Na última sexta-feira (11), o CEO da IBM, Arvind Krishna, defendeu que o Departamento de Comércio dos EUA adotasse controle de exportação para limitar o acesso dos regimes repressivos aos sistemas de reconhecimento facial em massa. Na visão do executivo, a ferramenta pode ser usada para discriminação racial e violações de direitos humanos.

Esta tem sido uma das bandeiras da gigante global, que, em junho último, parou de oferecer seu próprio sistema de reconhecimento facial e enviou uma carta ao Congresso norte-americano criticando o uso da tecnologia, relacionando-o à questão da injustiça racial. E para quem pensa que esta é uma preocupação recente da IBM, Christopher Padilla, vice-presidente de Assuntos Governamentais e Regulatórios da companhia faz a devida correção.

“Não foi como se as nuvens se abrissem e repentinamente decidimos não mais fazer reconhecimento facial. A IBM tem pensado nisso desde 2014, quando questões em torno do tema ética em inteligência artificial e governo surgiram, a partir das revelações de Edward Snowden”, disse em entrevista à revista Forbes.

ReproduçãoDepois de parar de oferecer seu sistema de reconhecimento facial, IBM pressiona governo americano a impor controle de exportação da tecnologia para países autoritários. Crédito: Ryan Millier/Pexels

 

Vigilância em massa

A questão dos sistemas de vigilância em massa também tem sido uma pauta quente dentro do próprio Departamento de Comércio norte-americano. Em julho, o órgão buscou opiniões sobre a adoção de novos pedidos de licença de exportação para os softwares de reconhecimento facial e outras tecnologias de biometria utilizadas em monitoramento.

Para Padilla, o foco do governo dos EUA não deve ser os sistemas de “identificação facial” utilizados,  para desbloquear um celular ou no embarque de um avião, por exemplo. E sim naqueles voltados para vigilância em massa, incluindo dissidentes políticos. Neste sentido, o país deveria impor controle à exportação de câmeras de alta resolução usadas para coletar dados e os algoritmos de software empregados na análise e comparação de tais informações com um banco de dados de imagens.

Indo mais além, o vice-presidente argumenta que Washington deveria “limitar a capacidade de certos governos estrangeiros” de obterem os componentes de computação em larga escala necessários para implementar um sistema integrado de reconhecimento facial. E, por “certos governos”, leia-se nas entrelinhas, a China.

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Agora na IBM, Christopher Padilla já foi subsecretário de Comércio Internacional do Departamento de Comércio dos EUA, durante a administração George W. Bush. Crédito: Wikimidia/Domínio Público

O próprio Departamento do Comércio já tinha informado, em julho, que o país asiático “implantou tecnologia de reconhecimento facial na região de Xinjiang”, vasto território autônomo no noroeste chinês. Citou ainda que o país promove “repressão, detenção arbitrária em massa e vigilância de alta tecnologia contra uigures, cazaques e outros membros de grupos minoritários muçulmanos”.

Assim, sob o pretexto de violação de direitos humanos e preocupação do tratamento que a China dá aos uigures, povo de origem turcomena que se encontra principalmente em Xinjiang, o governo norte-americano tem incluído dezenas de companhias e entidades chinesas numa lista negra. Nela já se encontram a Hikvision (que produz câmeras de vigilância), o Sense Time Group e a Megvii Technology, ambos líderes globais em tecnologia de reconhecimento.

 

Fonte: RT