O que houve com o retorno da Huawei ao Brasil?

Redação13/11/2018 19h56, atualizada em 13/11/2018 22h00

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Em junho deste ano, o mercado brasileiro foi pego de surpresa com a notícia de que a gigante chinesa Huawei, segunda maior fabricante de smartphones do mundo, pode estar prestes a voltar a vender celulares no Brasil. Mas cinco meses se passaram e nenhum smartphone da Huawei é visto nas vitrines. O que aconteceu?

Esta seria a segunda passagem da Huawei pelo mercado de celulares do Brasil. A empresa chegou por aqui em 2002 e, desde então, mantém presença constante no país atuando no setor de infraestrutura em telecomunicações. O primeiro smartphone Android que a empresa lançou por aqui foi o Ascend G510, que era fabricado no Brasil e saiu em agosto de 2013.

O mercado brasileiro não recebeu bem a marca, que saiu de cena apenas um ano depois, com o lançamento do Ascend P7. Nesse meio tempo, a empresa também lançou o primeiro aparelho com a marca Honor no país, uma linha um pouco mais acessível, vendido exclusivamente pela internet.

Em junho deste ano, um porta-voz da empresa confirmou ao Olhar Digital que a Huawei voltaria a comercializar smartphones aqui a partir do começo do segundo semestre de 2018. Mas, desta vez, a empresa tentaria uma bordagem diferente: uma parceria de distribuição com a brasileira Positivo.

Pedro Branco, líder de marketing de produto da Positivo, disse, durante um encontro na sede do Google em junho em São Paulo, ocasião em que a empresa brasileira também revelou os primeiros smartphones com Android Go no país, que a empresa brasileira venceu uma disputa com outras concorrentes para cuidar da distribuição, venda e logística de varejo dos smartphones da Huawei no país.

A dinâmica seria semelhante àquela que a Positivo já mantém com outras empresas. Ela distribui celulares da marca Quantum e notebooks da Vaio, por exemplo, além dos produtos de marca própria no varejo nacional. A Positivo disse na época que deveria lançar em agosto o primeiro celular deste retorno da Huawei: o P20 Pro.

A notícia animou muita gente. Afinal, o P20 Pro é um aparelho top de linha que conquistou o mercado internacional com elogios da imprensa especializada e notas altas em testes de desempenho. Ele é conhecido por liderar o ranking das melhores câmeras de smartphone do mundo com um sensor triplo na parte traseira.

Reprodução

A princípio, o P20 Pro seria importado, mas havia planos de fabricar localmente os smartphones da Huawei no longo prazo, afirmaram executivos da Positivo na época. Além do smartphone de câmera tripla, a empresa dizia que estava preparando o lançamento de um segundo celular top de linha da Huawei cujo nome não foi divulgado.

Pouco tempo depois, o site oficial da Huawei para o Brasil foi atualizado e, agora, na seção “smartphones”, três aparelhos são listados: o já citado P20 Pro, ao lado de sua versão mais básica, o P20 Lite, e um intermediário lançado em 2017 chamado Nova 2i.

A página não indicava preços ou data de lançamento, mas mostrava apenas as fichas técnicas dos aparelhos. Procuradas, as assessorias de imprensa de Positivo e Huawei não confirmaram (nem negaram) que aqueles seriam os três primeiros lançamentos do retorno da mara chinesa ao Brasil.

Em agosto, a última novidade: dois smartphones da Huawei foram homologados pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). Primeiro foi o Nova 3i, um intermediário que não havia sido citado anteriormente, e depois foi o já aguardado P20 Pro, homologado com suporte a até dois chips de operadora.

E, desde então, silêncio de todos os lados. Durante a redação deste artigo, o Olhar Digital entrou em contato com a Positivo, que pediu que nós procurássemos a assessoria de imprensa da Huawei “para mais detalhes”. Procurada, a assessoria da Huawei respondeu à nossa solicitação dizendo apenas que “não há novidades” para compartilhar no momento. O silêncio e o mistério permanecem.

O que pode ter acontecido

É importante lembrar, porém, que a Huawei já ensaiou um retorno ao Brasil antes. Em 2016, o Nexus 6P, um smartphone com Android puro e fabricado pela chinesa em parceria com o Google, chegou a ser homologado pela Anatel. A Huawei até provocou fãs no Twitter prometendo anúncio oficial para breve. Mas o celular nunca foi vendido por aqui.

Além disso, o mercado nacional de smartphones, dominado por Samsung, Motorola e LG (com algum espaço para a Asus e Apple) nem sempre é receptivo a nomes desconhecidos do consumidor. Outra chinesa, a Xiaomi, por exemplo, ficou apenas um ano em sua passagem por aqui. Junte isso ao histórico de resistência e de desistência da Huawei no Brasil, e os obstáculos ficam nítidos.

“O Brasil é um país complexo, as vendas dependem muito do varejo, que é bastante segmentado, enquanto as operadoras têm um poder muito grande em outros países. É preciso ter contatos com lojistas de diversas regiões, o Brasil não é para amadores”, disse Norberto Maraschin Filho, vice-presidente de mobilidade da Positivo, em entrevista à Exame em julho.

Vale lembrar também que, se a estratégia inicial era vender modelos importados, o valor do dólar tem função importante na equação. No início de junho, quando o retorno da Huawei foi anunciado, a moeda americana valia cerca de R$ 3,80 e estava em alta. Chegou a subir 7,95% até chegar a R$ 4,21 em setembro. E só agora está no mesmo patamar que em junho.

A instabilidade da economia e as incertezas para o futuro podem ter pesado na decisão da Huawei de manter cautela. Mas enquanto a empresa se recusa a divulgar novidades ou ao menos dizer se a ideia de voltar ao mercado de smartphones ainda está de pé ou não, resta aos fãs e consumidores apenas esperar – e especular.

Colaboração para o Olhar Digital

Redação é colaboração para o olhar digital no Olhar Digital