Chegou aquela época do ano: o Android 11 está oficialmente entre (alguns de) nós. O Google liberou a versão final do sistema operacional, disponível a partir desta terça-feira (8). Como já é tradição, o sistema operacional está liberado para os celulares Pixel, do próprio Google, mas neste ano alguns aparelhos se juntaram à seleta lista do dia 1: OnePlus, Xiaomi, Realme, Oppo e Vivo já confirmaram que alguns dispositivos receberão a atualização imediatamente.

Para a maioria das pessoas, a oportunidade de usar o Android 11 virá mais tarde; quem usa um celular top de linha deve receber uma atualização ao longo dos próximos meses, mas para uma boa parte do público, que usa aparelhos mais antigos, isso acontecerá apenas no fim de 2021, ou a atualização pode nunca vir, e o primeiro contato virá apenas quando um novo aparelho for adquirido.

Mesmo assim, uma nova versão do Android é sempre motivo de celebração… mas o que ela tem de novo, afinal de contas? E a atualização vale a pena? Felizmente, o Olhar Digital teve a oportunidade de testar o sistema em um Pixel 3a XL e traz para você o que foi possível observar ao longo de um mês de testes:

Desempenho

Uma preocupação grande com uma atualização de sistema operacional é como ela afetará a capacidade do celular em realizar suas funções. Considerando que a atualização em questão foi aplicada em um Pixel 3a XL, que é um aparelho de 2019 e não é um top de linha, essa preocupação era ainda maior no momento da instalação.

Felizmente, não foi o que percebi durante o período em que usei o Android 11 no meu celular pessoal. Mesmo enquanto rodava a versão beta do sistema antes do lançamento, não percebi nenhuma perda significativa de desempenho, o que é um bom sinal para a versão definitiva, que é mais otimizada.

Da mesma forma, não percebi uma perda significativa de autonomia de bateria. O Pixel 3a XL já é conhecido por ter uma bateria resistente e felizmente não houve uma piora neste aspecto. Isso dito, infelizmente essa impressão pode ser afetada pelo fato de que, trabalhando de casa e passando menos tempo em deslocamento, meu uso do smartphone despencou nos últimos meses, o que pode afetar a análise de consumo de energia do aparelho. Ainda assim, mesmo nesse padrão novo de uso, não houve mudança significativa antes e depois da atualização.

Um novo foco em privacidade

A Apple há anos vende o iPhone como a opção para quem se preocupa com privacidade. E há alguns bons motivos para isso. O Google sempre teve uma abordagem mais solta com o sistema operacional, dando mais liberdade para desenvolvedores se engajarem em práticas não tão honestas assim para rentabilizar seus aplicativos.

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Com o Android 11, o Google entendeu que o momento é outro. Regulamentações como a LGPD no Brasil e a GDPR na Europa ditam um novo padrão de controle sobre a coleta de dados dos usuários, e a empresa parece ter entendido que não é mais uma boa ideia do ponto de vista de reputação (e também pelo ângulo jurídico) essa posição de “lavar as mãos” sobre o comportamento dos apps em seu sistema operacional.

Talvez a mudança mais gritante neste aspecto são as permissões do sistema operacional, que é um aspecto que vem mudando e melhorando a cada versão. E, sim, o Google tem olhado para o que a Apple faz e copiado, o que não é nenhuma vergonha. Com o Android 11, finalmente o usuário poderá fornecer permissões temporárias para que algum aplicativo realize uma função.

Muitos apps dependem de informações extremamente sensíveis para funcionar adequadamente, como dados do GPS do seu celular. No entanto, alguns apps abusam disso para continuar coletando informações sobre o usuário mesmo depois de já terem cumprido sua utilidade. O usuário esquece o app instalado, mas o app não esquece do usuário. Felizmente, agora o Android reconhece aqueles aplicativos que não são mais utilizados e remove suas permissões de forma automática. Se você voltar a utilizá-lo, será necessário dar uma autorização nova.

Outra função importante ligada às permissões é a possibilidade de dar a um aplicativo a oportunidade de acessar essas informações apenas uma vez. Depois que o app for fechado, ele já não tem mais nenhuma autorização, e precisará solicitá-la novamente da próxima vez que for aberto.

