Ficou no papel: Google planejava lançar própria filmadora em 2006

Pure Digital chegou a ter 15% do mercado global de câmeras de vídeo; Google preferiu adquirir o YouTube
Rafael Rigues05/08/2020 20h00, atualizada em 05/08/2020 20h08

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Em 2006, muito antes do iPhone, dos celulares terem câmeras decentes e da GoPro alcançar o sucesso com suas câmeras de ação, uma empresa norte-americana chamada Pure Digital lançou uma pequena câmera de vídeo que se tornou popular entre os consumidores nos EUA: a Flip Video.

Compacta, barata e fácil de usar, a Flip Video tinha um conector USB integrado que “saltava” de seu corpo para facilitar a transferência de clipes para um PC e seu software tinha integração com um site de compartilhamento de vídeos que estava começando a ganhar popularidade: o YouTube.

O que ninguém sabia, até agora, é que houve discussões internas no Google quanto à possibilidade de aquisição do produto, lançando-o como uma “câmera do Google” e adicionando suporte à sua plataforma de vídeo online, a finada Google Videos.

Se o acordo tivesse se concretizado uma filmadora, e não um smartphone, teria sido o primeiro hardware “by Google”. A informação foi encontrada em e-mails que foram incorporados à documentação da investigação antitruste contra o Google que está sendo realizada pelo senado dos EUA.

No primeiro e-mail um gerente de produto no Google chamado Peter Shane relata que se encontrou com o CEO da Pure Digital, Jonathan Kaplan, que informou que a empresa procurava uma parceira para hospedagem dos vídeos gravados por seus consumidores, e que estava prestes a fechar um acordo com o Yahoo ou YouTube.

Reprodução

Shane afirma que ouviu do executivo que a Pure Digital “preferia trabalhar com o Google”, mas que este não parecia muito interessado numa parceria. Ele reforça que a empresa produzia 15% de todas as câmeras de vídeo no mundo naquele momento, e repassa uma estimativa de que os usuários da Pure Digital gerariam 2 milhões de vídeos por ano, contra um catálogo de 350 mil no Google Videos na época.

Fica claro que o interesse do Google não é no hardware, mas sim no conteúdo gerado pelos usuários, que seria uma forma de impulsionar a plataforma Google Videos. “Precisamos decidir se queremos fazer isso ou não”, diz Shane.

Um mês depois os números foram revisados e a discussão tinha evoluído. É neste momento que é mencionada a possibilidade de uma versão da câmera com a marca do Google. “A Pure Digital estima de 10 milhões a 20 milhões de vídeos produzidos no primeiro ano, 2x a 4x isso se fizermos uma camera com a marca Google”, diz Shane.

Reprodução

Mas a diretora do Google Video, Jennifer Feikin, tinha uma opinião diferente: o Google deveria adquirir o YouTube. “Eles nos forneceriam a comunidade e interface que construíram, e nós daríamos a eles audiência e escala”, afirma. O resto, como dizem, é história.

A Pure Digital relançou sua câmera em 2007 com forte integração com o YouTube, que havia sido recém-adquirido pelo Google. Em 2009 a empresa foi adquirida pela Cisco, que em 2011 encerrou a divisão Flip Video e os produtos voltados aos consumidores.

Fonte: The Verge

Colunista

Rafael Rigues é colunista no Olhar Digital