Entenda o que é o compartilhamento de dados do WhatsApp com o Facebook

Equipe de Criação Olhar Digital23/09/2016 19h38

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Publieditorial

No final de agosto, o WhatsApp anunciou que passaria a compartilhar os dados de seus usuários com o Facebook – que pagou US$ 16 bilhões pelo app em 2014. De acordo com o comunicado oficial emitido pelo WhatsApp na ocasião, o compartilhamento possibilitaria que o Facebook oferecesse melhores sugestões de amigos e mostrasse propagandas mais adequadas.

Obviamente, muitos usuários ficaram incomodados com a mudança. Para isso, o WhatsApp disponibilizou um recurso que, supostamente, impediria que esse compartilhamento acontecesse. No entanto, a assessoria do aplicativo comunicou ao Olhar Digital em seguida que, mesmo que o usuário não quisesse usar esses dados para melhorar sua experiência, eles ainda seriam compartilhados.

Esse anúncio causou certo pânico. Algumas pessoas (e mesmo alguns sites) começaram a divulgar que, com a mudança, o Facebook passaria a ser capaz de “ler” todas as mensagens trocadas pelos usuários no aplicativo – o que não é verdade. A seguir, explicamos melhor o que significa esse compartilhamento de dados.

Criptografia

Antes de mais nada, vale lembrar que desde abril desse ano o WhatsApp passou a oferecer criptografia ponta-a-ponta em todas as conversas. Essa técnica de criptografia significa que as mensagens só são visíveis para os usuários envolvidos na conversa. Nem mesmo o próprio WhatsApp consegue lê-las – tanto que quando a justiça brasileira pede acesso a elas, o aplicativo não consegue responder, o que já fez com que ele fosse bloqueado três vezes por aqui.

Por que isso é importante? Porque se o WhatsApp não consegue acessar o conteúdo de suas mensagens, ele não tem como compartilhá-las com o Facebook. Isso deve ser a prova maior de que os textos, links, fotos e vídeos que você envia por lá não serão “lidos” pela rede social de Mark Zuckerberg.

Vale notar também que o próprio WhatsApp reitera que o Facebook não terá acesso às suas mensagens particulares. Além de garantir que “nada que você compartilha no WhatsApp (…) será visível para outras pessoas no Facebook”, a empresa também usa essa explicação técnica: como as mensagens têm criptografia ponta-a-ponta, apenas o remetente e o destinatário conseguem lê-las

Então o que é que o WhatsApp vai compartilhar com o Facebook?

De acordo com o aplicativo de conversas, apenas informações como “o número de telefone que você registrou ao se cadastrar no WhatsApp, ou a última vez que você usou o serviço” serão compartilhadas. Informações desse tipo são conhecidas como “metadados”.

“Metadados” são informações sobre uma comunicação que não incluem o seu conteúdo. Por exemplo, o número de telefone do remetente e do destinatário, o horário de envio e de recebimento de cada mensagem da conversa, a localização de onde cada mensagem foi enviada (e a localização do destinatário), o tamanho (em kilobytes, por exemplo) de cada mensagem: tudo isso são metadados.

Mas qual a vantagem que o Facebook tira disso?

O WhatsApp alega que informações desse tipo podem ser usadas para combater spam, e isso faz sentido. Afinal, se o WhatsApp detecta que um mesmo número enviou 1000 mensagens de tamanho idêntico para 1000 números diferentes em cinco minutos, ele pode concluir corretamente que aquele número é um bot que está distribuindo spam.

Portanto, se esse número tentar se cadastrar no Facebook, a rede saberá que ele na verdade deve ser um bot que distribui spam, e não um usuário real. Para saber isso, no entanto, ele precisa ter acesso à atividade daquele número no WhatsApp – o que passa a ser possível quando o aplicativo compartilha os dados com a rede.

