Guerra Nuclear entre Índia e Paquistão poderia mudar clima do planeta

Até 125 milhões de pessoas poderiam morrer em questão de dias. Mas os efeitos seriam sentidos por todo o planeta, por ao menos uma década
Rafael Rigues07/10/2019 12h49

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Quando se fala em Guerra Nuclear, muitos logo imaginam um conflito envolvendo grandes potências como os EUA, a Rússia ou a China. Mas muitos outros países detém a tecnologia de armas nucleares, e seu uso teria resultados igualmente catastróficos. É o que mostra um estudo conduzido por Owen Brian Toon, um aluno de Carl Sagan e professor no Laboratório de Física Atmosférica e Espacial na Universidade do Colorado em Boulder, nos EUA.

Owen e sua equipe calcularam o resultado de uma guerra nuclear entre Índia e Paquistão, países que estão em conflito há mais de 40 anos. Juntos eles tem cerca de 300 armas nucleares com potência de algumas centenas de megatons cada, podendo a chegar a 500 armas em 2025.

O cenário

No cenário imaginado um ataque terrorista contra o governo indiano faz com que tropas do país invadam o Paquistão. Este responde com armas nucleares táticas, de pequena escala, contra tropas e tanques indianos. A India, por sua vez, retaliaria com ataques nucleares contra instalações militares paquistanesas, e o conflito sairia do controle.

No final, 100 armas indianas atingiriam cidades no Paquistão, enquanto 150 armas paquistanesas seriam detonadas sobre cidades na Índia. Qual seria o resultado deste conflito?

Resultados

Segundo Toon e sua equipe, imediatamente teríamos de 50 a 125 milhões de mortos como resultado direto dos ataques, dependendo da potência das armas usadas. Para se ter uma idéia a Segunda Guerra Mundial, o maior e mais letal conflito na história da humanidade, causou de 56 a 85 milhões de mortes. Mas isso em seis anos. Um conflito entre a Índia e Paquistão poderia facilmente superar este número em questão de dias.

Mas este não seria o único resultado. As explosões nucleares incinerariam instantâneamente vastas áreas em ambos os países, levando de 16 a 36 milhões de toneladas de fuligem para a estratosfera, de onde poderia se distribuir rapidamente por todo o globo.

As partículas reduziriam de 20 a 30% a quantidade de luz solar que chega à superfície, o suficiente para causar uma queda global nas temperaturas entre 2 e 5º C e reduzindo as chuvas entre 15% a 30%, dependendo da região. Com isso, a produção mundial de alimentos seria reduzida também entre 15% a 30% no solo e de 5% a 15% nos oceanos, levando à fome em escala global e causando ainda mais fatalidades.

Os pesquisadores estimam que seriam necessários cerca de 10 anos para que a fuligem se dispersasse o suficiente para que as temperaturas globais retornassem aos níveis de antes do conflito.

Na conclusão do estudo, a equipe de Toon soa um alerta: Índia e Paquistão estão “repetindo a situação entre EUA e a União Soviética durante a Guerra Fria, construindo arsenais nucleares muito além do necessário para deter um ataque inimigo. […] Além da destruição de seus próprios países, as decisões tomadas por líderes militares e políticos do Paquistão quanto ao uso de armas nucleares poderiam afetar severamente todas as outras nações no planeta”.

Fonte: Science Advances

Colunista

Rafael Rigues é colunista no Olhar Digital