Um estudo da Consumer Reports indica que pelo menos 24% da conta de TV a cabo nos EUA é composto por taxas dissimuladas. Aqui no Brasil, isso não é diferente, mas ainda não há estudos oficiais. A maioria desses adicionais não tem qualquer finalidade — apenas enriquecer o provedor.

O levantamento analisou 787 contas de clientes de 13 operadoras diferentes. Nelas, embora a média de custo seja de US$ 156,71 mensais, é comum que os usuários paguem US$ 217,42 depois que as taxas são incluídas. Isso representa 24% (US$ 37,11) a mais.

Segundo a empresa, os provedores de TV a cabo e banda larga usam essa estratégia para oferecer um preço atraente e, depois, cobrar uma tarifa bem mais alta. Com isso, são cerca de US$ 450 extras por consumidor a cada ano.

“Com a proliferação desses adicionais, é quase impossível para o cliente saber o custo total antes de assinar o contrato — e as empresas contam com isso”, diz Jonathan Schwantes, consultor sênior de políticas da Consumer Reports. “Os nomes, confusos e enganosos, mantêm as contas altas, mesmo quando se consegue uma tarifa promocional”, completa.

A pesquisa conclui que essas taxas são definidas para confundir. Recentemente, muitas operadoras passaram a cobrar uma “tarifa de broadcast TV” — que é parte do custo que elas pagam para licenciar esse conteúdo.

Nos EUA, a maioria dos clientes reclama dos serviços Xfinity TV, da Comcast. Em 2015, a provedora passou a cobrar uma taxa de esportes regionais (US$ 1 por mês) e a tarifa de broadcast TV (US$ 1,50 mensais). Quatro anos depois, em 2019, esses US$ 2,50 iniciais atingiram US$ 18,50 — um aumento de 600%.

O relatório aponta que as operadoras dizem que essas taxas os ajudam a pagar pelos custos crescentes. “Isso não explica, entretanto, por que eles não apresentam o preço final do serviço nos materiais promocionais — que é a referência para os consumidores escolherem um plano para assinar”, acrescenta. Essas tarifas, além de serem um anúncio falso, dificultam as comparações entre os provedores.

Culpa do governo

Com base na quantidade de clientes de TV a cabo nos EUA, a Consumer Reports estima que as empresas do segmento recolhem cerca de US$ 28 bilhões por ano apenas com esses adicionais. E isso não está restrito às TVs a cabo: tarifas enganosas também são frequentes em outros setores, como o de banda larga (a “taxa de recuperação de custo de internet”, da CenturyLink, é um exemplo).

É comum que os provedores disfarcem essas tarifas como sobretaxas governamentais. Assim, os consumidores passam a culpar o governo, não as operadoras. É o caso da “taxa regulatória de recuperação”.

Os pesquisadores da Consumer Reports ligaram para os serviços de atendimento ao cliente como se fossem consumidores, e os atendentes continuamente culparam o governo pelos adicionais. “Pelo menos um dos representantes de cada operadora informou que as taxas eram determinadas pelo governo, sem distinção clara do que era imposto pela empresa e do que era relacionado a atividades regulatórias”, informa o relatório.

O governo, por sua vez, não se esforça para conter a prática. Uma lei proposta no início do ano pelo senador Ed Markey e pela parlamentar Anna Eshoo quer forçar os provedores a incluírem essas taxas no preço anunciado, mas a proposta está parada no Congresso.

Uma opção é parar de assinar TV a cabo. “A única forma de realmente eliminar esses adicionais é parar de consumir esse serviço e, no lugar dele, adotar os serviços de streaming ou ter uma antena”, destaca a Consumer Reports.

Via: Vice