O diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, afirmou à Folha de S.Paulo que a vacinação contra a Covid-19 pode começar em janeiro no estado de São Paulo. A vacina em questão é a Coronavac, produzida pela farmacêutica chinesa Sinovac Biotech, que passa atualmente pela última etapa de testes clínicos. 

Dimas explica que a previsão “não é otimista demais”, visto que o cenário é favorável. Segundo ele, a vacina avançou rapidamente porque foi desenvolvida primeiro contra a Síndrome Respiratória Aguda Grave (Sars), antes da pandemia atual. “Com o coronavírus, foi uma adaptação, por isso ela foi feita em três, quatro meses”, disse Covas. “É uma vacina que já está pronta, esperando autorização”.    

Seguindo o ritmo atual, os testes no Brasil devem ser concluídos em setembro, e, em outubro, o plano é que o imunizante já tenha sido encaminhado à Anvisa para aprovação. Até o fim do ano espera-se que 15 milhões de doses já estejam prontas para aplicação. 

“As vacinas já estão sendo produzidas”, afirmou. “É uma produção de risco, justamente para ganhar tempo antes da comprovação de eficácia”. 

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Vacina Coronavac, da farmacêutica chinesa Sinovac. Imagem: Divulgação/Instituto Butantan 

De acordo com Covas, a chance de sucesso dos testes é muito grande. Em estudo envolvendo 744 pessoas, a vacina da Sinovac teve uma indução de imunidade acima de 90%. A nível de comparação, a eficácia da vacina contra a gripe varia entre 40% e 50%.

Os grupos prioritários para aplicação do imunizante serão semelhantes aos da vacina contra a gripe: pessoas idosas, com comprometimento imunológico ou comorbidades, e profissionais da saúde e segurança. 

Possíveis desafios 

Para controlar definitivamente a circulação da doença, é necessário que a adesão da população seja superior a 95%. O diretor do Butantan não se preocupa com o movimento antivacina, mas reconhece que as fake news em relação à China poderiam atrapalhar o plano de imunização.  

“Esse negócio de falar da China não tem o menor sentido. A Apple está lá, grandes aparelhos, aplicativos são feitos na China”, declarou. “É uma potência mundial em termos de ciência e tecnologia”. 

Contudo, o médico não espera que esse seja um obstáculo. Ele justifica o otimismo com números: em apenas uma semana, o pré-cadastro para o recebimento da vacina registrou 1,5 milhão de inscrições. 

Covas também descarta a possibilidade de faltarem seringas para a aplicação em massa. Ele explica que o imunizante da Sinovac já vem com seringa, e que, mesmo se não viesse, não existiriam dificuldades lojísticas para fazê-lo circular, uma vez que o Brasil tem o maior programa de vacinação pública do mundo. 

A entrevista foi concedida à Folha antes de a Rússia anunciar o registro de sua vacina. De qualquer forma, o estado de São Paulo não deve participar da produção desta. Em nota ao jornal, o Instituto Butantan disse que já está “totalmente empenhado na pesquisa da Coronavac”. 

 

Via: Folha de S.Paulo