Neandertais já faziam ‘funerais’ com flores há 55 mil anos

Um esqueleto foi encontrado no Iraque com material vegetal no seu entorno. Pesquisas sugerem cada vez mais que esses ancestrais humanos eram pessoas sensíveis e artísticas, e não brutamontes
Renato Mota18/02/2020 21h02

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Ritos funerários são um importante elemento antropológico, que falam muito sobre como uma cultura encara a morte – e o que vem depois. Novas escavações em uma região conhecida por ter sido ocupada pelos nossos ancestrais Neandertais revelaram um esqueleto cujo enterro pode ter sido decorado com flores.

“É muito difícil tentar inferir o que [os neandertais] estavam realmente pensando”, afirama a arqueóloga da Universidade de Cambridge, Emma Gomeroy. “Mas claramente há algum processo de pensamento significativo além de se livrar de um corpo em decomposição”, completa.

O local, a caverna Shanidar, no Curdistão iraquiano, vem sendo explorada desde a década de 1950, quando o arqueólogo Ralph Solecki descobriu restos e ferramentas dos neandertais. Um dos indivíduos encontrados nas escavações, chamado Shanidar 4, estava cercado por aglomerados de pólen, e os arqueólogos se perguntavam se outros neandertais haviam intencionalmente enterrados com flores nos túmulos.

A nova escavação na caverna, feita com modernas técnicas arqueológicas, revelou outro esqueleto neandertal que parece ter sido intencionalmente enterrado com matéria vegetal. Os restos mortais compreendiam a parte superior do corpo de um indivíduo, incluindo crânio esmagado, costelas e mão esquerda colocadas sob a cabeça, provavelmente a mesma posição do indivíduo na morte. Os pesquisadores dataram os restos mortais de 45 mil a 55 mil anos.

As descobertas feitas na caverna Shanidar mudaram a maneira como as pessoas imaginavam as sociedades neandertais. Entre 1951 a 1960, a equipe de Solecki encontrou dez conjuntos de restos mortais, incluindo homens, mulheres e crianças – alguns pareciam ter vivido com deficiências graves, demonstrando apoio social e carinho entre os ancestrais dos humanos.

Porém, embora os restos mortais de Shanidar 4 tenham sido encontrados perto de grãos de pólen, arqueólogos questionaram a teoria de que o grupo havia dado a seus mortos uma espécie de ritual de funeral. Pesquisadores achavam que o pólen pudesse ser fruto de uma contaminação mais recente (os arqueólogos transportaram os achados escavados em cima de um táxi), ou talvez levado por animais. Para os estudiosos, fazia sentido imaginar que, se esse grupo vivesse juntos em uma caverna, livrar-se de um cadáver fedorento enterrando-o era uma decisão lógica, sem atribuir nenhum significado simbólico.

Em 2014, pesquisadores voltaram a escavar na caverna, para entender melhor como as descobertas de Solecki estavam posicionadas e determinar as datas dos sedimentos ao seu redor. Só não esperavam encontrar um novo neandertal próximo ao local original de Shanidar 4. Com base no posicionamento, supuseram que provavelmente pertencia a um dos neandertais das escavações de Solecki, talvez Shanidar 6.

Esses novos restos também tinham pólen em volta deles, mas não havia tocas de roedores perto dos ossos para indicar que o material vegetal fora arrastado. Essa evidência preliminar sugere, mais uma vez, que os neandertais da caverna enterraram intencionalmente seus mortos com flores. Pomeroy disse ao Gizmodo que sua equipe espera combinar técnicas mais avançadas e até análises antigas de DNA para confirmar a descoberta.

Via: Gizmodo

Editor(a)

Renato Mota é editor(a) no Olhar Digital