O domínio .br acaba de se tornar balzaquiano: passaram-se 30 anos desde que, em 18 de abril de 1989, Jon Postel, da Autoridade para a Atribuição de Números para a Internet (Internet Assigned Numbers Authority – IANA), o delegou ao grupo que operava redes acadêmicas na Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

À época, essa era uma conquista importante. “Postel considerou que a comunidade brasileira já tinha maturidade para administrar o .br e o delegou”, lembra Demi Getschko, diretor-presidente do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br), que era um dos integrantes daquele grupo. O domínio foi usado, inicialmente, para identificar máquinas no ambiente acadêmico: por isso, os registros eram poucos e feitos manualmente.

A criação do .br ocorreu apenas cinco anos após o estabelecimento dos primeiros domínios de topo (Top Level Domains – TLDs): em 1984, foram definidas as terminações “.com”, “.net” e “.org”, entre outras. Esse sistema de nomes de domínios (Domain Name System – DNS) foi criado para facilitar o uso da internet, já que, antes dele, eram usados números. Imagine se, para cada site que você visita hoje, fosse necessário decorar uma sequência de números?

Domínio de sucesso

O .br é operado pelo NIC.br e, hoje, é um dos domínios de topo para código de país (country-code Top Level Domain – ccTLD) mais bem-sucedidos do mundo. “Um dos motivos para isso é o fato de que fomos rápidos em trazer a internet para o país”, diz Getschko. “Com isso, o mercado floresceu. Se observarmos a linha do tempo da internet no mundo, a do Brasil é muito semelhante. Acompanhamos tudo sempre de muito perto.”

Dois anos depois do estabelecimento do .br, em 1991, já foi criada uma estrutura de subdomínios. Vieram, então, o gov.br, o com.br, o net.br, o org.br e o mil.br. Esses nomes são destinados, respectivamente, ao governo, a empresas, a organizações sem fins lucrativos e às forças armadas. Não é à toa que, hoje, em termos de máquinas ligadas a um domínio, o Brasil só perde para o Japão e para a Alemanha. “O .br é um domínio denso. Como não há espaço para especulação, quem registra um nome aqui o faz para efetivamente usar.”

Com a expansão da internet no país, a partir do fim de 1994, o registro de domínios .br cresceu rapidamente. Enquanto em 1995 foram registrados 851 nomes, em 1996, o número atingiu 7.507 registros. Dez anos depois, em 2006, chegou-se a 1 milhão de domínios registrados. Em 2010, já eram 2 milhões e, em 2012, 3 milhões. Agora, no aniversário de 30 anos do .br, já são mais de 4 milhões de nomes registrados — e isso coloca o .br entre os maiores do mundo.

No Brasil, 92% das empresas que têm site usam o domínio .br. Isso é um dos motivos pelos quais, entre os cerca de 300 domínios de país que existem, o .br é o sétimo mais popular — com o diferencial de ser restrito a indivíduos e empresas do país (é preciso ter um CPF ou um CNPJ para registrar um nome por aqui). Além disso, há mais de 120 opções de subdomínios: para interesses específicos, profissionais liberais, que identificam cidades e assim por diante.

Diferenciais importantes

O .br usa, como recursos de segurança, a autenticação em duas etapas, a resolução de DNS com garantia de segurança e a criptografia. Trata-se, ainda, de um sistema bastante resiliente, com inúmeras cópias de servidores no Brasil, nos EUA, na Europa e na Ásia. O preço de registro é um dos mais baixos do mundo: são R$ 40 por ano desde 2017, com descontos progressivos quando são contratados períodos maiores.

Isso é possível porque, no Brasil, o registro de domínio não dá vantagens a intermediários como acontece em outros países. “Somos ligados diretamente ao usuário final. É interessante que as restrições que estabelecemos poderiam afastar os interessados, mas elas foram muito bem vistas.” Getschko explica que o .br opera o chamado registro grosso (ou thick registry) — isso quer dizer que os dados registrados estão sempre com o NIC.br e o acesso a eles é bastante fácil.

Em termos técnicos, o domínio .br tem grande estabilidade. “Ele nunca saiu do ar”, orgulha-se Getschko. Se saísse, levaria consigo bancos, órgãos do governo, empresas, instituições acadêmicas e toda a estrutura da internet comercial brasileira.

Outra característica do NIC.br é o fato de que o órgão investe as receitas obtidas em ações para melhorar a internet no Brasil. Uma delas é o recurso de redirecionamento de página implantado recentemente: com ele, os usuários podem escolher uma forma estável para se identificar na internet e ainda conduzir seu público a redes sociais ou outros endereços sem perder a identidade original.

O .br é um patrimônio importante para o Brasil. O brasileiro é bastante aberto ao uso de novas tecnologias e abraçou a internet com vontade desde o início. Cada vez mais, entretanto, é preciso ter cautela ao usá-la. “O benefício da internet é muito maior do que eventuais problemas que ela possa trazer. Ainda falta maturidade, mas vamos ter de nos adaptar.”