Todos os escândalos de privacidade e vazamento de dados protagonizados pelo Facebook nos últimos anos estão cobrando seu preço. A empresa tem alguns processos acumulados contra si, e tem tentando se defender como pode das acusações, e, em alguns casos, a defesa é tão ávida que acaba gerando algumas situações curiosas.

É o caso de um processo registrado contra o Facebook em dezembro do ano passado em Washington, capital dos EUA, referente ao caso da Cambridge Analytica. Nesta semana, o Facebook publicou uma resposta que visa negar “toda e qualquer alegação” no documento do processo. E isso inclui algumas declarações bastante triviais sobre o funcionamento da rede social. Por exemplo: o Facebook nega que você possa fazer amigos no Facebook.

“Para começar a usar o site do Facebook, um consumidor primeiro cria uma conta no Facebook. O consumidor pode adicionar outros consumidores do Facebook como “amigos” e, ao acumular amigos no Facebook, o consumidor constrói uma rede social no site do Facebook”, diz o parágrafo 11 do processo. Em sua resposta, a empresa “nega todas as alegações no parágrafo 11”.

Em outros momentos absurdos, o processo também menciona no parágrafo 10 que “o site do Facebook permite que consumidores criem uma rede social com outros consumidores do Facebook e compartilhem informação dentro da rede. Ele está entre os sites mais acessados do mundo e tem mais de 2 bilhões de usuários ativos no mundo. Centenas de milhares de residentes da capital estão entre os consumidores do Facebook”.

São fatos simples sobre a plataforma, mas mesmo assim a empresa “nega as alegações do parágrafo 10”, embora admita “que opera o site www.facebook.com e o aplicativo móvel Facebook, que residentes da capital tenham criado contas no Facebook, e que até 31 de março de 2019, tenha mais de 2 bilhões de usuários”. Ou seja: todas as alegações do parágrafo estão corretas, mas o Facebook mesmo assim as nega.

O processo também toca em temas mais delicados além de estabelecer o óbvio sobre a rede social, e o Facebook também nega todas as outras acusações. Talvez não seja a estratégia mais eficaz de defesa, uma vez que, em outras situações, o próprio CEO Mark Zuckerberg já admitiu publicamente os problemas relacionados ao caso Cambridge Analytica: tanto em depoimento a congressistas nos EUA quanto em posts em sua página na rede social.

Para concluir sua defesa, a companhia afirma que seus usuários “jamais foram enganados pelo Facebook” e que quaisquer violações legais mencionadas na acusação foram causadas parcial ou totalmente por terceiros (no caso, a Cambridge Analytica). Na hipótese de o tribunal concordar com a defesa, os usuários podem perder qualquer esperança de reparação por danos, já que a Cambridge Analytica já fechou as portas e declarou falência em 2018.