O que a parceria de Sony e Microsoft significa para o futuro dos games

Muitas teorias da conspiração devem surgir, mas as respostas parecem mais simples do que isso
Renato Santino17/05/2019 04h23, atualizada em 17/05/2019 11h30

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Sony e Microsoft, arquirrivais no mercado de games, anunciaram nesta quinta-feira, 16, uma parceria inusitada. O acordo prevê a colaboração entre as duas empresas no setor de cloud-gaming, a tecnologia de execução de jogos em servidores remotos e transmissão para sua tela pela internet, o que permite que os jogos sejam reproduzidos em qualquer aparelho com um display e conexão, sem depender de um console físico. Isso significa poder jogar games pesados em qualquer Smart TV ou celular.

O anúncio surpreende por colocar duas empresas rivais do mesmo lado, mas o que ele realmente significa? Elas deixarão de ser concorrentes no futuro quando os games em nuvem começarem a decolar? Ao que tudo indica, não. Podemos esperar que as empresas continuem competindo ferozmente no mercado de jogos com suas marcas Xbox e PlayStation, mas colaborem na tecnologia que funciona por trás desses sistemas.

Como parte do acordo, a Sony usará a plataforma de nuvem da Microsoft, a Azure, como base para o seu próprio serviço de streaming de jogos, o PlayStation Now. A decisão é compreensível: a Sony é uma empresa de hardware e entretenimento, não de infraestrutura e muito menos de computação em nuvem. Para conseguir competir com o aguardado xCloud, da Microsoft, a empresa precisa obrigatoriamente de uma parceria com alguma companhia que possui este know-how. Além do Azure, a Sony poderia ir atrás da AWS, da Amazon, que é outra gigante do setor.

Quem acompanha os transtornos que a Sony teve com a PSN ao longo dos anos não precisa de muito esforço para entender que a empresa precisa de ajuda para lidar com um potencial futuro dos jogos em nuvem. Com o Google entrando na jogada com o Stadia, a empresa do PlayStation poderia ficar bastante atrás dos concorrentes, já que tanto o Google Cloud quanto o Azure possuem datacenters no mundo inteiro como parte de suas atividades, enquanto a Sony precisaria realizar um investimento pesadíssimo de expansão para competir se fosse fazer isso com suas próprias forças.

Um investimento deste porte, provavelmente não valeria a pena para sustentar apenas a divisão de serviços em nuvem da Sony, então vale mais a pena apostar em uma plataforma de outra empresa. Neste caso, a Azure se mostra mais vantajosa do que a AWS e o Google Cloud por atender mais regiões, o que é um ponto-chave quando o assunto é streaming de jogos. A latência pode arruinar a experiência de jogo, especialmente em títulos com ação mais frenética, então quanto mais próxima sua casa é de um datacenter, melhor tende a ser a sua experiência.

Diante da parceria inusitada, não seria muito difícil imaginar que as duas empresas poderiam vir a estreitar os laços mais profundamente, em reação à ameaça do Google, para oferecer um serviço de jogos por streaming unificado, que poderia contar com jogos de ambas as plataformas, como Uncharted e Gears of War. Isso parece pouco provável, no entanto.

A competição entre as duas empresas deve se manter, pelo menos no curto prazo. A Sony já declarou com todas as letras as pretensões de lançar em breve um novo console, supostamente o PlayStation 5, com alguns detalhes de especificações de alto desempenho, como armazenamento em SSD e uma combinação de processador e GPU de última geração. Isso significa que a transição para o mundo do cloud-gaming ainda não está completa.

Se a empresa precisa lançar essa máquina, ela precisa vendê-la. A exclusividade de conteúdo ainda é a grande arma para movimentar a venda de consoles, então não parece provável que a Sony abra mão dessa exclusividade. Da mesma forma, a Microsoft também já declarou planos para um novo console físico, e também precisará de exclusividade para vender sua plataforma. Não significa, no entanto, que no futuro as duas coisas poderiam vir a se juntar, mas por enquanto não parece nem um pouco provável.

No fim das contas, a parceria parece benéfica para as duas empresas, sem necessariamente vincular demais o futuro de Xbox e PlayStation. Além do uso da plataforma de nuvem, as empresas também vão cooperar em áreas como semicondutores e inteligência artificial além de “soluções inteligentes para sensores de imagens”, que pode indicar uma possível aproximação da Sony à tecnologia do Kinect, mas os resultados dessa parceria só serão conhecidos no futuro.

Renato Santino é editor(a) no Olhar Digital