Nuvem radioativa que atingiu a Europa provavelmente veio da Rússia

Origem seria um acidente durante uma arriscada operação de reprocessamento de combustível nuclear em Mayak
Rafael Rigues15/08/2019 12h58

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Em Outubro de 2017 cientistas de um laboratório italiano detectaram a presença do elemento radioativo Rutênio-106 no ar da cidade de Milão. O elemento é um subproduto da fissão do Urânio-235, usado como combustível em usinas nucleares. A última vez em que ele foi detectado na atmosfera foi em 1986, após o desastre nuclear em Chernobyl. Ou seja, sua presença era um indicador de que em algum lugar, um acidente nuclear havia ocorrido.

O Instituto Francês para Proteção Radiológica e Segurança Nuclear (IRSN) realizou uma investigação e determinou que o material veio da região dos Montes Urais, na Rússia, e era fruto de esforços para reprocessamento de combustível nuclear “gasto” em uma usina. Nesta região só há uma instalação de reprocessamento de combustível: Mayak.

A Rosatom, agência do governo russo responsável pelo setor nuclear no país, negou que qualquer acidente tivesse ocorrido, inicialmente dizendo que o material radioativo teria vindo de um satélite que queimou na atmosfera, e depois alegando que teria vindo de um acidente nuclear na Romênia.

Mas um novo estudo realizado em conjunto por mais de 60 autores em 50 instituições em toda a Europa confirma que Mayak foi a fonte do material radioativo, classificando o evento como um “acidente nuclear não declarado”. Além disso, agora sabemos de onde o material veio, e porque estava sendo manipulado.

O estudo confirma uma suposição do IRSN de que os russos estavam tentando criar uma fonte altamente compacta e altamente radioativa de material que pudesse emitir uma grande quantidade de neutrinos, que seria usada em um experimento italiano chamado SOX. O material usado nesta fonte seria o cério-114, e para obtê-lo a usina estava reprocessando de combustível nuclear “muito jovem”, com menos de 2 anos de idade.

Tal reprocessamento é extremamente arriscado, não só pelos níveis de radioatividade emitidos pelo combustível como pela possibilidade da geração de compostos extremamente voláteis, como o tetróxido de rutênio. Este composto pode ter sido o responsável por uma explosão ou vazamento que resultou na liberação de material radioativo na atmosfera.

Não foi a primeira vez que o governo russo tentou encobrir um acidente nuclear. Em 29 de Setembro de 1957 uma explosão em um tanque de armazenamento de lixo nuclear líquido espalhou uma nuvem de material radioativo que cobriu uma área de até 20.000 Km2. O local? Mayak.

Fonte: Wired

Colunista

Rafael Rigues é colunista no Olhar Digital