Em meio a uma extensa investigação sobre machismo sistêmico dentro da Uber, surgiu um e-mail do CEO da empresa, Travis Kalanick, que mostra um pouco da cultura da empresa em 2013. O documento, em inglês, foi obtido e reproduzido na íntegra pelo Recode.
O comunicado é uma série de perguntas e respostas sobre o que fazer e o que não fazer na festa comemorativa que a Uber deu em Miami em 2013. Ele tem como título “ä¹Â Info: URGENTE, URGENTE – LEIA ISSO AGORA, SE NÃO”. O símbolo chinês ä¹Â, que significa o número nove, “tem um significado interno na Uber, mas não é algo que discutimos externamente”, escreveu o executivo.
Esse símbolo, conforme usado pela empresa, refere-se ao seu objetivo de se tornar uma empresa de um bilhão de dólares (1 bilhão pode ser escrito como 109, por isso a importância do nove). A Uber atingiu essa meta pouco antes da festa. Por isso, Kalanick sugere aos funcionários: “Divirtam-se para cara**o! É uma celebração! Todos nós merecemos”. Antes, no entanto, ele avisa: “É melhor você ler isso ou eu vou chutar sua bunda”.
Sexo
Depois dessa introdução, Kalanick faz uma lista do que seus funcionários devem ou não fazer na comemoração. A primeira delas é: “Nenhuma vida deve começar ou terminar na ä¹Â [a festa]”. Em seguida, ele ressalta que a empresa não tem “um orçamento para pagar a fiança de ninguém na cadeia. Não seja essa pessoa”. Ele também sugere que os funcionários “não joguem barris de cerveja do topo de prédios altos”.
Quanto ao sexo entre funcionários, Kalanick ordena: “Não faça sexo com outro funcionário da Uber A NÃO SER QUE a) você tenha pedido àquela pessoa por aquele privilégio e ela tenha respondido com um enfático ‘SIM! Eu farei sexo com você!’ E b) os dois (ou mais) de vocês não trabalhem na mesma cadeia de comando”.
Kalanick continua: “Sim, isso significa que Travis [ele mesmo] ficará celibatário nessa viagem #CEOLife #FML”. “FML”, no caso, é uma sigla que significa “Fuck My Life”, e que pode ser traduzida para algo como “vida de merda”.
Drogas
Finalmente, quanto a “drogas e narcóticos”, o CEO da empresa diz que elas “não serão toleradas a não ser que você tenha a licença médica apropriada”. Ele também orienta seus funcionários a não falar com ninguém da imprensa e avisa que qualquer pessoa que vomitar durante a festa terá que pagar uma multa de US$ 200.
Sobre o que fazer, Kalanick dá dicas mais discretas, como conhecer outras pessoas que trabalham na empresa e compartilhar músicas legais. Mas ele ressalta que “o transporte de Miami é uma mer*a” e que os funcionários da empresa devem influenciar o máximo possível de motoristas para “fazer dessa cidade um lugar ainda melhor”.
Impressões
Duas empresas de direito que estão investigando o machismo sistêmico da Uber tiveram acesso a esse comunicado e estão avaliando se ele ajudou a criar um ambiente propício a machismo e assédio sexual dentro da empresa. Segundo fontes ouvidas pelo Recode, Kalanick tinha sido avisado para não enviar esse comunicado por causa do tom excessivamente juvenil dele. Alguns funcionários entendiam que criar uma empresa global exigia do CEO um tom mais maduro.
A recente investigação sobre a qual a Uber está passando já resultou na demissão de mais de 20 funcionários por denúncias relacionadas a machismo ou assédio sexual. Uma das demissões envolveu até mesmo um caso em que um motorista estuprou uma passageira.
Em defesa de Kalanick, por outro lado, as fontes ressaltam que, embora ele tivesse orgulho e falasse com frequência sobre esse e-mail, suas outras comunicações sobre festas da firma foram bem mais maduras.