Entenda como age o nitrato de amônio, possível causador de explosão no Líbano

Acidente que matou mais de 100 pessoas se deu pelo aquecimento de 2.750 toneladas da substância; efeitos foram sentidos a quilômetros de distância
Davi Medeiros05/08/2020 18h57, atualizada em 05/08/2020 19h17

20200805034358

Compartilhe esta matéria

Ícone Whatsapp Ícone Whatsapp Ícone X (Tweeter) Ícone Facebook Ícone Linkedin Ícone Telegram Ícone Email

Chama atenção a magnitude devastadora da explosão ocorrida no Líbano na terça-feira (4). O acidente, que matou mais de 100 pessoas e estourou vidraças a quilômetros de distância, pode ser visto em imagens compartilhadas mundo afora.

As informações disponíveis até o momento apontam que o responsável pelo estrago foi o nitrato de amônio, substância inodora presente em fertilizantes. O que muita gente não entendeu é de que modo esse composto químico pode causar estragos tão violentos.

O nitrato de amônio, representado pela fórmula NH4NO3, é um sólido branco estável à temperatura ambiente e muito solúvel em água. O professor Reinaldo Francisco Teófilo, do Departamento de Química da Universidade Federal de Viçosa (UFV), explicou ao Olhar Digital que, quando exposto a altas temperaturas, este sólido se decompõe, resultando em gases que se expandem de maneira veloz.

Por esse motivo, o composto deve ser armazenado obedecendo a critérios rígidos de segurança. Ele não pode, por exemplo, ser confinado em grandes quantidades ou ficar próximo a fontes de calor.

O que aconteceu na capital do Líbano foi justamente o contrário: segundo o primeiro-ministro do país, Hasan Diab, o armazém continha 2.750 toneladas de NH4NO3, e, momentos antes da explosão, havia um incêndio ocorrendo próximo ao local onde a substância estava acomodada. Ao ser aquecida, ela começou a se decompor, desencadeando a seguinte sequência de reações químicas:

  1. NH4NO→ N2O + H2O
  2. N2O → N2 + O2

“Houve uma grande liberação de energia pois a decomposição do nitrato de amônio é exotérmica [isto é, resulta em emissão de calor]”, afirma Teófilo. “Como a quantidade de material era muito grande e ele estava confinado inadequadamente, a expansão dos gases resultantes ocorreu em poucos segundos, gerando aquela nuvem”.

A explosão devastou o entorno do armazém, derrubando pessoas e arrancando janelas. As estruturas portuárias ao redor do local foram substituídas por uma cratera de 10 metros de diâmetro e dois de profundidade.

Teófilo destaca, também, que deve irromper chuva ácida na região durante os próximos dias, uma vez que é provável que as nuvens estejam carregadas com ácido nítrico.

beirute.jpg

Estragos no Líbano após explosão possívelmente causada por nitrato de amônio. Imagem: Reprodução/AJ+

Histórico de explosões

O nitrato de amônio já foi responsável por outros acidentes de grande proporção. Em 1947, um navio carregava cerca de 2.300 toneladas do composto próximo ao porto de Texas City, nos Estados Unidos. Bastou uma guimba de cigarro para desencadear uma explosão violenta, que matou mais de 500 pessoas e cujo efeito foi sentido em até 16 quilômetros de distância.

O nitrato de amônio é matéria-prima recorrente, também, das bombas detonadas em atentados terroristas. Em 2011, oito pessoas morreram em Oslo após o extremista Anders Breivik explodir um carro utilizando o composto.

Em 1995, durante um conhecido atentado ocorrido em Oklahoma City, os terroristas Terry Nichols e Timothy McVeigh utilizaram a mesma substância para explodir um edifício. Na ocasião, 680 pessoas ficaram feridas e 168 morreram.

Colaboração para o Olhar Digital

Davi Medeiros é colaboração para o olhar digital no Olhar Digital