A indústria da música já tentou acabar com os sites de torrents. Os estúdios de cinema já tentaram. Gigantes do software, incluindo os videogames, também. Mas quem finalmente pode dar uma machadada na prática pode ser o Google e, ao que tudo indica, por acaso.
O grande problema para os sites é que o Google deverá atingi-los onde mais dói: no bolso. A companhia já afirmou que o Chrome deverá receber um bloqueador de anúncios nativo que será ativado como padrão. A ideia da empresa é barrar apenas a publicidade mais intrusiva, como pop-ups e banners incômodos, o que seria benéfico para a própria companhia. Afinal de contas, se as pessoas só veem publicidade menos invasiva, há menos incentivo para instalar um adblocker que barraria os anúncios do próprio Google.
O efeito colateral da medida é que são justamente esses anúncios ultrainvasivos que predominam em sites como o Pirate Bay e similares, e eles são a fonte de renda para que os serviços se sustentem.
Pelo fato de a publicidade em tais páginas ser normalmente invasiva, e em alguns casos até mesmo maliciosa, boa parte do público que consome conteúdo pirateado já aprendeu a lidar com bloqueadores de anúncio. No entanto, no Chrome, que é o navegador mais usado no mundo, com a ferramenta automaticamente ligada sem intervenção do usuário, até mesmo quem não tem conhecimento algum de adblockers poderá se ver livre do problema.
O site TorrentFreak, que tem contato direto com administradores de várias páginas do tipo, alerta sobre o problema. Um dos operadores contatados pela publicação, que preferiu não ser identificado, conta que, do jeito que as coisas estão atualmente, já é difícil pagar os custos de hardware e hospedagem para manter o site no ar, mesmo com milhões de visualizações. “A economia para sites de torrents está em uma situação péssima. Os lucros são muito pequenos. Os lucros estão f……. em comparação com anos anteriores”, ele afirmou.
Ele explica que, neste momento, 40% da base de usuários já têm algum tipo de adblocker instalado, mas a tendência é piorar com o bloqueador nativo do Chrome, com pelo menos um terço do público da página utilizando o navegador da empresa. O operador estima que isso será o suficiente para matar sites de torrents. “Se eles não conseguirem cobrir pelo menos os custos da operação, ninguém vai ficar colocando dinheiro do bolso para mantê-los vivos. Eu pelo menos não serei capaz”, ele afirma.
O Google dá uma alternativa, porém: trabalhar com anúncios mais limpos e menos invasivos. E aí que entra o problema do fato de que esses sites são usados para distribuição de pirataria, o que afasta qualquer empresa séria. Apenas a raspa do tacho dos anunciantes aceita publicar anúncios nessas páginas, e eles precisam ser invasivos para trazer algum resultado mínimo.
Então, o Google pode eliminar vários dos sites de torrents que existem atualmente com essa mudança que está por vir. O modelo de financiamento dessas páginas por publicidade fica ameaçado, mas abre a possibilidade de outros métodos. Quase todos esses serviços possuem uma carteira de bitcoins para a qual os usuários podem doar para ajudar a sustentar a operação, o que pode ser o início de uma mudança, mas resta saber se o público toparia pagar por isso. Afinal de contas, as pessoas baixam produtos piratas justamente para evitar tirar dinheiro do bolso, na maior parte dos casos.