desempenho.

A evolução do hardware do iPhone trouxe uma segunda vantagem além do puro poder de processamento. O processador se tornou mais eficiente, o que se reflete em economia de bateria e maior tempo de uso entre uma recarga e outra. Isso é especialmente verdade no iPhone 7 Plus, que pode abrigar mais energia por ser maior, com 2.900 mAh contra 1.960 mAh do aparelho menor. Os celulares conseguem aguentar entre uma e duas horas a mais de uso do que seus antecessores, mas ainda não chega a superar um dia inteiro de uso como alguns de seus competidores Android. Acostume-se a carregar o celular de 12 em 12 horas, o que não chega a ser uma marca ruim, já que é tempo o bastante para aguentar um dia de trabalho.

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No entanto, a principal evolução, especialmente quando falamos do 7 Plus, é a sua câmera. A Apple decidiu seguir um caminho que não é exatamente novo, mas que foi pouco seguido até então: duas lentes traseiras, ambas com 12 megapixels. Uma delas é grande-angular com uma grande abertura de f/1.8 e captura imagens mais amplas, com um ângulo maior; a outra é teleobjetiva com abertura de f/2.8, que retrata objetos de uma forma mais próxima, funcionando efetivamente como um zoom óptico de 2x. É algo que o LG G5 já fazia e que é uma novidade bem-vinda no iPhone.

O que o iPhone 7 Plus trouxe de novo em termos de câmera só chegou, na verdade, com a atualização para o iOS 10.1. A empresa implantou o modo Retrato nas opções de fotografia, que usa as duas lentes em conjunto para criar uma única imagem, separando o objeto da foto do plano de fundo e criando um efeito bokeh, que tira o foco do plano de fundo da imagem. A diferença de outros aplicativos que fazem esta mesma função é que a câmera do iPhone faz isso em tempo real, sem depender de ajustes após o clique, como faria uma câmera DSLR muito mais avançada que as câmeras de celular. Este recurso, no entanto, funciona apenas em situações de boa iluminação e em condições específicas em que o objeto da foto está a uma distância ideal da lente.

Apesar de ser uma evolução sobre a câmera do iPhone 6s, que já era muito boa, é importante ressaltar que a Apple continua pecando em opções de ajustes avançados para a fotografia. Chega a ser triste comparar as ferramentas oferecidas por um Galaxy S7, que permitem controlar foco, ISO, tempo de exposição nos mínimos detalhes, enquanto o iPhone 7 Plus só oferece a opção de ligar ou desligar o HDR. Para quem entende um pouco mais de fotografia e gostaria de ter maior controle sobre suas imagens, é frustrante.

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Um outro recurso importante da câmera que merece elogio é o sistema de estabilização óptica presente nas lentes do aparelho, que são capazes inclusive de anular a tremulação das mãos e até mesmo manter a imagem estável quando você está fazendo um vídeo andando. Em nossos testes aqui na redação, colocamos o iPhone 7 Plus lado a lado com um LG G5 SE e fizemos ambos gravarem simultaneamente uma breve caminhada seguida de uma corridinha leve. Foi notável a maior capacidade do celular da Apple em manter a imagem estável, e a diferença foi intensificada quando o movimento ficou mais intenso, na parte da corrida.

Houve outro ponto de evolução dos novos iPhones em comparação com os do ano passado que a Apple atribui à ausência da entrada de fones. Mesmo sem trocar a tecnologia, que ainda é LCD IPS, a tela melhorou sem precisar aumentar em resolução, provando que não é só com um alto número de pixels por polegada que se faz um bom display. O painel agora reproduz mais cores, apresenta melhor contraste, e a resolução mais modesta do que os absurdos de 2K e até 4K no ecossistema Android ainda permite economia de bateria. O brilho também alcança altos níveis, permitindo boa visibilidade mesmo em dias de sol forte. Isso dito, ainda é uma sensação mais impactante olhar para a tela de um S7, mesmo que esta reação seja causada artificialmente pela supersaturação das cores nos painéis AMOLED da Samsung.

Conclusão

Elas não são inovadoras, mas as duas versões do iPhone 7 continuam sendo boas opções para quem está disposto a pagar por um smartphone top de linha. Por fora, ele não muda em quase nada, mas por dentro houve melhorias importantes de hardware que fazem ele ser um monstrinho de desempenho incomparável, e sua câmera continua entre as melhores do mercado, especialmente com o iPhone 7 Plus, que consegue usar duas lentes em conjunto para criar uma foto melhor.

No entanto, o iPhone 7 é feito para quem está pronto para entrar de cabeça no mundo da Apple e comprou a ideia de que a entrada de fones é supérflua. O fim da porta deu origem a melhorias no som, na bateria e na tela, além da resistência à água, mas é perfeitamente compreensível que a troca não seja satisfatória para muitos. Quem não está disposto a embarcar em um mundo sem fio ou lidar com adaptadores talvez esteja mais bem servido com um Galaxy S7. O iPhone 6s também está aí no mercado e continua uma boa opção que agora ficou mais barata para quem não quer saber do Android.

Renato Santino é editor(a) no Olhar Digital