A situação no mínimo conturbada da política do Brasil não passou despercebida por Edward Snowden, o homem que ganhou notoriedade por delatar o escândalo de espionagem internacional orquestrado pela NSA, a Agência de Segurança Nacional do governo dos Estados Unidos. Snowden percebeu a ironia no grampo que levou à divulgação de gravações de conversas telefônicas entre a atual presidenta Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula.
Para entender o caso é preciso voltar alguns anos no passado. Quando o escândalo da NSA foi revelado, descobriu-se que o governo dos EUA estava espionando as autoridades brasileiras, incluindo a atual presidenta. A descoberta gerou uma pequena crise diplomática, acelerou a votação do Marco Civil da Internet e gerou profundas discussões sobre criptografia e segurança das informações do governo e segredos de estado.
Voltemos para 2016, e uma conversa telefônica entre a presidência da República e Lula é grampeada pela Justiça, o que deixa claro que ela ainda está fazendo chamadas sem a devida criptografia. Snowden comentou o caso no Twitter.
“Going dark” is a fairy tale: 3 years after @dilmabr wiretap headlines, she’s still making unencrypted calls. #opsec pic.twitter.com/ldxCsS4JdO
— Edward Snowden (@Snowden) 17 de março de 2016
Para quem não entende inglês: “‘Ficar no escuro’ é um conto de fadas: 3 anos depois das notícias sobre os grampos a Dilma Rousseff, ela ainda está fazendo chamadas sem criptografia”, diz Snowden. A expressão “going dark”, ou “ficar no escuro” é usada no sentido de se proteger para evitar o monitoramento como os EUA faziam (ou ainda fazem?).
Explicando: mesmo que o grampeado tenha sido o ex-presidente Lula e não a atual chefe de Estado, se a conversa entre os dois fosse criptografada, a Justiça provavelmente nunca conseguiria desembaralhar as conversas para descobrir seu conteúdo. Isso provavelmente significa que a NSA ainda pode fazer o que fazia antes.