O erro de principiante que fez ruir o maior império de drogas da deep web

Renato Santino21/07/2017 23h07, atualizada em 21/07/2017 23h10

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Nas últimas semanas, a deep web foi abalada com a notícia de que o AlphaBay foi fechado. Agora, já se sabe o que aconteceu: o site foi fechado pelo FBI após um trabalho pesado de investigação que só rendeu frutos graças a um erro básico de um dos fundadores da página.

Alexandre Cazes, de 25 anos, era um prodígio do setor de tecnologia. O canadense teria criado sua primeira empresa ainda adolescente, vendendo computadores e ajudando empresas a criarem seus websites. As autoridades americanas conseguiram rastrear suas atividades até 2008, quando o encontraram dando dicas em um fórum sobre como remover vírus de uma foto.

O conhecimento técnico, com foco em criptografia, não foi suficiente, no entanto, para evitar que ele cometesse um erro de principiante. Em dezembro de 2016, foi descoberto que o seu endereço de e-mail pessoal foi incluído em uma mensagem de boas-vindas a novos usuários do AlphaBay em 2014, na época em que o serviço foi lançado. O endereço era pimp_alex_91@hotmail.com.

Com essa informação, rastrear a sua identidade foi fácil, bastando apenas contatar a Microsoft com um mandado judicial para obter os dados do usuário por trás do e-mail. Também foi fácil rastrear sua atividade online, uma vez que foi observado que o endereço estava vinculado a uma conta no PayPal.

Após a identificação de Cazes, só faltava colocá-lo atrás das grades. Isso foi feito no dia 5 de julho, em uma parceria do FBI com a polícia real da Tailândia, onde Alexandre Cazes vivia. Ele possuía três casas na cidade de Bangkok, e ainda tinha propriedades na Antígua e no Chipre, além de carros de luxo, incluindo uma Lamborghini e um Porsche.

Durante a operação, os policiais encontraram Cazes em seu quarto usando o notebook para reiniciar o site e recolocá-lo online. No laptop aberto também havia os códigos de acesso para o AlphaBay e seus servidores, além da lista de todos os seus bens, junto de uma estimativa de que ele já havia acumulado US$ 23.033.975 com a empreitada. Tudo isso estava convenientemente armazenado sem criptografia por trás do login “admin”, como nota o site Ars Technica.

O AlphaBay foi lançado em 2014, algum tempo depois da época em que o notório site Silk Road foi fechado. Ele rapidamente assumiu o vácuo e se tornou líder no comércio ilegal na deep web; os investigadores conseguiram comprar maconha, heroína, metanfetamina e fentanil a partir do site. A atividade não era restrita às drogas, com a compra bem-sucedida de equipamento para clonar cartões de crédito em caixas automáticos (o famoso “chupa-cabra”) e 46 habilitações falsas para dirigir. Segundo o FBI, o site já era 10 vezes maior do que o Silk Road foi em seu auge.

Alexandre Cazes poderia enfrentar um grande período na prisão pela manutenção do AlphaBay se julgado culpado e se a Justiça americana adotasse a jurisprudência do caso Silk Road, que condenou o fundador Ross Ulbricht a prisão perpétua. No entanto, ele foi encontrado morto em sua cela na Tailândia, com suspeitas de suicídio.

Renato Santino é editor(a) no Olhar Digital