Além disso, o WhatsApp afirmou que os dados do aplicativo podem gerar sugestões de amigos e propagandas mais precisas no Facebook. Faz sentido também, já que se a rede social identifica que você fala muito com uma pessoa pelo WhatsApp mas não tem ela no Facebook, ela pode sugerí-la como amigo para você. Se o número for associado a uma página de negócios, o Facebook saberá que você tem interesse em produtos ou serviços de determinado tipo, e passará a lhe mostrar anúncios desse tipo.

Então nada de pessoal vai ser compartilhado?

Não exatamente. Metadados podem não incluir o conteúdo das comunicações, mas eles incluem tudo menos isso – o que pode incluir alguns detalhes muito íntimos. Por exemplo, se o Facebook sabe que você mandou 30 mensagens de WhatsApp para um psicólogo entre as 2 e 3 da manhã, ele sabe muito sobre você.

Conforme Edward Snowden afirmou em entrevista à Vice (por volta dos 5’50”), metadados são o mesmo tipo de informação que é produzida quando um detetive particular segue você. Ele pode não saber o que você disse ou fez a cada momento, mas ele sabe onde você esteve, quanto tempo você ficou lá, com quem você encontrou, quanto tempo você conversou e daí por diante. Desnecessário dizer que essa informação pode ser extrmamente pessoal.

Em sua política de privacidade, o WhatsApp afirma que coleta o seu histórico de atividade (com quem você falou e quando) e, em alguns casos, os seus dados de localização. Esses metadados, quando organizados e acessados por outra pessoa, podem sim revelar detalhes pessoais.

Mas eu posso evitar que isso aconteça?

Resumidamente, não. O WhatsApp tem um recurso que, até domingo, permite que você “não utilize os dados de sua conta do WhatsApp para melhorar as suas experiências com anúncios e produtos no Facebook”. Leia atentamente a frase entre aspas: em nenhum momento ela afirma que o compartilhamento de informações não acontecerá.

Se você marcar essa opção, o que acontecerá é que os seus dados continuarão a ser compartilhados com o Facebook, mas você não ganhará absolutamente nada com isso. Isso porque a rede social não usará os seus dados para melhorar as sugestões de amizade e os anúncios que mostra a você. O compartilhamento de informações, no entanto, acontecerá do mesmo jeito.

E se eu não concordar com isso?

Se você não quer que o Facebook tenha acesso aos seus dados do WhatsApp, a primeira opção que vem à mente é mudar de aplicativo de conversas. A seguir, ofereceremos algumas sugestões, mas antes disso, vale a pena pensar: será que vale o transtorno?

Pense em todas as informações que o Facebook já tem sobre você. Se você usa o Messenger no seu smartphone pessoal, ele já tem o seu número de telefone; se o Messenger é um de seus principais meios de comunicação, o Facebook já tem montanhas de metadados sobre você. É possível que, no final das contas, os dados a que ele terá acesso contenham poucas novidades.

Isso posto, existem já excelentes alternativas ao WhatsApp. A principal delas é o Telegram, que ganha milhões de novos usuários cada vez que o WhatsApp é bloqueado no Brasil. O Telegram é o primeiro a ser citado por ser o que tem mais recursos: suporte a áudios, vídeos, gifs, criptografia ponta-a-ponta e bots estão todos nele. Além disso, como ele foi o principal substituto do WhatsApp quando ele foi bloqueado por aqui, é possível que muitos de seus amigos já estejam nele.

Caso a sua principal preocupação seja criptografia, a primeira recomendação é o Signal. O “aplicativo favorito de Edward Snowden” tem a privacidade e o sigilo como foco principal, e também inclui muitos dos recursos que os outros apps do tipo oferecem.

Se o Snowden gosta do Signal, por outro lado ele não gosta do Allo, o recém-lançado aplicatico de conversas do Google. Isso porque o Allo, por padrão, armazena todas as suas mensagens nos servidores da empresa. No entanto, esse armazenamento de dados é “retribuído” na forma de uma série de recursos interessantes, como a possibilidade de “conversar” com o Google a qualquer momento.