Visão aguçada, garras afiadas, audição aprimorada e a capacidade de enxergar no escuro tornam as corujas um dos predadores mais eficientes entre as aves – e as únicas a caçar à noite. Uma adaptação genética incomum pode ter atuado ao longo da evolução desses pássaros para torná-los tão singulares.
Um artigo publicado na revista científica Genome Biology and Evolution propõe que uma combinação específica de DNA nas células retinais dessas aves se organizou de forma a atuar como uma lente canalizadora de luz para aumentar a fotorrecepção das corujas. É como se a natureza tivesse dado a elas suas próprias lentes de visão noturna.
Analisando o genoma de vinte pássaros (entre eles, onze corujas), a equipe de pesquisadores – liderada por Pamela Espíndola-Hernández, estudante de doutorado no Instituto Max Planck de Ornitologia – encontrou no ramo ancestral das corujas traços de seleção na evolução de genes relacionados à percepção visual. “Vários genes que antes estavam ligados à percepção acústica, ritmo circadiano e estrutura das penas também mostraram sinais de evolução acelerada na origem das corujas”, afirmam os pesquisadores.
Análise do genoma de 11 espécies de corujas revela que a seleção positiva na fototransdução, percepção acústica e genes de empacotamento de DNA contribuíram para o seu estilo de vida noturno e predatórios. Imagem: Yifan Pei/Pamela Espíndola-Hernández
A ordem dos Strigiformes, que inclui as corujas, separou-se do seu grupo irmão dos Coliiformes durante o Paleoceno – entre cerca de 65 milhões e 55 milhões de anos atrás. Nessa época, um aumento na diversidade de pequenos mamíferos pode ter levado a uma maior disponibilidade de presas noturnas. Por isso, corujas mantiveram algumas das características predatórias compartilhadas com outras aves de rapina ao mesmo tempo que desenvolveram características noturnas comuns com outras aves que evoluíram de forma independente.
Isso culminou em uma seleção de recursos que tornam as corujas especialmente adequadas para atuar como predadores noturnos, como retinas adaptadas para melhor visão noturna, orelhas assimétricas, discos faciais para melhorar a audição e penas suaves que permitem o voo silencioso.
Uma das descobertas do estudo foi que os genes envolvidos na percepção sensorial mostraram um sinal de seleção positiva em todo o genoma das corujas. Isso inclui genes envolvidos na percepção acústica e de luz, fotossensibilidade, fototransdução, visão na penumbra e no desenvolvimento da retina e do ouvido interno.
Essas evidências já eram esperadas, mas a análise revelou algo novo: 32 genes relacionados ao empacotamento de DNA e condensação cromossômica exibiram uma taxa de substituição acelerada na origem das corujas. De acordo com os autores, essas aves desenvolveram independentemente (e de maneira única) um mecanismo de empacotamento de DNA na retina que aumenta a canalização de luz em fotorreceptores.
Esse traço incomum nunca foi visto em pássaros antes, o que sugere que as corujas seguiram sozinhas neste caminho evolutivo específico. Uma mudança semelhante no arranjo da molécula de DNA nas células da retina foi vista antes em primatas noturnos, e modelos de computador de sua estrutura molecular sugeriram que eles podem canalizar luz.
Os autores alertam que seus papéis propostos para os diferentes genes são apenas sugestões – particularmente no que diz respeito a como os fotorreceptores nos olhos de coruja realmente funcionam. As observações e análises diretas podem ser capazes de se basear nas descobertas descritas aqui e podem nos dizer ainda mais sobre como as corujas ganharam suas vantagens evolutivas.
Via: Science Alert