Em tempos de fakenews, perda de credibilidade e dispersão do ato de informar, as organizações jornalísticas têm que lidar com uma realidade mais profunda: a maioria das pessoas não quer pagar por notícias online.

O Estudo de Jornalismo, um centro de pesquisa da Universidade de Oxford que acompanha as tendências da mídia (e financiado pela Thomson Reuters Foundation), informou em seu relatório anual de notícias digitais que boa parte do público não pagaria por notícias online — ainda que tenha havido um pequeno aumento na proporção de pessoas dispostas a colocar a mão no bolso pelos conteúdos nos últimos seis anos.

Outra descoberta da pesquisa foi a sensação de “fadiga de assinatura” por parte dos pagantes. Eles estão cansados de terem que procurar e pagar por tantas assinaturas diferentes. E na hora da escolha de onde investir seu dinheiro, muitas pessoas optam pelo entretenimento (filmes e músicas) em detrimento das notícias.

O tema é tão latente que a Apple, nos EUA, oferece a assinatura do Apple News +, que consiste em uma única assinatura para acesso a títulos premium, incluindo a TIME, The Atlantic, The New Yorker, Vogue, The Wall Street Journal e Los Angeles Times. Entretando, essa prática nega às editoras um vínculo direto com os leitores, e inserindo a prática jornalística em uma lógica mais mercadológica e publicitária que o habitual — manejando as informações para tornar a publicidade direcionada mais eficaz e, portanto, mais rentável para a plataforma.

“Grande parte da população está perfeitamente satisfeita com as notícias acessadas de forma gratuita. E mesmo entre aqueles que estão dispostos a pagar, a maioria só está disposta a se inscrever para uma assinatura”, disse Rasmus Kleis Nielsen, diretor do Instituto Reuters. “Grande parte do público está realmente alheio em relação ao jornalismo que veem — não o consideram particularmente confiável, não o consideram particularmente relevante e não acham que isso os leva a um lugar melhor”.

Muitas organizações de notícias apostaram e seguem apostando em paywalls. Algumas veem aumentos nas assinaturas digitais, mas a verdade é que houve pouca mudança na proporção de pessoas que paga por notícias online.

Nos EUA, o público que paga por notícias online é caraterizado por ter um diploma universitário e maior poder aquisitivo.

O New York Times, o Wall Street Journal e o Washington Post se saíram bem no digital. Contudo, quase 40% das novas assinaturas digitais do New York Times, por exemplo, são para palavras cruzadas e culinária, segundo o Instituto Reuters, citando um artigo da Vox.

A ameaça dos provedores de entretenimento

Nic Newman, pesquisador associado sênior do Instituto Reuters, disse que “em alguns países, a fadiga de assinaturas também pode estar se instalando, com a maioria preferindo gastar seu orçamento limitado em entretenimento (Netflix/Spotify/Amazon) em vez de notícias. (…) Não surpreendentemente, as notícias aparecem no final da lista quando comparadas com outros serviços como Netflix e Spotify, especialmente para a metade mais jovem da população”.

O estudo aponta para a distância entre os veículos de mídia tradicional e a parcela mais jovem da população. Quando perguntados sobre qual serviço de assinatura escolheriam para o próximo ano, se pudessem optar por apenas uma alternativa  apenas 7% das pessoas com menos de 45 anos escolheram notícias. A maioria escolheu vídeos (37%) e, por música (15%).

“Apesar das maiores oportunidades de conteúdo pago, é provável que a maior parte da oferta de notícias comerciais permaneça gratuita, dependente de publicidade com margem baixa, um mercado em que grandes plataformas de tecnologia detêm a maioria do mercado”, disse Newman.

(Via Reuters)