A Microsoft nasceu em 1975 e se firmou no mercado internacional como uma empresa de software. Ela até já vendeu hardware para consumo, como a linha Surface, e soluções de infraestrutura para empresas, mas seu nome é reconhecido mesmo como o dos responsáveis pelo Windows e pelo Office.

Mas, em 2018, software foi o ponto fraco da Microsoft. Aconteceu de tudo: updates de segurança que quebraram o sistema de boot de algumas máquinas, uma grande atualização para o Windows 10 teve que ser interrompida por conta de arquivos desaparecendo e até o Office teve problemas com patches.

O Windows 10 foi o personagem principal num ano cheio de bugs para a Microsoft. O sistema operacional, que se tornou um serviço com mais de 700 milhões de usuários no mundo todo, ganhou o novo status em 2015 com uma atualização gratuita e se tornou o carro-chefe da Microsoft na relação com clientes.

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Desde então, o Windows não recebe mais atualizações que requerem novas licenças. Em vez disso, a Microsoft dispara duas grandes atualizações de recurso por ano: uma no primeiro semestre e outra no segundo. Os updates trazem novos recursos e algumas pequenas mudanças de visual, mas nada drástico como o salto do Windows 7 para o 8, por exemplo.

Até 2017, tudo foi bem com este esquema. Mas a primeira atualização de 2018 já foi problemática. O grande update do primeiro semestre, programado para ser lançado em abril, teve lançamento adiado após meses de testes com usuários do programa Insider graças a um defeito consideravelmente grave.

A atualização causava a temida Tela Azul da Morte. Corrigido o bug, o update foi lançado, mas voltou a causar problemas. Usuários reclamavam que a nova versão do Windows estava travando em computadores desktop e congelando o Google Chrome em alguns casos. Lá foi a Microsoft consertar mais este problema.

No mês passado, a Microsoft lançou o prometido Update de Outubro, a segunda grande atualização do ano, e novamente encontrou problemas graves. A atualização fez com que arquivos de alguns usuários fossem simplesmente apagados arbitrariamente. O problema foi tão grande que a empresa teve que suspender e adiar indefinidamente o lançamento da atualização.

O update “de outubro” acabou sendo lançado em novembro e continua causando problemas. No mesmo período, um outro bug fez máquinas com Windows 10 Pro serem desativadas repentinamente. E, mais recentemente, patches do Office 2010 foram suspensos por problemas com usuários no Japão.

Como tantos defeitos chegaram ao público?

Toda atualização do Windows passa por um longo período de testes como parte do programa Insider. Cada teste passa por sete fases, sendo três delas internas (apenas para funcionários da Microsoft). Ou seja, o público comum pode experimentar updates do Windows antes que eles sejam oficialmente lançados com meses de antecedência.

Peguemos como exemplo a versão 1809, o Update de Outubro (que saiu em novembro) e que fez arquivos desaparecerem. A atualização passou por quatro fases de testes com usuários do programa Insider. Neste período, diversas pessoas relataram à Microsoft o problema de arquivos sumindo. Por que o problema não foi corrigido antes do lançamento do sistema?

O site Windows Central descobriu que os engenheiros da Microsoft acabaram se “confundindo”. Os relatos dos usuários que tiveram arquivos apagados citavam dois defeitos diferentes, sendo um deles de baixa gravidade e o outro de alta gravidade. A Microsoft corrigiu um e achou que o outro era a mesma coisa. Mas não era.

A empresa não confirma este relato. Já Hal Berenson, um ex-engenheiro que fez carreira na Microsoft, supõe que o update problemático da versão 1809 tenha sido causado por um ajuste no sistema feito para corrigir o desaparecimento de arquivos que não servia para todos os casos. “Eu vi isso acontecer muitas vezes”, ele escreveu no Twitter.

No fim das contas, talvez nunca saberemos o que houve para que tantos updates fossem liberados com defeito. A Microsoft não deu explicações detalhadas em nenhum caso até agora. A empresa se limita a dizer que atualizar o Windows 10 é difícil e que nem sempre as coisas saem do jeito que ela imaginava.

Uma possível explicação seria a demissão em massa de diversos STEs (Software Test Engineers, ou engenheiros de teste de software) um ano antes do lançamento do Windows 10. De lá para cá a Microsoft tem dado mais atenção ao feedback de desenvolvedores privilegiados e usuários do Insider. Mas esta estratégia claramente tem deixado lacunas.

O que será dos próximos updates?

Com um ano tão conturbado, muita gente tem ficado reticente em relação ao Windows. Afinal, devo atualizar meu PC assim que um novo update é lançado? Quais são as chances de esta nova versão apagar meus arquivos, travar meu computador ou prejudicar meu trabalho de forma irremediável?

A Microsoft parece consciente de que houve problemas com o feedback loop do Windows Insider. O programa de testes foi criado especialmente para o Windows 10 e tinha como objetivo tornar o processo de evolução do sistema operacional mais transparente e envolver melhor o público consumidor.

Mas os casos de bugs relatados e não corrigidos a tempo deixaram muitos participantes do Insider igualmente reticentes. A Microsoft publicou recentemente uma série de posts em seu blog oficial com o objetivo de esclarecer que não está satisfeita com a forma como o feedback dos testadores foi tratado. E prometeu mudanças para 2019.

“Com o Windows 10, nós trabalhamos para oferecer qualidade a mais de 700 milhões de dispositivos Windows 10 ativos por mês, mais de 35 milhões de títulos de aplicativos com mais de 175 milhões de versões de aplicativos e 16 milhões de combinações exclusivas de hardware/driver”, justificou-se Michael Fortin, vice-presidente corporativo da Microsoft.

“Até mesmo um processo de detecção de múltiplos elementos deixará de detectar problemas em um ecossistema tão grande, diverso e complexo quanto o Windows”, disse o executivo. “Nosso foco até agora esteve quase exclusivamente em detectar e corrigir problemas rapidamente, mas agora vamos aumentar nosso foco em transparência e comunicação.”

A expectativa dos usuários e clientes corporativos é de que esta nova postura realmente resulte em atualizações mais confiáveis. O Windows 10 é o sistema operacional mais usado do mundo em PCs, e o Office é o pacote de produtividade mais popular do mercado. A Microsoft agora tem o desafio de provar que continua especialista naquilo que sempre foi o seu forte: software. E com estabilidade.