Gradient: o aplicativo que compara a uma celebridade é realmente seguro?

Além de não possuir muitas informações de origem e quem desenvolve a aplicação, o app coleta dados do cartão de crédito do usuário
Liliane Nakagawa18/10/2019 21h37

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Um milhão: este é o número de downloads que o novo aplicativo fenômeno de popularidade alcançou na Play Store em apenas uma semana. Trata-se do Gradient, um app de edição que mostra com qual celebridade o usuário se parece.

Em geral, apps de edição ou filtros que transformam o rosto de usuários caem no gosto popular e viralizam rapidamente nas redes sociais. Quem aí se lembra do FaceApp, o aplicativo russo que utilizava um filtro para envelhecer o rosto das pessoas e que rendeu uma multa milionária ao Google e à Apple? Sem esquecer do chinês de deepfakes Zao. Agora, a atenção toda está voltada ao Gradient Photo Editor.

O aplicativo é da desenvolvedora desconhecida Ticket To The Moon Inc., que não possui outro qualquer aplicativo no catálogo, e compartilha o endereço físico, em Delaware (EUA), com a Meihua Capital Partners, uma empresa de investimentos chinesa.

O Gradient, assim como qualquer outro aplicativo que forneça filtros que modificam o rosto, baseia-se em aprendizado de máquina para o seu funcionamento. Argumento que já possibilita colocar uma cota de incertezas quanto à privacidade.

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Do I really look like these guys?! Come on 😂 #gradient #gradientpartner

Uma publicação compartilhada por Scott Disick (@letthelordbewithyou) em15 de Out, 2019 às 10:42 PDT

Apesar da coleta de imagens do rosto de milhões de pessoas servir como produto para o aprendizado de máquina e produção de uma base de reconhecimento facial, o modelo de negócios do Gradient vai além. Os vários recursos de edição colocados à disposição do usuário (incluindo o “transformador em celebridade”) só é acessível por meio de uma assinatura mensal (que varia de R$ 16 a R$ 78 por ano). Contudo, como forma de atrair e aumentar as chances de converter o usuário, após o upload das fotos, ele é convidado a testar do serviço por três dias gratuitamente.

No entanto, e é onde a atenção do usuário deve ser redobrada: para ativar esse período de testes, o usuário precisa fornecer as informações do cartão de crédito (via infraestrutura da Apple ou do Google). Expirado o tempo de teste, caso o usuário se esqueça de cancelar a assinatura, o valor começará a ser cobrado no cartão mensalmente. Para cancelar, somente acessando as configurações do Gradient e encerrar o período de testes.

Reprodução

A princípio, esses aplicativos podem soar inofensivos, como uma brincadeira boba e divertida com os amigos e familiares. Mas como já vimos por aqui, especialistas de segurança afirmam que essas aplicações não deixam claro o que faz com os dados fornecidos pelo usuário.

Nos termos de uso, o Gradient afirma que “não se apropria do conteúdo que você faz upload ou edita pelo serviço”. Isso, ao menos a principio, pode significar que os responsáveis pelo aplicativo não irão utilizar as fotos e informações pessoais; dados de uso e cookies, porém ainda podem ser compartilhados para terceiros e anunciantes.

Apesar de sustentar algumas diferenças nos termos de uso e privacidade em relação ao app russo, principalmente no que se refere a assinatura mensal, é preciso tomar cuidado com as intenções do criador. “Qualquer um que tenha colocado seu rosto [em uma plataforma] online com seu nome e outros dados de identificação – por exemplo, qualquer pessoa com um perfil de rede social ou site – já está muito vulnerável a ser capturado digitalmente para futuros usos de reconhecimento facial”, explica o advogado Michel Bradley.

Ele ainda pondera que a privacidade de apps do mesmo segmento não menciona nada sobre o que aconteceria com os dados do usuário se ele parasse de usar o serviço. “Isso mostra que, se eles [os fundadores] venderem seus negócios, os dados das pessoas estarão disponíveis para o próximo comprador e elas consentem que isso aconteça”, disse. A renúncia à privacidade se estende a qualquer afiliada do aplicativo. Hipoteticamente, e se o Gradient fosse vendido para alguma agência de segurança nacional, como a NSA?

Via: The Independent

Liliane Nakagawa é editor(a) no Olhar Digital