O que significaria a perda do Android para Huawei?

Empresa sofreria um baque com a proibição
Renato Santino21/05/2019 01h51

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A Huawei voltou oficialmente ao Brasil na semana passada, mas o lançamento do P30 Pro foi completamente ofuscado com a notícia de que a empresa teve o suporte ao Android em seus aparelhos encerrado pelo Google. O governo dos EUA chegou a anunciar a suspensão temporária da restrição, mas o fato é que, até o momento, a parceria tem um prazo de expiração claro marcado para agosto deste ano. Mas o que isso significa de fato? O Android não tem o código aberto?

É importante entender primeiro a diferença entre o Android e o AOSP (Android Open Source Project) para entender o verdadeiro impacto sobre a Huawei. O AOSP é, como seu próprio nome diz, um projeto de código aberto. Isso significa que, resumidamente, qualquer empresa pode instalar o software em seu celular e vender o produto para o público sem dever absolutamente nada ao Google.

De fato, é isso que acontece muito frequentemente na China, onde o Google não pode prestar seus serviços normalmente. As fabricantes se valem da liberdade do AOSP e fazem suas modificações no sistema operacional à vontade. A única coisa que elas não podem fazer de jeito nenhum é pré-instalar os aplicativos do Google, como YouTube, Google Maps e tantos outros e, mais importante, o Google Play Services e a Google Play Store.

Estes dois últimos aplicativos são a alma do que forma o Android, e não estamos mais falando do AOSP. O Android é uma marca que pertence ao Google, de forma que nenhuma fabricante pode usar esse nome sem a autorização da companhia. Para usar esse nome e pré-instalar o Google Play Services no celular as marcas de smartphones precisam aderir a uma série de normas que determinam como o sistema deve se comportar.

Quando o Google decide revogar a licença da Huawei ao Android, significa que a empresa continuará tendo a liberdade para usar o AOSP como base dos seus celulares. No entanto, a empresa não poderá usar mais nada que tenha relação com o Google em seus aparelhos, se a decisão se sustentar. Pelo menos até o momento, o Google diz que os celulares já lançados pela Huawei não serão afetados, e continuarão recebendo suporte aos apps como antigamente.

Mas não se sabe até quando esse suporte vai. Os celulares da Huawei que já estão no mercado terão direito a receber a próxima versão do Android? Pelo que tudo indica até o momento, não. No entanto, as atualizações mensais de segurança liberadas pelo Google ainda estarão disponíveis para a Huawei.

As implicações para a Huawei

Sem o Google, o celular da Huawei perde completamente o apelo nos mercados ocidentais. A empresa gastou os últimos anos investindo pesado para se afastar do estereótipo chinês de produtos de baixa qualidade, mas esse fato único pode fazer ruir todo esse trabalho de anos, que fez a empresa se tornar uma das líderes de mercado na Europa e também na América Latina.

Na China, a Huawei conseguiria manter uma posição privilegiada. Afinal de contas, em seu país de origem, a empresa já está acostumada a vender celulares sem os serviços do Google, e o público também está acostumado a esse tipo de aparelho. O boicote do governo dos EUA não afetaria a chinesa em seu território, que é um mercado enorme, e certamente do seu interesse.

No entanto, ao sair de seu país natal, a Huawei encontraria grandes dificuldades em mostrar a capacidade de seus celulares sem o Google Play Services e a Google Play Store. Sim, o Android é um sistema que dá liberdade aos usuários e permite a instalação destes serviços por canais “alternativos”, mas não é qualquer usuário que sabe fazer isso e não deveria ser obrigação deles ter esse conhecimento para usar um smartphone da melhor forma possível.

E mesmo se o banimento vier a ser temporário, os danos à marca da Huawei poderão ser irreparáveis. Afinal de contas, basta que um usuário compre um celular e descubra que ele não tem acesso aos milhões de aplicativos na Google Play Store para que a reputação da Huawei no Ocidente seja manchada.

Um sistema operacional próprio, seja ele baseado no AOSP, seja ele totalmente proprietário como um Kirin OS, teria um desafio maior do que apenas atrair o público. Sem a Google Play Store, a Huawei precisaria desenvolver sua própria loja de aplicativos e convencer desenvolvedores a publicar seus apps em sua loja. Imagine se uma suposta “Huawei Store” não tiver, por exemplo, o Facebook? E se não tiver o WhatsApp? Seria a pior experiência possível para o usuário.

Renato Santino é editor(a) no Olhar Digital

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