Cara nova para uma nova era

Aos poucos, o mundo tecnológico está mudando. Talvez essa tendência ainda não tenha ganhado tanta força aqui no Brasil, mas pelo resto do mundo, a casa conectada já é uma realidade. A internet das coisas é a grande aposta de curto e médio prazo da indústria, e o Android 11 já se prepara o celular para essa realidade em que você a maioria dos equipamentos da sua casa terá um endereço IP para conectar-se à rede.

A grande novidade nesse aspecto é um novo menu no botão de energia do aparelho, que mostra todos os equipamentos ligados em sua conta vinculados ao Google Home, que permite acesso mais rápido a funções, como ligar e desligar uma lâmpada, uma televisão ou um console de videogame. Até então, o usuário precisaria dar um comando de voz ao Google Assistente para isso, ou então abrir o app do Google Home, mas agora essa opção está integrada ao sistema operacional de forma nativa e de forma muito simples de usar. Minha casa tem poucos aparelhos deste tipo, mas eu consigo imaginar como isso será útil quando pessoas tiverem dezenas de dispositivos conectados à rede.

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Outro ponto que sinaliza uma mudança no perfil do mercado de tecnologia tem a ver com a transmissão de mídia para diferentes saídas de áudio. Não é incomum ter múltiplos dispositivos de áudio Bluetooth, como um par de fones de ouvido e caixas de som espalhadas pela casa. Alternar entre esses dispositivos externos ficou mais fácil, com um menu rapidamente acessível diretamente pela notificação do seu aplicativo.

A felicidade são as pequenas coisas

Muitas vezes, pelo menos para mim, não são as grandes mudanças que são as mais interessantes em uma nova versão de um sistema operacional, mas sim as pequenas mudanças que não visam revolucionar a experiência de uso, mas sim proporcionar mais qualidade de vida ao usuário.

O Android 11 tem algumas dessas mudanças. A mais evidente entre elas é que, finalmente, o sistema operacional tem finalmente a capacidade de gravar vídeo da tela sem depender de um aplicativo dedicado a isso. Vários aparelhos já saíam de fábrica com esse recurso, mas eles eram inclusos no celular por ação da fabricante; agora ele está disponível nativamente no sistema operacional.

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Uma mudança que pode ser bem-vinda para alguns e não tanto para outros é a instituição dos balões de conversa como parte do sistema operacional. Sabe as “cabeças flutuantes” do Facebook Messenger? Agora elas são padrão do Android e podem ser utilizadas por vários aplicativos, o que unifica as conversas de múltiplas fontes em uma única interface.

Ainda sobre conversas, o Android agora permite dar prioridades a chats com determinadas pessoas, que aparecerão sempre no topo da janela de notificações e podem até mesmo furar o bloqueio de notificações da ferramenta “Não perturbe” do sistema operacional. Então, por exemplo, por exemplo, você pode desativar totalmente as notificações do aparelho antes de dormir, mas dando liberdade para que uma mensagem de alguém importante como sua mãe ainda gere uma notificação sonora.

Vale a pena?

Não tem como recomendar ou deixar de recomendar uma versão de um sistema operacional, especialmente no caso do Android, em que a distribuição da atualização acontece de forma tão heterogênea, em momentos tão distintos.

Muitos dos recursos novos podem só poderão ser aproveitados dentro de alguns anos, quando as pessoas comprarem um celular novo; para tantos outros, a atualização pode demorar meses, ou até mais de um ano para ser lançado. Além disso, pela forma como o Android funciona e a liberdade que o Google dá aos desenvolvedores, muitas das novidades podem sequer ser evidentes para outros aparelhos que não sejam da linha Pixel.

Isso dito, é bom ver a lista de aparelhos com suporte ao Android 11 no dia 1 do lançamento, torna mais animadoras as perspectivas de redução da fragmentação do ecossistema. O Google tem tomado providências para minimizar a dependência das fabricantes na hora de distribuir atualizações para fazer com que elas cheguem mais rapidamente aos usuários, e essas iniciativas parecem estar dando algum resultado.

Ainda assim, o Android 11 marca uma direção nova e interessante para o Google, com preocupações mais profundas com privacidade que são bem-vindas em um momento em que a “era da inocência” da tecnologia acabou; não dá para contar com a boa vontade dos desenvolvedores para garantir a segurança dos dados dos usuários.