Um dia antes de atacar Paris, provocando a morte de 129 pessoas, o Estado Islâmico havia feito mais de 40 vítimas em Beirute, no pior ataque visto pela capital do Líbano desde o final da guerra civil ocorrida na cidade nos anos 1990. Mas foi só pelo segundo evento que o Facebook ativou o Safety Check e a aplicação de filtros que permitem alterar a foto de perfil momentaneamente em demonstração de solidariedade.

As decisões causaram uma onda de críticas pelos usuários, que reclamaram contra o que viram como uma preocupação seletiva da maior rede social do mundo em relação às vidas dos próprios usuários. O mal estar chegou a ofuscar o intuito positivo das ferramentas e fez com que executivos da companhia viessem a público se explicar – incluindo Mark Zuckerberg.

“Muitas pessoas têm questionado, com razão, por que ligamos o Safety Check por Paris mas não pelos bombardeios em Beirute e outros lugares”, escreveu o CEO. Ele justificou que até sexta-feira, 13, a ferramenta era usada apenas em desastres naturais, já que o Safety Check permite que pessoas em regiões afetadas avisem a todos os contatos, de uma só vez, que estão em segurança. “Nós acabamos de mudar isso e agora planejamos ativar o Safety Check para mais desastres humanos também”, afirmou Zuckerberg.

Alex Schultz, vice-presidente de Crescimento do Facebook, escreveu outro post explicando que essa ferramenta foi criada após os engenheiros perceberem que, em Tóquio, no Japão, os afetados pelo Tsunami e pelo desastre nuclear usavam o Facebook para avisar aos amigos e familiares que estavam bem. “Entregamos essa versão da ferramenta em outubro do ano passado e a ativamos uma série de vezes”, lembrou, citando terremotos no Afeganistão, Chile e Nepal. A cada vez, o esquema foi aprimorado para que não fosse usado de forma inoportuna, até que ocorreram os ataques parisienses e foi tomada a decisão de aplicar o Safety Check ali enquanto “os eventos ainda estavam se desdobrando”.

Nenhum deles falou sobre a questão dos filtros, que talvez seja ainda mais delicada. Em junho, após a aplicação da aprovação do casamento homossexual em território nacional nos Estados Unidos, o Facebook disponibilizou a plataforma que alterava a foto de perfil dos usuários que desejassem demonstrar apoio à causa. Mais de 26 milhões de pessoas o fizeram, mostrando à rede que havia ali um gancho a ser explorado – por isso, em setembro, apareceu o formato atual da ferramenta, que permite a alteração temporária da foto.

O recurso apareceu mais uma vez na última sexta-feira, também gerando críticas quanto à seletividade do Facebook. O descontentamento visível não arrancou qualquer declaração oficial, mas parte da mídia especializada internacional notou a gafe: o The Next Web, por exemplo, sugeriu que o Facebook abra a ferramenta de filtros para que os próprios usuários determinem quais causas julgam importante apoiar.

No Brasil, que enfrenta um de seus maiores desastres ambientais da história, usuários se viram excluídos por não poderem usar nenhuma das ferramentas. Moradores de Mariana (MG) talvez tivessem feito bom uso do Safety Check após terem as casas destruídas por um rio de lama que já percorre cerca de 500 km e deixou mais de 600 pessoas desabrigadas. Pelo resto do país, outros sensibilizados poderiam usar os filtros para demonstrar solidariedade e mostrar às autoridades que estão de olho no que está acontecendo.

Se o Brasil, que conta com mais de 90 milhões de usuários e se tornou um dos mercados com maior presença no Facebook, foi esquecido neste momento, o que pensar sobre países menores onde probemas ambientais e de segurança ocorrem com mais frequência? Zuckerberg afirmou que pretende prestar mais atenção a isso. “Vocês estão certos de que há muitos outros conflitos importantes no mundo. Nos preocupamos com igualdade, e nós vamos trabalhar duro para ajudar a maior quantidade possível de pessoas que estiverem sofrendo em situações como essas.”