Gigantes da tecnologia voltam a opor decisão de Trump sobre imigração

Empresas defendem emissão de vistos para mão de obra altamente qualificada, mas decisão de Trump impede a prática temporariamente
Renato Santino23/06/2020 22h56, atualizada em 23/06/2020 23h10

20200428042343-1920x1080

Compartilhe esta matéria

Ícone Whatsapp Ícone Whatsapp Ícone X (Tweeter) Ícone Facebook Ícone Linkedin Ícone Telegram Ícone Email

A relação de Donald Trump com as grandes empresas de tecnologia sempre foi um pouco conflituosa e foi ainda mais abalada nesta semana. As companhias decidiram se manifestar contra uma nova decisão do presidente dos Estados Unidos que dificultou a emissão de vistos de trabalho para estrangeiros.

Em sua decisão, Trump barrou temporariamente a emissão dos vistos H1-B no país, visando incentivar a contratação de trabalhadores americanos em um momento de retomada econômica após o desastre causado pela Covid-19 no mundo inteiro. No entanto, essa modalidade de vistos, para mão de obra altamente qualificada, é amplamente usada pelas companhias do setor tecnológico para atrair mão de obra estrangeira. O Vale do Silício há muitos anos é um grande “importador” de talentos de todo o planeta, e uma ação contra essa prática vai diretamente contra os interesses das grandes companhias da área.

Não à toa, as empresas prontamente se manifestaram contra a decisão de Donald Trump. O Google foi uma das primeiras a publicar um comunicado sobre o assunto.

“Imigrantes não apenas aceleraram descobertas tecnológicas e criaram negócios e empregos, mas também enriqueceram a vida americana. O sucesso contínuo dos Estados Unidos depende de as companhias terem acesso aos melhores talentos de todo o mundo. Particularmente agora, precisamos desse talento para ajudar a contribuir para a recuperação econômica dos EUA”, diz o Jose Castaneda, representante do Google.

Sundar Pichai, CEO do Google, e que também é indiano. Também se manifestou. “A imigração contribuiu imensamente para o sucesso econômico dos Estados Unidos, transformando-os em líderes em tecnologia e fazendo do Google a companhia que é hoje. Desapontado pela proclamação; continuaremos a apoiar os imigrantes e trabalharemos para expandir oportunidades para todos”, disse Pichai.

Não demorou muito para que Apple, Microsoft, Amazon, três empresas que já superaram a capitalização de mercado de US$ 1 trilhão, também se pronunciaram contra a proclamação de Trump.

A Microsoft é outra empresa que tem um CEO indiano. Satya Nadella, nascido em Hydebarad, não chegou a se manifestar diretamente, mas republicou comunicado de Brad Smith, presidente da companhia.

“Agora não é o momento de isolar nossa nação do talento do mundo ou criar incerteza e ansiedade. Imigrantes tem um papel vital em nossa empresa e apoiam a infraestrutura crítica do nosso país. Eles estão contribuindo com este país no momento em que mais precisamos deles”, diz Smith.

“Como a Apple, esta nação de imigrantes sempre encontrou força em nossa diversidade e na esperança da persistente promessa do Sonho Americano. Não há prosperidade sem ambos. Profundamente desapontado por esta proclamação”, diz Tim Cook, CEO da Apple.

A Amazon também se manifestou contra, embora sem expor nenhum de seus grandes executivos. O comunicado enviado à imprensa também condena a ação de Trump. “Evitar que profissionais de alta qualificação entrem no país e contribuam com a economia americana coloca a competitividade global dos Estados Unidos em risco. O valor dos programas de vistos para altamente qualificados é claro”.

O cenário repete uma série de momentos em que as grandes empresas de tecnologia se chocaram com decisões de Trump, especialmente no tema de imigração. Ele se elegeu com um discurso nacionalista, de privilegiar os trabalhadores nascidos nos Estados Unidos em vez dos imigrantes, mas várias das maiores empresas do país se valem amplamente de mão de obra estrangeira, criando um conflito perene.

Renato Santino é editor(a) no Olhar Digital