Um grupo formado por pesquisadores de universidades e centros de pesquisa europeus identificou cerca de 1,9 milhão de partículas de microplástico em um único metro quadrado no solo do Mar Tirreno, na costa oeste da Itália. De acordo com os cientistas, trata-se da maior concentração do material já encontrada em assoalhos marinhos.

O microplástico é resultado da degradação de detritos de plástico em partículas de comprimento inferior a cinco milímetros. O tamanho reduzido transforma esse material em um poluente perigoso para a biodiversidade, uma vez que pode absorver compostos tóxicos e ser digerido por organismos da base da cadeia alimentar.

A pesquisa analisou amostras de sedimentos obtidas em profundidades de várias centenas de metros. Para evitar impactos na camada de detritos, os cientistas recolheram o material com ajuda de uma ferramenta chamada “box-corer”, que os próprios pesquisadores comparam a “grandes cortadores de biscoitos”.

Reprodução

Box-Corer Gigante (Foto: Hannes Grobe/Creative Commons)

Em laboratório, as partículas de microplástico foram separadas do sedimento e contabilizadas com a ajuda de microscópios. Na sequência, a aplicação do método de espectrometria em infravermelho permitiu aos pesquisadores identificarem que tipo de polímero correspondiam às amostras de microplástico.

A maior parte das partículas encontradas foram relacionadas a fibras de roupas. Os autores do projeto destacam também que a camada de microplástico no fundo do oceano detinha cerca de cinco centímetros de espessura.

Deslocamento do microplástico no oceano

Embora cientistas e autoridades ambientes já tenham encontrado microplásticos no fundo do mar em diversas regiões do planeta, ainda não está claro como essas partículas se espalham e como se depositam no solo marinho.

Isso porque cada tipo de plástico é diferente e pode seguir diferentes tendências de flutuar ou afundar. Essa relação ainda pode ser afetada à medida que os microplásticos são revestidos de algas ou se juntam a minerais e outros tipos de matéria orgânica.

Sobre o deslocamento do microplástico, os autores destacam que pesquisas recentes mostraram que os rios também transportam microplásticos para o oceano; e experimentos de laboratório revelaram que avalanches de sedimentos subaquáticos podem transportar as partículas, ao longo de cânions no fundo do mar, para maiores profundidades.

Os pesquisadores apontam, no entanto, que a disseminação do microplástico também acontece pela atividade de correntes marítimas profundas. De acordo com eles, essas correntes são provocadas pela diferença de salinidade e temperatura de um sistema oceânico que circula por todo o globo.

Reprodução

Foto: Ian Kane/The Conversation

A circulação de sedimentos no fundo do mar pode se estender por muitos quilômetros de distância, e forma uma concentração de detritos onde as correntes perdem a força.

O estudo ainda aponta que as correntes profundas carregam nutrientes e oxigênio. Para os pesquisadores, isso significa que os pontos de acúmulo de microplástico no fundo do mar também podem abrigar importantes ecossistemas, como os recifes de corais, que evoluíram graças a atividade das correntes marítimas, mas agora recebem enormes quantidades de microplástico em vez dos nutrientes necessários para sobrevivência.

“O que antes era um problema oculto agora foi descoberto – correntes naturais e o fluxo de resíduos de plástico no oceano estão transformando partes do fundo do mar em repositórios de microplástico”, escreveram os autores da pesquisa Ian Kane, da Universidade de Manchester, e Michael Clare, do Centro Nacional de Oceanografia do Reino Unido, ao site The Conversation.

O estudo completo está disponível no site ScienceMag.

Fonte: Science Alert