Nesta semana, o Facebook tem sido atingido por todos os lados após a revelação de que uma empresa de marketing chamada Cambridge Analytica teve acesso indevido a dados de 50 milhões de usuários. Agora, a rede social está na mira dos governos dos Estados Unidos e do Reino Unido.
Segundo fontes da agência Bloomberg, a Comissão Federal do Comércio dos EUA (FTC, na sigla em inglês) abriu um inquérito para apurar se o Facebook rompeu com um acordo estabelecido em 2011 que previa certos cuidados que a rede social se comprometia a ter com os dados dos usuários.
O acordo estebelece que o Facebook deve pedir o consentimento expresso de cada usuário sempre que mudanças forem feitas às suas configurações de privacidade. O acordo foi assinado depois que o Facebook foi acusado de enganar consumidores e forçá-los a compartilhar mais dados pessoais do que gostariam.
O Facebook nega que tenha violado o acordo. Já a FTC não confirma e nem nega que tenha aberto um inquérito. Um porta-voz disse apenas que a agência “está ciente das questões que têm sido levantadas” acerca do escândalo envolvendo Facebook e Cambridge Analytica, e que leva qualquer denúncio “a sério”.
Enquanto isso, na Europa…
No Reino Unido, o caso parece ser um pouco mais grave. O The Verge reporta que um comitê do Parlamento britânico enviou uma “intimação” ao presidente e fundador do Facebook, Mark Zuckerberg, para que ele dê seu depoimento sobre o caso diante dos congressistas.
Numa carta assinada por Damian Collins, presidente da Comissão de Mídia, Cultura, Esportes e Digital do Parlamento, o congressista afirma que Zuckerberg deve prestar esclarecimentos quanto à forma como o Facebook adquire, armazena e protege os dados pessoais dos seus usuários.
Collins espera uma resposta de Zuckerberg até 26 de março, próxima segunda-feira. Se ele não puder comparecer, o parlamentar pede que o Facebook mande outro executivo “do topo” da organização. A rede social também não quis comentar mais este possível inquérito aberto.
Além disso, o Information Commissioner’s Office (ICO), um órgão independente encarregado de regulamentar e fiscalizar a proteção aos dados digitais de cidadãos britânicos, requisitou um mandado judicial para apreender os servidores da Cambridge Analytica instalados no Reino Unido.
Enquanto isso, no Facebook…
Internamente, as coisas também não andam bem para o império de Mark Zuckerberg. A empresa havia selecionado uma empresa chamada Stroz Friedberg para realizar uma auditoria sobre os dados coletados pela Cambridge Analytica, mas foram impedidos de continuar a investigação pelo ICO.
Além disso, um dos principais executivos da empresa, Alex Stamos, pode deixar o cargo em meio a todo esse escândalo. Ele é presidente de segurança do Facebook (CSO) e deve permanecer até o fim do ano, mas tudo indica que a sua saída não tem a ver com a polêmica da Cambridge Analytica.
De acordo com informações do New York Times, Stamos deve deixar o cargo por conta de “desentendimentos” internos a respeito de como a empresa deveria lidar com o fenômeno das notícias falsas, que se espalham em alta velocidade e pouco controle dentro da rede social.
Stamos queria que o Facebook fosse mais transparente em relação ao problema, especialmente em relação às descobertas feitas por sua equipe sobre o envolvimento de russos na campanha eleitoral de 2016. No entanto, outros executivos do Facebook queriam que a empresa mantivesse segredo.
A saída do CSO teria sido decidida em agosto do ano passado, mas postergada para evitar má publicidade. No Twitter, Stamos diz que ainda é chefe de segurança do Facebook, mas não nega que pode sair no fim do ano. Em nota, a empresa disse o mesmo. Ainda não se sabe se ele foi demitido ou se pediu demissão.
Por fim, voltando ao assunto Cambridge Analytica, o The Verge revelou que o Facebook vai organizar uma reunião interna de emergência com todos os seus funcionários nesta terça-feira, 20, para que executivos possam responder às dúvidas dos funcionários sobre o escândalo. Curiosamente, Mark Zuckerberg, o líder da empresa, não vai participar.
A história até aqui
Na última sexta-feira, 16, o Facebook anunciou a suspensão de duas empresas do seu programa de parcerias: a Cambridge Analytica e a sua dona, a Strategic Communication Laboratories (SCL). As duas pagavam para ter acesso a dados de usuários e direcionar anúncios segmentados.
No entanto, descobriu-se que, durante anos, as duas empresas usaram um professor de psicologia da Universidade de Cambridge para adquirir dados sigilosos sem o consentimento dos usuários e sem a expressa permissão do Facebook.
O professor de psicologia em questão é o Dr. Aleksandr Kogan, que criou um aplicativo chamado “thisisyourdigitallife” em 2014. O app foi baixado por mais de 270 mil pessoas, que forneceram dados não só delas, mas também de amigos. Até aqui, o Facebook achava que os dados estavam sendo usados em ambiente acadêmico.
Só que esse professor repassou as informações – adquiridas por ele de maneira legítima, segundo o Facebook – à Cambridge Analytica, o que não é permitido pela rede social. Considerando as informações de amigos dos usuários do aplicativo, o banco de dados coletado por Kogan era de mais de 50 milhões de pessoas.
Quando o Facebook ficou sabendo, em 2015, exigiu que essas informações fossem destruídas. Mas elas não foram, e o Facebook não fez nada para conferir se os dados ainda estavam nas mãos da empresa, além de não ter notificado usuários de que seus dados tinham sido vazados sem o consentimento deles.
O serviço oferecido pela Cambridge Analytica é voltado para políticos. A empresa analisa os dados dos usuários para criar perfis pessoais e entregar anúncios específicos durante campanhas eleitorais. Um dos clientes mais famosos foi o Republicano Donald Trump, que acabou vencendo as eleições.