Muitas comunidades de bactérias fazem de suas moradias vários órgãos do corpo humano, dentre elas, a língua. Da mesma forma que cidades se organizam em áreas com diferentes tipos de comunidades e propósitos, essas microcomunidades se reúnem em nossas bocas, ao longo de um rio de células epiteliais.
As esféricas Streptococcus, amantes do oxigênio, ficam nas extremidades da “civilização” bacteriana, onde são mais expostas ao ar, enquanto as Actinomyces (vermelhas) em forma de bastão parecem evitar essa região, aglomerando-se mais perto do centro epitelial. Outras, como a Rothia (ciano), preferem ocupar áreas distantes desses dois perímetros.
“O que foi realmente uma surpresa foi ver como elas estavam organizadas. Isso nos diz muito sobre como elas estão trabalhando juntas”, disse no ano passado a ecologista microbiana Jessica Mark Welch, do Laboratório Biológico Marinho de Woods Hole, à Smithsonian Magazine.
Segundo ela, o anel externo de Estreptococos (em verde) parece criar uma zona de baixo oxigênio no interior da metrópole bacteriana, região que é ocupada por espécies que preferem condições anaeróbicas (sem a presença de ar).
As bactérias então excretam lares protetores feitos de lodo. Juntos, esses lares formam um biofilme próspero e densamente compactado em nossas línguas. “As bactérias se comportam de maneira diferente em um biofilme”, explicou Welch. “Há partes de seu metabolismo que elas só ativam em um biofilme e tendem a ser mais resistentes a antibióticos e mudanças no ambiente”.
O que vemos aqui é apenas uma fração das mais de 700 espécies diferentes de bactérias que vivem em nossas bocas. As comunidades presentes na língua são totalmente distintas daquelas encontradas em outras regiões da boca, como nos dentes.
A estrutura geral permaneceu constante nos estudos, ainda que os pesquisadores tenham encontrado espécies de bactérias diferentes entre as pessoas. “As bactérias na língua são muito mais do que apenas uma pilha aleatória. Elas são mais como um órgão do nosso corpo”, explicou Gary Borisy, biólogo celular da Universidade de Harvard.
As imagens revelam a presença de grandes grupos de bactérias redutoras de nitrato, como a Actinomyces e a Veillonella, indicando uma das funções desses órgãos. Esses organismos conseguem transformar nitrato, presente em alimentos verdes folhosos, em nitrito, uma etapa fundamental da criação de óxido nítrico.
Nosso corpo usa óxido nítrico para dilatar os vasos sanguíneos e controlar a pressão sanguínea, por exemplo, mas não somos capazes de fazer essa reação de nitrato sozinhos.
Borisy e seus colegas capturaram essas imagens usando uma técnica de fluorescência desenvolvida por eles, chamada CLASI-FISH, em amostras de raspagens de língua de 21 voluntários saudáveis. Os resultados mostraram 17 gêneros de bactérias comuns a 80% das pessoas.
Ao analisar a organização dessas bactérias, os pesquisadores podem aprender mais sobre suas interações, como funcionam e seus papéis em nossos corpos – sejam eles bons ou ruins. A pesquisa foi publicada no Cell Reports.
Via: Science Alert